“Isso terá um enorme impacto econômico para o país”, criticou o cientista
A falta de medidas do governo Bolsonaro para frear o desmatamento da Amazônia fere a credibilidade internacional do Brasil, o que terá impactos econômicos, alertam Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas.
Os três participaram de um debate na Globonews no sábado (18).
Carlos Nobre, que foi pesquisador do Inpe, comentou que a pressão internacional sobre o governo Bolsonaro – para que ele tome medidas contra o desmatamento e as queimadas – “é um movimento que não vai acabar. É de uma busca que nós estamos, globalmente falando, de sustentabilidade. É muito importante que o Brasil entenda a gravidade e o impacto econômico de não conseguir reduzir rapidamente o desmatamento e as queimadas na Amazônia. Tem que ser rápido”.
“Julho desse ano vai ser crítico, porque em julho de 2019 explodiu o desmatamento. Se toda a ação dos órgãos de fiscalização não tiver impacto, como não teve até junho, eu acho que nós vamos começar a entrar em uma ladeira de perda muito maior de credibilidade. Isso terá um enorme impacto econômico”, continuou.
Segundo ele, o Brasil vinha sendo uma liderança em relação à preservação do meio ambiente, mas isso tem mudado com o governo Bolsonaro. “Isso é uma perda inaceitável. Nós esperamos que as ações de controle sejam efetivas a partir de agora. Não que dá para apostar nisso, mas espero que comecem a ser efetivas”.
O pesquisador também defendeu a destruição de infraestruturas e equipamentos utilizados para o desmatamento, medida contra a qual Jair Bolsonaro vem atuando. A destruição “ocasionou um enorme prejuízo nos financiadores do crime ambiental. Isso foi um dos fatores que fez reduzir o desmatamento”.
Para Ricardo Galvão, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “não tem credibilidade nenhuma”. “Ele inclusive lança números errados. Isso é muito mau para a imagem do Brasil no exterior. Se o governo quer indicar alguma coisa na direção correta, o primeiro passo tem que ser demitir o ministro Ricardo Salles e, segundo, demitir o ministro Ernesto Araújo”, declarou.
Para Tasso Azevedo, mesmo com o anúncio feito pelo governo de que mais atenção seria dada à Amazônia isso “ainda está no campo da retórica e não dos resultados”.
Segundo ele, “foi apresentado um documento de 15 páginas sem nenhuma meta, nem uma única meta. Nenhuma ação concreta proposta”.
“Se a gente olhar as taxas de desmatamento na região, de todos os meses, de janeiro a junho, a taxa do mês foi maior do que no ano passado, que já era uma crescente. Até o momento a gente não teve nenhum resultado concreto na redução do desmatamento”.
“Nós estamos com um contingente enorme de garimpeiros dentro de terras indígenas que causam um impacto ambiental e social importantíssimo, coloca em risco aquelas populações. Em vez de ter uma atitude de retirar esses garimpeiros, tem um discurso de que ‘bom, isso é mesmo assim, é a mesma coisa que camelô’”, alertou.
Ricardo Galvão também comentou a exoneração de Lubia Vinhas do cargo de coordenadora-geral de Observação da Terra depois que dados que mostraram uma alta crescente no desmatamento foram divulgados.
“Eu não acredito que a exoneração dela vai atrapalhar a divulgação de dados do Inpe, isso não. Existe uma equipe muito forte de pesquisadores que vai continuar a prover os dados. Mas foi uma sinalização muito ruim”, disse Galvão.
“Qualquer rearranjo externo ou reestruturação tem que ser aprovado por órgãos colegiados, em particular no Inpe pelo Conselho Técnico-científico. É isso que os servidores estão reclamando, foi feita uma mudança forte, de uma pessoa que é muito importante e tem muito prestígio, uma especialista em geoinformática no Brasil. Se foi mesmo por uma reestruturação interna, foi feito em um momento errado”.