Atendendo à solicitação da autoproclamada presidente Jeanine Ánez, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia anunciou oficialmente, nesta quinta-feira, o adiamento das eleições presidenciais e do parlamento bicameral previstas para 6 de setembro.
O pleito que já havia sido desmarcado do início de abril para setembro, agora foi remarcado para 29 de novembro, conforme o presidente do TSE, Salvador Romero, indicado por Áñez. A alegação utilizada é que a decisão obedece a “informes médicos” que alertam que a pandemia de coronavírus – a mesma que não foi combatida pelo governo que busca vencer nas urnas – terá seu auge no final de agosto e começo de setembro.
Desta forma, figuras como Luis Fernando Camacho e Jorge Quiroga, que participaram com a polícia e as forças armadas do assalto à presidência, matando dezenas de bolivianos e levando centenas à prisão e Evo Morales ao exílio, se somaram a Áñez na empreitada.
O ex-presidente Evo, coordenador da campanha do ex-ministro da Economia, Luis Arce Catacora, candidato do MAS-IPSP (Movimento Ao Socialismo – Instrumento Político para a Soberania dos Povos), havia alertado horas antes do comunicado do TSE para o significado de uma nova postergação. “Um adiamento da data das eleições somente prejudicará o povo pela ingovernabilidade em que se observa a pandemia, sem nenhum controle e a crise econômica”, frisou. A declaração tinha sido feita logo após a divulgação de uma pesquisa em que 72% dos bolivianos manifestaram que pretendiam votar em 6 de setembro.
“ADIAMENTO ILEGAL E INCONSTITUCIONAL”
Na avaliação de Evo, o novo adiamento é “ilegal e inconstitucional”. “As leis 1297 e 1304 determinam os prazos para que as eleições se realizem. O único órgão de Estado que pode modificar este prazo é a Assembleia Legislativa Plurinacional”, acrescentou em suas redes sociais. Para Evo, o governo Áñez “quer ganhar mais tempo para continuar com a perseguição contra dirigentes sociais e contra candidatos do MAS-IPSP (Movimento Ao Socialismo – Instrumento Político para a Soberania dos Povos)”, justamente no momento em que o seu candidato à presidência lidera por ampla margem todas as pesquisas de intenção de voto.
“Acredito que a esta altura o governo golpista se utiliza de todas as estratégias possíveis para tentar ganhar tempo a fim de desgastar a imagem de Luis Arce e barrar o amplo crescimento da sua candidatura”, denunciou o pesquisador e cientista social Porfirio Cochi. Na avaliação do estudioso boliviano, “o adiamento é uma clara manifestação de desespero, além de descompromisso com a democracia”.
Ex-chefe das Rádios dos Povos Originários (RPOs) do Ministério da Comunicação do governo Evo, Dolores Arce alerta que também estão buscando inabilitar a candidatura e anular a sigla do MAS por meio de uma equivocada interpretação de uma lei eleitoral, na qual não poderia ter divulgado uma pesquisa interna. “Querem inventar um delito eleitoral onde não existe e ao mesmo tempo postergar as eleições para que não tenham rivais. Temos que lembrar que Salvador Romero, do TSE, foi nomeado por Áñez e o filho de Áñez é sua mão direita. Há poucos dias todos os partidos de direita e os chamados Comitês Cívicos, liderados por grandes empresários, se somaram à mídia golpista para manipular e pressionar pelo retrocesso. Como se fosse uma expressão de todos”, sublinhou Dolores, também ex-diretora-executiva do Centro de Educação e Produção Radiofônica da Bolívia (Cepra).
Considerando as pesquisas divulgadas esta semana, o especialista em opinião pública Julio Córdova concluiu que o MAS pode repetir sua votação de outubro do ano passado (47%).
LEONARDO WEXELL SEVERO