Serão testadas pelo menos cinco pessoas da família ou contactantes de pacientes diagnosticados com Covid-19 nas unidades de saúde da capital
São Paulo começou na terça-feira (14) um programa de rastreio e testagem dirigida para identificação de pacientes com Covid-19 na capital paulistana. A Prefeitura de São Paulo decidiu testar familiares e contactantes de pacientes diagnosticados com a doença.
Esta iniciativa foi resultado da análise da segunda fase do inquérito epidemiológico realizado na cidade, que constatou um alto grau de transmissão intrafamiliar do coronavírus. O inquérito mostrou que há um grande número de infectados nos domicílios com cinco ou mais moradores acima de 18 anos.
O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, disse que serão feitos em média cinco testes em pessoas da família dos pacientes infectados que forem identificados nas unidades de saúde.
“São cinco em média, porque tem família que tem menos, tem famílias que tem mais, vamos dar um atestado médico para que essas pessoas até que saia resultado do teste, essas pessoas possam permanecer na suas casas. Para que a gente possa ter a confirmação se ela está ou não com Covid-19”, explicou Aparecido.
O prefeito Bruno Covas )PSDB) também falou sobre a nova estratégica de combate à pandemia, que além do rastreio contará também a busca ativa de casos nas populações mais expostas.
“Nesses 14 distritos com maior incidência nós vamos fazer um trabalho de campo ainda mais presente com ações em cima de todas as pessoas que estiverem sintomáticas, todas que tiverem testado positivo com teste PCR, acompanhando a família dessas pessoas e fazendo pelo menos cinco testes em familiares que convivam com essa pessoa pra poder fazer o acompanhamento da disseminação do vírus na cidade”, afirmou Bruno Covas.
Também teve início nesta quarta-feira (15) a terceira fase do inquérito epidemiológico, que pretende saber quantos moradores já tiveram a doença, monitorar os casos e controlar o avanço da doença.
Os bairros são escolhidos depois de um mapeamento para saber quais as regiões mais críticas. As áreas mais pobres e mais afastadas do centro são as mais afetadas pela doença.
O programa de testagem para Covid-19 é uma iniciativa do governo do estado, com o Instituto Butantan, e a Prefeitura de São Paulo. A ideia é fazer o mapeamento da doença em regiões de alta vulnerabilidade social.
Inicialmente, serão aplicados 3,5 mil testes rápidos em moradores que vivem no bairro União de Vila Nova, que fica no distrito da Vila Jacuí, na zona Leste da capital. O governo estadual também estuda com prefeituras a expansão para outras regiões da capital e do interior.
A identificação das áreas se deu a partir do Mapa de Comportamento da Covid-19, uma ferramenta de georreferenciamento criada pela Secretaria de Habitação e que, a partir do cruzamento de dados socioeconômicos, epidemiológicos e territoriais, orientam e planejam do programa de testagem.
“O programa começa com 3.500 testes e este mapa será dedicado às regiões vulneráveis do Estado. Trata-se de uma nova ferramenta que mapeia o comportamento do coronavírus e identifica, com precisão, a incidência do vírus sobre as áreas mais carentes e vulneráveis, como comunidades, cortiços, comunidades indígenas e quilombolas”, destacou João Doria, governador do estado.
O posto foi montado ao ar livre, no Jardim Pantanal, Zona Leste de São Paulo, que registrou 108 mortes e 368 internações pela doença. Em quatro dias, vão ser feitos mais de 3.500 exames.
“No primeiro momento, nós fazemos o teste sorológico para identificar se a pessoa teve contato com o vírus e, se caso positivo, entra-se na sequência o teste do PCR para que possa averiguar se a pessoa continua com o vírus presente e ativo no corpo”, explicou Flavio Amary, secretário da Habitação do estado de São Paulo.
MAPA
A Secretaria da Habitação cruzou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Fundação Seade, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, da CDHU e das Secretarias de Saúde do Estado e dos municípios para criar o Mapa de Comportamento da Covid-19.
A ferramenta usa georreferenciamento para avaliar os dados epidemiológicos de mortes e novas internações por suspeita ou confirmação da Covid-19.
“As informações sintetizadas pelo Mapa de Comportamento da Covid-19 permitem identificar com precisão os locais de maior incidência de mortes pela doença e de pacientes internados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que testaram positivo para o novo coronavírus”, afirma Fernando Marangoni, secretário executivo da Habitação, que coordena o programa.
EXEMPLO
“Nós temos um exemplo mais famoso, que é o da Coreia do Sul, que tem uma política de testagem muito ampla. Então, todas as pessoas sintomáticas e a rede de contatos delas são testadas. A Alemanha fez algo muito parecido com que São Paulo está fazendo, a divisão geográfica da cidade e testagem em alguns locais mais concentrados. A Nova Zelândia também testou bastante”, disse Pedro Hallal, epidemiologista, reitor da Universidade Federal de Pelotas e coordenador da pesquisa em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo.
Esse tipo de testagem ajuda a identificar uma parcela de infectados que é mais difícil de monitorar. São aquelas pessoas que não têm sintoma nenhum, mas estão com o coronavírus e acabam espalhando a doença sem saber.
Testar é uma das principais orientações da Organização Mundial de Saúde. Segundo o epidemiologista, deveria ser aplicada em larga escala pelo país junto com o monitoramento dos casos.
“O teste é uma política de saúde, ele ajuda a identificar cedo quem tem a doença e ajuda a controlar a disseminação da doença. Testar muito não é para aumentar os números, é para identificar rápido as pessoas com a doença e isolar elas, evitando que elas contagiem outras pessoas”, explicou Pedro Hallal.
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