O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que “não é possível substituir a soberania de um povo para decidir seu futuro”, referindo-se de forma crítica à intervenção da Otan em 2011 na Líbia, que contou com a participação da França, na época governada pelo presidente Nicolas Sarkozy. As declarações foram proferidas em Túnis, capital da Tunísia, na segunda visita de Macron àquele país no dia 1º.
Em discurso ao Parlamento tunisiano, o presidente francês atribuiu à Europa e aos Estados Unidos, envolvidos no processo, a responsabilidade pela situação instável no país africano, hoje dividido entre vários governos e milícias, parte delas ligadas ao Estado Islâmico e à al-Qaeda.
“Não esqueço que vários decidiram que era preciso acabar com o dirigente líbio, sem que houvesse, no entanto, um projeto para o futuro”, criticou Macron. E continuou: “Imaginar que pudéssemos substitir a soberania de um povo para decidir seu futuro… Nós coletivamente afundamos a Líbia, depois destes anos, nessa desordem, sem poder controlar a situação”. Na verdade, mesmo que houvesse “um projeto para o futuro” não mudaria o caráter daquilo que os EUA fizeram na Líbia, junto com a Otan: um monstruoso crime contra a Humanidade.
A ação militar, aprovada na ONU sob o argumento de que era preciso “proteger civis da repressão do regime” durante a chamada Primavera Árabe, revelou-se logo após a aprovação no Conselho de Segurança, o que realmente era: uma operação de mudança de regime, com a deposição e morte do líder Muamar Kadafi.
Sobre a situação da Tunísia, Macron destacou que “reformas socio-econômicas são indispensáveis” para a nação que deu o pontapé inicial para a Primavera Árabe há sete anos, quando mobilizações populares iniciadas com a imolação de um jovem vendedor ambulante culminaram na deposição do então dirigente Zine El-Abidine Ben Ali. Certamente as opiniões críticas de Macron sobre o papel da Otan na Líbia apontam numa direção certa. Mas esperemos que as “reformas sócio-econômicas”, segundo ele, “indispensáveis” para a Tunísia, não se inspirem na “reforma” da legislação trabalhista imposta aos franceses já no seu governo.
S. SILVA