“Esse governo não ganhou as eleições dizendo o que de bom ia fazer para o Brasil, mas, sobretudo, anunciando o que de ruim ia fazer, desconstruindo o pouco de bom que se tinha”, disse a ex-ministra do Meio Ambiente
A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), afirmou que a destruição que acontece na Amazônia e no meio ambiente é resultado do que Bolsonaro prometeu fazer na área durante a campanha eleitoral.
“Esse governo não ganhou as eleições dizendo o que de bom ia fazer para o Brasil, mas, sobretudo, anunciando o que de ruim ia fazer, desconstruindo o pouco de bom que se tinha”, disse Marina.
Em entrevista para a Esquinas, revista digital laboratório da Faculdade Cásper Líbero, Marina Silva apontou que “os resultados não poderiam ser diferentes, pois foi uma profusão de ações intencionais, planejadas e deliberadas, para conseguir esse resultado de desmonte da governança ambiental”.
“Agora mesmo o vice-presidente [Hamilton Mourão] estava em uma audiência com o Senado e disse que as Forças Armadas estão agindo porque que o Ibama e o ICMBIO não têm condição de atuar. Por que não têm condição de atuar? Porque o governo enfraqueceu, do ponto de vista orçamentário, o ministério, o Ibama, o ICMBIO”
“O Plano de Prevenção do Desmatamento de 2004 rendeu frutos até 2012. E em 2012, no governo da presidente Dilma, ele já foi enfraquecido e o desmatamento voltou a crescer. No governo Temer ele foi mais enfraquecido ainda, e no governo do presidente Jair Bolsonaro ele foi completamente abandonado”, disse.
“O que está acontecendo foi anunciado e estão cumprindo a rigor, até um pouco mais do que haviam anunciado. Destruindo o que foi construído durante 30 anos com a governança ambiental. O resultado está aí: aumento do desmatamento, avanço das queimadas, aumento do garimpo ilegal, da exploração de madeira, da grilagem de terra, os resultados que temos agora com os investidores ameaçando parar de investir no Brasil”.
“Agora mesmo o vice-presidente [Hamilton Mourão] estava em uma audiência com o Senado e disse que as Forças Armadas estão agindo porque que o Ibama e o ICMBIO não têm condição de atuar. Por que não tem condição de atuar? Porque o governo enfraqueceu, do ponto de vista orçamentário, o ministério, o Ibama, o ICMBIO”.
“Também persegue agentes públicos e pune aqueles que cumprem suas obrigações. Isso aconteceu com Ricardo Galvão, com diretores do Ibama, e aconteceu agora com a coordenadora do Inpe”, acrescentou.
Para Marina, “esse governo não tem um projeto”. “O projeto é de radicalizar, polarizar e destruir aquilo que ele acha que deve ser destruído. O ministro Ricardo Salles tem uma agenda, que é a agenda de um antiambientalista e de um governo negacionista, ele não deveria estar onde está, porque ele pratica desvio de função, prevarica em suas atribuições exatamente por descumprir o artigo 225 da Constituição Federal e a lei 6938/1981”.
“O que está acontecendo foi anunciado por ele. O resultado está aí: aumento do desmatamento, avanço das queimadas, aumento do garimpo ilegal, da exploração de madeira, da grilagem de terra, os resultados que temos agora com os investidores ameaçando parar de investir no Brasil”
O ex-ministra defendeu o afastamento de Ricardo Salles.
“Ele não pode agir de acordo com suas convicções e por isso deveria sofrer impeachment, como a REDE pediu ao supremo. O próprio setor está diante da pressão dos investidores e do risco de não ter mais investimentos, porque nada que seja dito ou feito por Ricardo Salles terá qualquer tipo de credibilidade”, completou.
“Obviamente, caberá à pressão da sociedade exigir que o ministério do meio ambiente não seja mais ocupado por antiambientalistas. Quem vai para o ministério não pode ir ao arrepio do sistema nacional de meio ambiente, existe uma lei que estabelece quais são as funções do ministro. Ele deve ser cassado e qualquer um que for para lá deve se submeter aos ditames da lei que estabelece quais são as atribuições do ministro e do ministério”.
A líder da Rede Sustentabilidade rebateu a versão de Ricardo Salles, que em entrevista disse que a fala “passar a boiada”, mencionada por ele na reunião ministerial de 22 de abril, disse que se referia a “desburocratizar” o setor e ter mais “eficiência”.
“O que ele disse é exatamente o que ele disse: se aproveitar da pandemia para fazer um processo de desregulamentação às escuras, se aproveitando da atenção da mídia, para o problema da saúde pública, que na opinião dele era um momento de tranquilidade. Não importa o que ele tente sofismar agora, é exatamente o que ele disse, com o tom e a intenção do que ele pretendia fazer e fez”.
“Havia um acordo de que só seriam tratados temas referentes à questão da pandemia, de repente aparece a MP da Grilagem. Então, aparece o marco temporal em relação à questão indígena; a medida apresentada para regularizar áreas ocupadas ilegalmente, até mesmo dentro da Mata Atlântica; ou seja, ele disse e estava cumprindo a história de passar a boiada, isso não tem nada a ver com desburocratização. Isso tem a ver com legalizar a contravenção, o crime ambiental”.