O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, disse que o governo Bolsonaro estava “usando minha presença como desculpa” de que estava combatendo a corrupção, mas na verdade “não estava se fazendo muito”.
Segundo ele, “uma das razões para eu sair do governo foi que não estava se fazendo muito” para combater a corrupção. “A agenda anticorrupção tem sofrido reveses desde 2018”.
Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, Sérgio Moro voltou a comentar a tentativa de Jair Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal.
“Ele mudou o diretor da Polícia Federal sem pedir minha opinião e sem uma boa causa. Não acho que dá para combater corrupção sem respeitar a lei e a autonomia das instituições que investigam e denunciam crimes”, disse.
A acusação de interferência na PF foi feita por Moro na coletiva de imprensa em que anunciou sua saída do governo. Ele também contou que na última reunião ministerial em que esteve presente, feita no dia 22 de abril, Jair Bolsonaro ameaçou demiti-lo caso não conseguisse trocar o diretor-geral e o superintendente do Rio de Janeiro.
A gravação da reunião, tornada pública pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mostrou Bolsonaro dizendo: “já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou”.
“Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”.
Durante a entrevista, Sérgio Moro afirmou que a aproximação do governo Bolsonaro com o chamado centrão não condiz com as coisas que foram ditas durante a campanha e no começo do governo. “No começo, o governo parecia evitar esse tipo de prática, mas hoje em dia não tenho tanta certeza”.