“O plano de anexação [de Netanyahu] constitui uma afronta injustificável aos direitos mais básicos da população palestina”, denuncia a Associação Judaica Diana Arón* (AJDA), fundada recentemente no Chile, em manifesto lançado no dia 11 (para o qual pede adesão e já com mais de 200 assinaturas).
O documento intitulado “Não ao plano do governo israelense de anexação de territórios da Cisjordânia” rejeita a ameaça do governo de Bibi Netanyahu que, com apoio de Trump, pretende usurpar território palestino situado na região conhecida com Vale do Jordão que abrange um terço de todas as terras palestinas na Cisjordânia.
Publicamos a íntegra do documento que além da assinatura de judeus chilenos recebeu apoio de argentinos e entidades judaicas argentinas (ICUF – Federación de Entidades Culturales Judías de la Argentina e Llamamiento Argentino Judío) e ainda de diretores do Observatório Judaico de Direitos Humanos no Brasil Henry Sobel:
Como associação independente de chilenos e chilenas judeus e judias condenamos de forma enérgica e categórica o plano de anexação de territórios ocupados na Cisjordânia que o governo israelense pretende implementar a partir de julho do ano em curso. Tal plano é ilegal, já que vai contra o Direito Internacional e as reiteradas resoluções das Nações Unidas a respeito.
O plano de anexação constitui uma afronta injustificável aos direitos mais básicos da população palestina que habita as ditas terras e ao povo palestino em geral – dentro e fora do Oriente Médio – assim como a seus direitos inalienáveis sobre os territórios ocupados por Israel desde 1967.
O governo de emergência em Israel, nascido em meio a uma crise política sem precedentes no país – e mascarado sob o suposto objetivo de enfrentar a crise sanitário-social provocada pela COVID-19 – tem se aproveitado da situação para implementar esta injustiça.
Estas políticas, avalizadas pelo governo dos EUA, sob a administração de Donald Trump, comprova mais uma vez o que Israel reiteradamente tem negado: que pretende levar a cabo a colonização definitiva dos territórios ocupados, com o objetivo final de expulsar aos palestinos de sua terra.
Como chilenos/as judeus/judia independentes consideramos que é nosso dever falar: a anexação significaria a consolidação de uma política sistemática de colonização e ocupação que historicamente tem atentado contra as reivindicações do povo palestino e a possibilidade de uma coexistência pacífica entre israelenses e palestinos. Além disso, a anexação trará consigo graves consequências em toda a região, pondo em risco a estabilidade dos tratados de paz de Israel com a Jordânia e o Egito, e previsível onda de violência; mais morte e sofrimento. Por outra parte, a anexação faria ainda mais difícil o retorno à senda das negociações para a conquista de um genuíno acordo de paz com base no direito de autodeterminação de ambos os povos.
Não podemos aceitar que políticas como a de intensificação da ocupação, a promulgação da “Lei Básica do Estado-Nação” [que discrimina os palestinos que vivem em Israel], o próprio plano de anexação sejam levadas a cabo em nome de todos e todas judeus e judias. Em solidariedade ao povo palestino e aos cidadãos israelenses que se levantam contra a ocupação, nos somamos às numerosas organizações judaicas em Israel e no mundo a repudiam.
Pedimos ao governo do Chile que, além da grande preocupação manifestada pelo Ministro das Relações Exteriores há alguns dias, adote uma posição ativa a nível internacional sobre a matéria e junto a outras nações da América Latina colabore para evitar que o plano de anexação seja levado a cabo. Consideramos que para isto, a intervenção da comunidade internacional é chave.
Da mesma forma, chamamos às comunidades judaicas organizadas e aos judeus e judias independentes em todo o mundo, a alçarem a voz contra o plano de anexação.
Por último, apelamos à comunidade judaica do Chile a tomar uma postura crítica e reflexiva sobre este tema, pronunciando-se contra políticas como esta, que, além de violar os direitos humanos e dos povos, colocam em risco o futuro de Israel.
Não à ocupação! Não à anexação¡ Sim a uma solução que respeite os direitos de todos os habitantes!
*A Associação Judaica Diana Arón se define como “um agrupamento judeu independente que nasceu há alguns meses para gerenciar atividades que promovam a reflexão crítica em temas de sociedade, cultura, direitos humanos e política, tanto no Chile como em outros territórios”.
Os integrantes adotaram o nome Diana Arón em homenagem “à vida de Diana Frida Arón Svigilsky, cuja história, ideais e sorriso iluminam o nosso caminho”.
Diana integrava o Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR) e foi atingida por dois tiros quando tentava fugir da repressão pinochetista em 18 de novembro de 1974. Ela foi levada ferida pelos seus agressores e está desaparecida até hoje.