Maestro italiano compôs mais de 500 obras para o cinema mundial
A história do cinema, assim como a da música, não seriam as mesmas sem as composições de Ennio Morricone, o maestro italiano que morreu nesta segunda-feira, aos 91 anos, e deixou sua marca indelével em canções que não apenas dialogaram em perfeita sintonia com filmes memoráveis, mas os transcenderam.
Com formação em música clássica, composição, orquestração e órgão, Morricone começou a compor aos seis anos e não parou mais, se notabilizando nas mais de 500 obras que compôs para o cinema.
Unindo o clássico com músicas de tradição popular, jazz e pop, compôs também para programas de televisão, além de 80 obras clássicas para orquestra, música de câmara e obras criadas especialmente para piano.
Em 1974, se uniu à cantora francesa Mireille Mathieu no álbum “Mireille Mathieu canta Ennio Morricone”, e com a fadista portuguesa Dulce Pontes lançou o álbum “Focus”, em 2003, onde a cantora interpreta clássicos do compositor, mas também canções compostas especialmente para a grande voz de Dulce.
Mas suas trilhas para cinema são o que lhe deram popularidade. Elas têm uma força tal, que ao sairmos da exibição do filme, a música nos acompanha e ecoará para sempre marcando aquele momento.
Apenas ouvir a música, sem nunca termos assistido ao filme, nos leva a uma viagem perfeita de sentimentos, sensações, climas, paisagens e tempos que só as grandes obras musicais são capazes.
A estreia no cinema foi em 1961, no filme “O Fascista”, de Luciano Salce, mas o reconhecimento como um dos maiores compositores de trilhas sonoras de todos os tempos começou com filmes de western, e o primeiro sucesso veio juntamente com o mestre do gênero, Sergio Leone, em “Por um Punhado de Dólares”, de 1964.
Em outro clássico de Sergio Leone, “Era uma Vez no Oeste”, a melodia de gaita que perpassa todo o filme, é considerada uma obra-prima.
Suas trilhas não ficaram restritas aos filmes de bang-bang italiano.
Foi no “Cinema de Compromisso”, como assim intitulava, que Morricone manteve o foco de sua produção.
O maestro compôs para filmes de Giuliano Montaldo, como “Sacco e Vanzetti” (“Here’s to You”, cantada por Joan Baez); de Elio Petri, em “A Classe Operária vai para o Paraíso”; de Bernardo Bertolucci, em “1900”; ou de Giuseppe Tornatore em “Cinema Paradiso”, e muitos outros.
Em 2016, a Rádio Independência Brasil apresentou a série “A música do Cinema”, produzida por Bento da Silveira.
O segundo episódio da série apresenta um panorama da produção de Ennio Morricone nas trilhas sonoras de cinema:
PRÊMIOS
Ennio Morricone foi ganhador de muitos prêmios e, embora tenha sido indicado cinco vezes ao Oscar, só em 2007 ganhou a primeira estatueta pelo conjunto de sua obra, e em 2016 venceu na categoria trilha sonora pela música de “Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino. Também ganhou Globos de Ouro, Grammys e BAFTAs.
Em uma das indicações ao Oscar, em 1986, se sentiu injustiçado ao não levar o prêmio pela trilha de “A Missão”, de Roland Joffé, em que usou instrumentos pré-colombianos, oboés e corais litúrgicos, e que é considerado por muitos como um de seus trabalhos mais importantes.
Sobre esse trabalho, o músico disse em entrevista à AFP em 2017:
“A música de ‘A Missão’ nasceu de uma obrigação. Tinha que escrever um solo oboé, se passava na América do Sul no século XVI, e tinha a obrigação de respeitar o tipo de música do período. Ao mesmo tempo, eu tinha que compor uma música que também representasse os índios da região. Todas as obrigações me prendiam (…) Mas também fizeram com que saísse algo claro”.
Segundo nota divulgada pela família, Ennio Morricone, que nasceu em Roma em 1928, “permaneceu lúcido e com grande dignidade até o fim” e “se despediu de sua amada esposa Maria”