O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Cláudio Lamachia, criticou na terça-feira (30) os encontros reservados que Michel Temer teve com o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, sem a presença do ministro da Justiça, Torquato Jardim, a quem o diretor é subordinado.
“As liturgias de cargos como o do presidente da República, como o do diretor-geral da Polícia Federal, são importantíssimas frente à própria sociedade, porque eles são agentes públicos, eles são agentes políticos, notadamente num momento como este onde o presidente da República é investigado a partir da própria Polícia Federal”, disse.
Temer teve pelo menos duas reuniões com Segóvia, sem a presença do ministro da Justiça. A primeira foi no dia 15 de janeiro no gabinete presidencial e não estava na agenda oficial. Esse encontro ocorreu três dias antes do presidente entregar as respostas às 50 perguntas feitas pela PF no inquérito que apura se ele recebeu propina durante as negociações de um decreto sobre o setor de portos.
O segundo encontro foi na segunda-feira (29), também no Palácio do Planalto, com registro na agenda. Essa reunião precede outra importante decisão da PF, pois o interrogatório do presidente foi uma das últimas etapas do inquérito. Agora, o delegado Cleyber Malta Lopes, que preside a investigação sobre o decreto dos portos, vai decidir se Temer cometeu algum crime.
“A presença do diretor-geral da Polícia Federal numa audiência reservada com o presidente da República traz para a sociedade uma ideia que certamente não é a que todos nós gostaríamos de ter, de independência, de transparência, de isenção. Isto não é bom notadamente para as instituições”, avaliou Lamachia.
Segundo o presidente da OAB, o ministro da Justiça deveria ter participado dos dois encontros no Palácio do Planalto, já que é o chefe direto do diretor da Polícia Federal.
Fernando Segóvia alegou que as reuniões discutiram um projeto sobre Polícia Federal fardada, que reforçaria o policiamento ostensivo nas fronteiras. Porém, outro episódio que lança mais dúvidas sobre o caso: a troca do comando da Delegacia da PF em Santos no final de 2017, no curso da investigação. O porto de Santos é justamente onde atua a Rodrimar, empresa que Temer é acusado de ter favorecido.