As declarações do procurador-geral da República, Augusto Aras, à Operação Lava Jato foram criticadas por parlamentares que apoiam a operação.
Senadores e deputados também reagiram ao pedido de instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra as investigações, que foi protocolado na Câmara dos Deputados.
“Vemos um quebra-cabeça se articulando para detonar a Lava Jato. Está pegando mal essa situação. Se a população pudesse hoje ir para as ruas, com certeza estaria indo defender a operação, que é um patrimônio imaterial do povo brasileiro”, disse o senador Eduardo Girão (Podemos), que participou de uma videoconferência com Aras na quarta-feira (29).
Na conversa virtual, os parlamentares salientaram que as declarações do PGR foram “infelizes”.
O líder do PSL, senador Major Olimpio (SP), pediu união em favor da Lava Jato, afirmando que o Senado “não irá se calar” e irá “até a última consequência” para defender a operação.
“A Lava Jato é um marco no processo de combate à corrupção. Levaram para a cadeia grandes ladrões de colarinho branco que dilapidaram nosso país. O fim [da operação] só interessa aos malfeitores”, disse. Ele considerou uma “vergonha” a eventual instalação de uma CPI contra a Lava Jato na Câmara.
“Era só o que faltava: vai ser a maior inversão de valores da história do Brasil. Querem atacar a operação e seus integrantes. Quem tem bandidos de estimação quer inverter a história. Um pouco de vergonha na cara à política brasileira.”
O procurador-geral também foi repreendido pelo líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que o denunciou por “advogar em favor de pessoas que saqueiam os cofres públicos”.
“A luta contra a corrupção, que assola e destrói nosso país há tanto tempo, deveria ser pauta unívoca, não é questão ideológica”, destacou o senador nas redes sociais.
Segundo Aras, a força-tarefa da Lava Jato não tem transparência na distribuição de processos, mantém banco de dados sigiloso sobre seus alvos e violou prerrogativas de investigados.
A líder do Cidadania, senadora Eliziane Gama (MA), acusou “objetivos eleitoreiros” para “manchar” a operação por trás das palavras do procurador-geral.
“Não há como negar os avanços trazidos pela Lava Jato no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no país. Se houve abusos, há instrumentos adequados de controle para coibi-los”, escreveu.
O deputado Felipe Rigoni (PSB/ES) escreveu no Twitter que “a Lava Jato é, sem dúvidas, a operação mais importante de combate à corrupção na história do país”.
“As críticas de Augusto Aras são semelhantes ao ocorrido com a Operação Mãos Limpas, na Itália. Após as primeiras prisões, tentaram minar a operação atacando figuras que conduziam as investigações. É absurdo e vamos fazer de tudo para evitar que isso aconteça aqui.”
O senador Flávio Arns (Rede/PR) lamentou a tentativa de “denegrir” a Lava Jato e “eliminar as lições” da operação. “Confiamos nos juízes e procuradores que estão trabalhando para passar a limpo a história do Brasil”, assinalou.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) chamou de “cínica” a manifestação do procurador-geral e destacou que a corrupção e a impunidade “destróem os sonhos de um Brasil mais justo”.
“Vamos denunciar a atuação do PGR como porta-voz dos ataques à Lava Jato, tentando esconder sob o manto de um garantismo de araque os reais interesses de quem sempre quis ‘estancar a sangria’ e ‘zerar o jogo’, beneficiando os bandidos que roubam este país desde sempre”, escreveu.
O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) denunciou uma “intensa movimentação” contra a Lava Jato, que teria o objetivo de “desqualificar” os investigadores responsáveis pelo “êxito” da operação.
“Não podemos permitir esta inversão absurda que pretende absolver todos os que foram condenados pela Lava Jato e ao mesmo tempo condenar todos os responsáveis pela existência desta operação”.
O senador Lasier Martins (Podemos-RS) também disse que a Lava Jato está “sob ataque”, e cobrou de Aras umas “comprovação” de que o combate à corrupção não será interrompido. Para o senador, a Lava Jato “mudou a trajetória da impunidade” no Brasil.
O procurador-geral Augusto Aras foi indicado para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019. Diferentemente dos seus antecessores desde 2001, Aras não fazia parte da lista tríplice elaborada pelas eleições internas do Ministério Público Federal, embora Bolsonaro tenha a prerrogativa de nomear alguém fora dela.