Mais de 40 organizações de defesa dos direitos humanos e pela liberdade de imprensa exigiram na sexta-feira, 03, a libertação “imediata” do fundador de Wikileaks, Julian Assange, detido na Inglaterra e requisitado pela justiça dos Estados Unidos, que pretende julgá-lo por acusações de suposta “espionagem”.
Em carta dirigida ao ministro de Justiça britânico, Robert Buckland, os assinantes pedem ao governo de Boris Johnson que impeça sua extradição aos Estados Unidos, onde ele pode ser condenado a até 175 anos de prisão.
Juristas, entidades de defesa das liberdades democráticas, associações de jornalistas e personalidades têm denunciado que a prisão e a ameaça de extradição de Assange por publicar informações verdadeiras sobre crimes de guerra e atos de intervenção criam um perigoso precedente sobre todos os jornalistas, em qualquer lugar do mundo.
O governo dos EUA quer levar a tribunal o fundador do portal Wikileaks pela divulgação, a partir de 2010, de mais de 700.000 documentos expondo delituosas atividades militares e diplomáticas, em particular no Iraque e Afeganistão.
O documento foi organizado por iniciativa da fundação internacional Courage Foundation, com representações no Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha e assinam entidades como a Federação Internacional de Jornalistas, Repórteres Sem Fronteiras, PEN International. Nele é condenado o surgimento de novas acusações apresentadas pelos Estados Unidos contra Assange, que se somam às 18 que já formuladas contra ele. “Embora outros presidentes prévios levaram à justiça jornalistas e outras fontes em virtude da Lei de Espionagem por filtrar informação classificada, a Administração de Trump deu mais um passo”, assinalaram. “Trata-se de uma agressão que já era inquietante contra o jornalismo nos Estados Unidos, onde o presidente, Donald Trump, referiu-se aos meios de comunicação como ‘inimigos das pessoas’”, denuncia a missiva, qualificando as últimas acusações como uma escalada sem precedentes.
Na semana passada, o Departamento de Justiça dos EUA acusou Assange de recrutar hackers, encorajando outras pessoas a pesquisar informações classificadas e conspirando para acessar um computador do Ministério de Defesa dos EUA.
O diretor executivo da Fundação pela Liberdade de Imprensa, Trevor Timm, chamou de “sérias ameaças à liberdade de imprensa” as acusações levantadas pelo governo dos EUA contra o ativista australiano.
“Estamos surpresos com o momento escolhido para fazer novas acusações, para dizer o mínimo”, disse o advogado de Julian Assange, Mark Summers, durante uma audiência administrativa na segunda-feira, 29, realizada no Tribunal de Magistrados de Westminster.
As organizações afirmam que a “perseguição contribuiu para a deterioração da liberdade de imprensa no Reino Unido” e prejudica a imagem do país no cenário internacional.
A justiça britânica começou a processar a ordem de extradição apresentada pelos Estados Unidos em fevereiro passado, mas o processo foi interrompido pela pandemia da Covid-19 e, como anunciou a juíza Vanessa Baraitser na segunda-feira, 29. A retomada está prevista para 7 de setembro, no Tribunal Penal Central de Londres.
Segundo o diretor executivo do organismo Pen International, Carlos Torner, as últimas acusações dos Estados Unidos “abrem portas de maneira efetiva à criminalização de atividades que são vitais para muitos jornalistas de investigação e a todos os que se dedicam a assuntos de segurança”.
Torner acrescentou que é preocupante o fato de Assange enfrentar neste momento o risco de extradição podendo vir a ser condenado a “várias décadas” de cadeia nos Estados Unidos. “A eventual sentença contra Assange é aterradora para o jornalismo”, afirmou.
Para Rebecca Vincent, diretora de campanhas internacionais da organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras o “governo britânico deve exercer as suas obrigações para proteger a liberdade de informação e não permitir injustiças políticas provocadas por outro país (Estados Unidos)”.
“Todas as acusações contra ele deveriam ser retiradas e Assange devia ser libertado hoje mesmo”, acrescentou.
Ele estava exilado na embaixada do Equador em Londres desde o governo de Rafael Correa até ser entregue às autoridades britânicas pelo atual presidente do Equador, Lenin Moreno.