Por Eduardo Costa (Leve)
Já demitido de minhas funções na ASNIN e, assim, livre para quando novas festas e saraus plásticos, literários, performáticos, teatrais, musicais, cinematográficos (artísticos-culturais) estiverem à plena, não perdi meu vício investigativo. É verdade que a Santa não apareceu, mas acredito que está em boas mãos.
Entretanto, apareceu um senhor não procurado pela ASNIN, que costumava dançar no hospital Einstein, abraçado no cabide de soro fisiológico. Muito estranho, mas deixa pra lá. Não é mais meu ofício fuçar onde não sou chamado.
Na boa paz, leio as notícias e vejo que no dia 25/06, o Ministério da Saúde determinou que doravante estarão incluídos nos procedimentos recomendados o teste de PCR para o diagnóstico dos casos leves da Covid-19.
A matéria divulgada pela imprensa ainda dá conta que para isso serão distribuídos 46 milhões de testes (sendo a metade para PCR e a outra de testes rápidos)!
APARECEU A MARGARIDA!
Há cerca de TRÊS meses ministros da saúde falam dessa compra. Exagerada por certo, mas como tinham certeza de que a epidemia duraria muito no Brasil fizeram uma previsão robusta!
Os esforços para ampliar a produção nacional já não serão tão urgentes, como sempre.
Convido o leitor amigo a pensar comigo algumas coisas e tirar suas próprias conclusões já que, como o amigo Clouseau sempre me disse, nunca fui bom nisso.
1 – Quer dizer que até agora só estávamos registrando os casos graves que vão para hospital? Como são cerca de 20% do total já podemos assumir que tínhamos cerca 5 vezes mais casos do que os registrados (já falei que em matemática sou bom).
2 – O número de casos diários vai dar um salto triplo tipo Ademar Ferreira da Silva ou João do Pulo, sem nada ter mudado. Muitos vão ficar panicados!
3 – Tem outra pergunta que o leitor quer me fazer – por que o salto não é quíntuplo?
Aí meu amigo, eu penso (logo existo) que precisa gente treinada para aplicar. E as informações que tenho do tempo da ASNIN não são boas:
A – Salvo algumas poucas exceções, o país desmobilizou a atenção primária, que mandava esses casos leves suspeitos retornarem para casa, pedindo para se isolarem. Os graves são encaminhados aos hospitais.
B – Alguns municípios, estados e empresas compraram testes por conta própria e estão usando-os segundo seus próprios critérios. Afinal, a imprensa divulga que falta ‘testagem’ de massa (não tenho muita certeza de que marcas – incluem as importadas ou não?).
C – A coleta do material da garganta é de elevado risco e são necessários equipamentos de proteção de quem coleta (EPI). Estão adequados?
D – E os laboratórios estão preparados para a nova quantidade? Afinal, as notícias eram que estava difícil dar resultados com a presteza necessária (dois dias).
E – Atenção: precisamos colocar em quarentena suspeito até o resultado do teste voltar, e isolar positivos ao teste para não transmitir a outros. Afinal, é esse o objetivo da ‘testagem’ .
4 – A propósito da ‘testagem de massa’, a decisão do Ministério da Saúde não incentiva a busca ativa de casos em grupos e situações especiais (os trabalhadores das atividades essenciais, que mantiveram seu trabalho nesses três meses de isolamento social indiscriminado) e o rastreamento de contatos de casos. O que significa que não avançaremos nas medidas para contenção da transmissão da doença.
Conclusão: – Não sei! Mas vamos torcer pelo povo brasileiro! E pelos trabalhadores da saúde.
Nota: Desde abril, a OMS divulgou, sensatamente, que a busca ativa e o tratamento adequado dos casos e contatos é chave para a flexibilização das medidas de isolamento social. Se não fizermos isso nacionalmente as idas e vindas – o abre-fecha será aleatório. Do mesmo modo, muitos, inclusive eu, temos alertado para a necessidade de providenciar melhores condições para o isolamento de casos e contatos nas comunidades de mais baixa renda e habitação precária, que permitem a transmissão para outras pessoas da família ou do trabalho.
– Ver HP 17/06/2020, Eduardo de Azeredo Costa, COVID-19: Busca ativa ou testagem de massa?
(*) Eduardo Costa é médico sanitarista.
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