Este tipo de situação é obtido, por exemplo, quando se usam as vacinas. Na ausência da vacina para o coronavírus, ela não é recomendada, porque levaria à morte de milhares de pessoas
O diretor para doenças infecciosas da Opas (Organização Panamericana da Saúde), Marcos Espinal, afirmou, nesta terça-feira (14) que a instituição não recomenda para nenhum país a adoção da chamada “imunidade de rebanho”. Segundo o especialista, “isso custaria muitas vidas”. A ideia, condenada em todo o mundo, é defendida insistentemente por Jair Bolsonaro e por seu séquito de seguidores, muitos deles ferrenhos terraplanistas.
A tese da “imunidade de rebanho” é aquela em que a população se infectaria rapidamente e, assim, a epidemia seria vencida pela impossibilidade do vírus continuar se propagando. Este tipo de situação é obtido, por exemplo, quando se usam as vacinas. Na ausência da vacina para o coronavírus, ela não é recomendada, porque levaria à morte de milhares de pessoas.
A ideia foi adotada inicialmente no Reino Unido, mas, quando o governo foi alertado pelo Imperial College de Londres, de que isso representaria a morte de 500 mil ingleses, o Primeiro Ministro Boris Jonhson, voltou atrás e adotou as medidas epidemiológicas de combate à pandemia recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil esse número passaria de um milhão de mortes, caso prevalecessem as ideias de Bolsonaro. Um verdadeiro genocídio. Com as medidas adotadas pelos governadores e prefeitos, apesar da ausência e do boicote do governo federal, os números foram reduzidos. O país está atualmente com cerca de 73 mil mortes.
O argumento é muito simples. A “imunidade de rebanho” seria obtida quando cerca de 70% da população estivesse infectada. Se isso ocorrer rapidamente, os serviços de saúde entrarão em colapso e a mortalidade será muito grande, tanto pela própria Covid-19 quanto por outras doenças que não terão como serem tratadas por falta de leitos e profissionais de saúde suficientes.
Se essa ideia, defendida por Bolsonaro, prevalecesse no Brasil, por exemplo, 147 milhões de pessoas seriam infectadas num período curto. Como a taxa de hospitalização no caso da Covid-19 gira em torno de 20%, cerca de 28 milhões de pessoas precisariam de internação. Dessas, cerca de 7 milhões precisariam de UTI.
A tese da “imunidade de rebanho” faz com que as autoridades que a defendem procurem não fazer nada para deter o vírus e nem para orientar a população no sentido de se proteger. O raciocínio deles é de que, quanto mais rápido a população se infectar, melhor. Não importando se, com o colapso do sistema, centenas de milhares de pessoas morrerão sem conseguirem atendimento.
É exatamente assim que pensa Jair Bolsonaro. Por isso, ele minimiza os perigos da pandemia, por isso ele desorienta a população e por isso ele ataca os governadores e retém os recursos para a saúde pública.
É por isso também que ele combate a ciência e insiste em medicações sem eficácia comprovada. Assim ele desvia a atenção do que realmente deveria estar fazendo, ou seja, ajudar estrados e municípios a combaterem a propagação do vírus, através do rastreio de contatos de pacientes infectados e da busca ativa de casos em populações vulneráveis.
E também é por isso também que ele intervém no Ministério da Saúde, demite ministros que não obedecem suas ordens absurdas, e desmonta sua equipe técnica em plena pandemia.
A orientação da OMS, e de toda a comunidade científica, é a de que se adotem estratégias de proteção da população, com medidas de higiene, de distanciamento social e, principalmente, de vigilância epidemiológica, para que se possa detectar a circulação do vírus e, assim, poder interromper a sua propagação. Isso demanda uma adequada capacidade de se fazer diagnóstico. Desde o início da pandemia, a entidade orienta a necessidade de se investir muitos recursos na capacidade testagem da população.
Esta atuação, se for aplicada com rigor, se as autoridades sanitárias tiverem capacidade de detectar precocemente os casos, o número de infectados será reduzido através do isolamento dos pacientes diagnosticados. A curva epidêmica epidêmica será achatada e isso permitira que os casos sejam tratados com eficácia, reduzindo a taxa de mortalidade.
Para isso é necessário, por óbvio, que os sistemas públicos de saúde sejam fortalecidos e que haja leitos hospitalares e de UIT suficientes para atender a população afetada.
O diretor da OPAS afirma que ‘não há evidência que o Brasil ou alguma parte do país tenha alcançado imunidade de rebanho’. Ele se baseou nos estudos conduzidos pela Universidade Federal de Pelotas. O diretor também comentou um recente estudo que concluiu que anticorpos nos infectados pelo coronavírus não duram mais que 3 ou 4 meses.
“Com isso, mesma que fosse alcançada, a imunidade rebanho teria uma duração muito pequena”, observou o especialista. Jair Bolsonaro, em sua sociopatia conhecida e todos, voltou a defender na segunda-feira (13) suas ideias fixas de que houve excesso de zelo e que a mídia exagerou nos alertas à população.
SÉRGIO CRUZ