A saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação, na última quinta-feira (18), foi celebrada pelos governadores de São Paulo, Pernambuco e Ceará. Na visão dos governos estaduais é necessário que os retrocessos provocados durante os 14 meses em que o olavista ocupou o cargo sejam reparados e que a Educação receba a devida atenção por parte do governo federal.
Para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a passagem do bolsonarista pelo MEC foi a pior já vista no Brasil. “O pior Ministro da Educação do Brasil se preocupou mais em ofender do que educar. Misto de ideologia e incompetência, a gestão de Weintraub no MEC significou anos de atraso em uma das áreas mais sensíveis para o futuro do País. Vergonhoso”, afirmou o tucano.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), destacou o baixo nível da gestão Weintraub ao desejar que o próximo líder da pasta olhe para ela com a seriedade necessária. “Vencer a pandemia é prioridade agora. Mas para o país ter algum rumo, que aponte o futuro, só com a Educação como eixo. Que o governo federal, enfim, comece a olhar o setor com a seriedade devida. Que o MEC realmente mude. Há vários bons exemplos nos estados brasileiros”, apontou Câmara.
Já o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), além de também exigir seriedade, apontou Weintraub como um retrocesso da educação brasileira. “Torço muito para que a educação brasileira volte a ter a atenção, o respeito e o valor que merece. Que os graves retrocessos dos últimos meses sejam reparados de forma urgente. Nenhum país se desenvolve e supera desigualdades sem colocar a educação como prioridade absoluta”, ressaltou Camilo.
De fato, a gestão de Weintraub a frente do Ministério da Educação foi repleta de retrocessos e ataques. Listamos esses absurdos, em ordem cronológica, para que você, nosso caro leitor, relembre a escalada do desmonte da educação brasileira promovida pelo bolsonarista.
Em 30 de abril de 2019, estudantes, professores e apoiadores da Educação tomaram as ruas pelo país em manifestações contra corte de investimento na área após o ministro acusar universidades federais de fazer “balbúrdia” e não ciência. Esse foi o dia em que Weintraub anunciou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que o MEC cortaria verbas para UFF, UnB e UFBA. Segundo ele, a decisão valia para universidades que “em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia”. Os cortes, de mais de 30% na verba de custeio, atingiram todas as universidades que ficaram sem condições de manter as aulas, obrigando o governo a voltar atrás em parte do corte.
Entre janeiro e setembro, o MEC e a Capes já fizeram três anúncios de cortes em bolsas de pós-graduação, mestrado e doutorado. Durante o período, foram congeladas 14 mil bolsas da Capes para novos pesquisadores. O corte nas bolsas foi duramente criticado, pois pode resultar num atraso de décadas no desenvolvimento científico brasileiro.
O repúdio aos cortes no orçamento das universidades e nas bolsas de pesquisa gerou uma gigantesca onda de manifestações em todo o país. Em centenas de cidades, milhões de pessoas foram às ruas e participaram dos protestos convocados pelas entidades estudantis.
FUTURE-SE
Em meio à crise causada pelos cortes na verba das instituições federais de ensino, Weintraub apresentou, sem qualquer discussão com a sociedade, um modelo de gestão privada para as universidades federais.
O ataque à gestão e à autonomia das instituições foi intitulado como “Future-se”. Segundo Weintraub, a adesão ao programa seria opcional, mas as universidades que aderissem ao programa teriam o repasse de verbas normalizado.
Numa tentativa de retaliação contra as entidades estudantis brasileiras, o governo Bolsonaro lançou, por medida provisória, a chamada ID Estudantil, um aplicativo de celular que permitia o direito à meia-entrada.
Durante o lançamento da ID Estudantil, Bolsonaro e sua claque deixaram claro que a MP tinha como objetivo perseguir a UNE e demais entidades que têm o direito de emissão das carteiras de meia-entrada garantido por lei.
Com um firme repúdio do Congresso, a medida provisória não foi votada e perdeu a validade.
Desde 2019, Weintraub agiu para sabotar a discussão sobre o novo modelo do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). O projeto para a criação do Fundeb permanente está em tramitação e não houve consenso entre parlamentares e governo sob a gestão de Weintraub. O então ministro retirou o apoio da proposta que previa Fundeb permanente com 40% de recursos da União. O MEC defende aumentar o repasse de 10% para 15%, mas não apresentou qualquer projeto para a discussão.
IMPRECIONANTE
Pouco tempo depois, o então ministro mostrou sua intelectualidade duvidosa. Em 7 de maio de 2019, ao querer dizer o sobrenome do escritor Franz Kafka, ele pronunciou “Kafta”, iguaria árabe, enquanto falava em audiência no Senado Federal.
Depois da kafta, Weintraub virou meme na internet, em 27 de junho de 2019, ao fazer uma publicação no Twitter para chamar militantes do PT e simpatizantes do partido de asseclas, mas escreveu acepipes, que significa “aperitivo” ou “petisco”.
Em 28 de junho de 2019, Abraham Weintraub usou o Twitter para defender Bolsonaro no caso dos 39kg de cocaína encontrados em avião da FAB, após uma viagem do presidente. O ex-ministro comparou a situação com os ex-presidentes Lula e Dilma. “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”, havia postado. Ao rebater as críticas, Weintraub se defendeu dizendo que aquele era seu perfil: “Caso queiram informação institucional, sigam o do MEC”.
Em entrevista coletiva no dia 4 de outubro de 2019, o ministro da Educação defendeu que punições fossem implementadas a alunos com nota baixa no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), uma avaliação dos cursos de ensino superior. Para Weintraub, o estudante que acertasse 10% das questões não deveria ter direito a se formar, alegando que quem acerta menos de 20% atua para “sabotar” a prova. A fala foi rechaçada por entidades e sindicatos da área educacional.
Após dizer, sem provas, que existem plantações de maconha e produção de drogas sintéticas em universidades federais, Weintraub foi chamado à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos, em 11 de dezembro de 2019, e reafirmou a falácia alegando que elas são um reflexo do consumo de entorpecentes dentro instituições de ensino. Ele disse ainda que traficantes encontram “refúgio” nos campi, onde a PM não pode entrar.
A lista de erros ortográficos de Abraham Weintraub cresceu no dia 8 de janeiro, quando ele publicou no Twitter uma frase que continha a palavra “impressionante” escrita com a letra “c”. O “imprecionante”. Em pouco tempo, o post foi apagado, mas a desmoralização fica, não tem jeito. Ele cometeu outros, menos bizarros, mas que valem registrar. Weintraub escreveu “suspenção” e “paralização”, chamando a atenção por terem sido cometidos pela pessoa à frente do Ministério da Educação.
CORONAVÍRUS
No dia 6 de abril, Weintraub atacou a China, em um post no Twitter, ridicularizando o sotaque de chineses falando português. Ele foi acusado de racismo pela embaixada da China, que repudiou a publicação.
A pandemia do coronavírus afeta diversos setores. Com a Educação não é diferente. Entrou em debate a questão sobre adiar ou não o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Sem proposta para o impasse, o então ministro jogou a toalha. No dia 19 de maio, Weintraub afirmou no Twitter que faria uma enquete entre os inscritos para então firmar uma decisão.
No dia 22 de maio, o STF divulgou o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril e se tornou público os ataques de Weintraub à democracia ao dizer que prenderia, se pudesse, os ‘vagabundos’ do Supremo. Nessa reunião, ele ainda disse que “odeia” o “termo povos indígenas” e também a expressão “povo cigano”.
Em 24 de maio, Weintraub tentou se justificar sobre as declarações, dizendo por meio de um post no Twitter, que tentaram “deturpar” sua fala para “desestabilizar a Nação”. Ele afirmou que não atacou leis, instituições ou a honra dos ocupantes do Supremo Tribunal Federal.
Em 26 de maio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) cobrou uma explicação sobre o ataque ao STF. A Comissão de Ética Pública da Presidência da República também exigiu explicações
Em 27 de maio, ele usou suas redes sociais para falar sobre a operação da Polícia Federal que acontecia naquela quarta-feira, referente ao inquérito de combate às Fake News. Weintraub comparou a ação da PF de investigar a disseminação de informações falsas na web com a polícia nazista na Alemanha de Adolph Hitler.
Em 28 de maio, o ministro da Educação foi criticado pela comunidade judaica por ter comparado uma ação da Polícia Federal à polícia nazista na Alemanha de Adolf Hitler. A Embaixada de Israel havia pedido que o Holocausto não fosse usado em disputa política no Brasil. Apesar disso, Weintraub disse “ter o direito de falar do Holocausto” e que “não precisa de mais gente atentando contra sua liberdade”, embora não fale em nome “de todos os cristãos ou judeus do mundo”, mas que apenas fala por si só.
Em 30 de maio, repercutiu uma fala de Weintraub sobre ter enxergado necessidade em “mudar as regras da Nova República” para impedir um “paraíso esquerdista”. Para ele, o regime político brasileiro seria uma “estrutura montada pela esquerda, oligarcas e corruptos”. A declaração foi feita em uma exposição em vídeo disponibilizada para o congresso online do Movimento Brasil Conservador (MBC), que apoia o governo de Jair Bolsonaro.
No dia 4 de Junho, Weintraub foi à sede da Polícia Federal em mais uma etapa da investigação de racismo contra chineses. Ele entregou o depoimento por escrito e se negou a responder questionamentos. Num post em rede social, alegou não ter sido racista e defendeu o que chamou de “liberdade de expressão”.
No dia 5 de junho, Weintraub enviou um ofício ao ministro da Economia, Paulo Guedes, dizendo que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 poderia ser suspenso por falta de dinheiro. O documento alertou ainda para o risco de fechamento de campi, cursos e até instituições inteiras por falta de recursos.
No dia 11 de Junho, foi a vez de uma Medida Provisória (MP) enviada ao Congresso por Bolsonaro, que permitiria que Weintraub escolhesse reitores de universidades federais, institutos federais e do Colégio Pedro II, caso os mandatos dos ocupantes terminassem durante a pandemia. No entanto, não tardou a aparecerem críticas. O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) anunciou, na manhã do dia 12, que essa MP violava princípios constitucionais. Diante disso, Bolsonaro se viu obrigado a revogá-la.
No domingo, 14 de junho, Weintraub participou de protestos antidemocráticos que pediam o fechamento do Congresso e do STF, a favor da intervenção militar e pró Bolsonaro. Na segunda-feira, 15 de junho, ele recebeu uma multa de R$ 2 mil, por não usar máscara na manifestação do dia anterior. A proteção facial é de uso obrigatório no Distrito Federal, segundo Decreto 40.648/20, devido à pandemia de coronavírus. Pesquisas comprovam que usar máscaras é uma forma eficaz de diminuir a propagação da Covid-19.
O último ataque do pior ministro da Educação que o Brasil já teve aconteceu no dia em que saiu da pasta. Ele revogou a portaria que garante cota para negros e indígenas nos programas de Pós-Graduação no país. Sem dar qualquer explicação ou fazer comentário. Revogou a portaria e vazou do Ministério sem perder a oportunidade de mais um ataque.