“Os quadros do partido que estão no governo foram escolhidos pelo próprio presidente Bolsonaro; Não vamos participar dessa política de negociação de espaços”, explicou o prefeito de Salvador e presidente da legenda
O prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, afirmou que o DEM não participará do leilão de cargos que está sendo feito por Jair Bolsonaro.
“O Democratas deixou claro ao presidente da República desde o processo de transição em 2018 que não participaria da indicação de cargos e não aceitaria discutir espaços no governo”, ressaltou.
Em entrevista ao Estadão, o prefeito de Salvador disse que o chamado “centrão” apoia, em troca de cargos, qualquer governo e que o DEM não compõe o grupo. “Me inclua fora dessa. Nós não integramos o centrão”.
“Os quadros do partido que estão no governo foram escolhidos pelo próprio presidente Bolsonaro, que quando quis também tirou, a exemplo do ministro (da Saúde, Luiz Henrique) Mandetta. O presidente o demitiu e não teve que dar nenhuma satisfação ao partido, como não deu quando na hora que escolheu. Não vamos participar dessa política de negociação de espaços”.
“Existe um jogo de interesses muito claro de lado a lado que torna conveniente a relação, mas ela não é baseada em crenças comuns e em princípios. Portanto, não tem a solidez necessária para a articulação de um governo com o Congresso Nacional”.
Bolsonaro se reuniu com os presidentes do PP, PL, Republicanos, entre outros, para negociar a entrega de cargos em troca de apoio no Congresso Nacional. Ele já entregou uma diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para uma pessoa ligada ao PL e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) para aliado de Ciro Nogueira (PP) e de Arthur Lira (PP-AL).
ACM Neto disse ainda que “a democracia é inegociável. Qualquer movimento que atentar contra a democracia, nós estaremos contra”.
O presidente nacional do DEM disse que sempre respeitou “a liberdade de opinião e de manifestação, independente de ser esquerda ou direita”. “Desde que sejam pacíficas e não preguem qualquer coisa que possa colocar em risco a democracia”, disse o prefeito, referindo-se aos bolsonaristas que atacaram o STF.
COVID-19
Para ele, a crise sanitária pelo coronavírus é reforçada pela crise institucional causada por Jair Bolsonaro. “Nós estamos vivendo uma crise de saúde pública sem precedentes. Estamos caminhando para a maior recessão das últimas décadas. E para tornar o cenário mais complicado temos questionamentos sobre a estabilidade institucional que não poderiam existir nesse momento. Se impôs um antagonismo entre o governo federal e a grande maioria dos governadores”.
ACM Neto defendeu o distanciamento social e criticou a “visão” de Jair Bolsonaro de que é mais importante salvar a economia do que salvar vidas.
“Em relação a pandemia eu tenho uma visão antagônica à do presidente. Defendi desde o princípio a adoção de medidas de isolamento social. Não era razoável viver a polêmica economia versus saúde pública”.
“Eu, como prefeito, acho que seria mais útil ao país que o governo tivesse coordenando ações com Estados e municípios. O Ministério da Saúde tinha que cumprir esse papel. Não gosto de ficar fazendo avaliação de governo dando nota porque não sou jurado. O governo não assumiu seu papel de grande articulador”.