
“A autoproclamada Jeanine Áñez sabe que a única maneira de se manter no poder na Bolívia é que não haja eleições”, afirmou a ex-presidente do Senado, Adriana Salvatierra, acrescentando que os inúmeros adiamentos do pleito têm levado ao acirramento das tensões sociais, em meio ao caos gerado pela pandemia.
Em entrevista ao jornal argentino Página 12, Salvatierra condenou a decisão do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) de postergar pela terceira vez as eleições presidenciais – agora para 18 de outubro. “É uma decisão arbitrária, não consensuada e, além disso, ilegal”, sublinhou a senadora pelo Movimento Ao Socialismo (MAS).
Na última terça-feira o povo boliviano voltou às ruas numa gigantesca manifestação em El Alto, cidade vizinha a La Paz, para repudiar a decisão do TSE – que tem por presidente um indicado por Áñez, candidata a seguir na Presidência. A mais recente data prevista para votação era 6 de setembro, agora adiada para outubro.
Apesar da criminalização e da perseguição judicial existente contra o MAS – que levou à inabilitação do ex-presidente Evo Morales – e os movimentos sociais – que têm vários dirigentes criminalizados, sob ameaça de irem para a prisão, a candidatura do ex-ministro da Economia e professor universitário Luis Arce Catacora vence em todas as pesquisas.
Frente à iminente derrota dos que tomaram o poder de assalto em novembro do ano passado, advertiu a senadora Salvatierra, “existe forte pressão política por parte do governo”, que se utiliza do avanço da pandemia como tábua de salvação para um adiamento indefinido. “Assim, cada vez que se fixa a data das eleições, aparece um ascenso na curva de contágios. Porém o problema é que o governo não tem a capacidade para um cálculo efetivo de quando será o pico da pandemia. A Bolívia é um dos países que menos provas realiza para detectar o coronavírus. Além disso, os laboratórios departamentais (estaduais) estão fazendo os diagnósticos com atraso de mais de 28 dias. Quer dizer, os resultados de hoje são a realidade de quase quatro meses. Isso não nos permite ter uma cifra atualizada dos contágios”, denunciou.
Na avaliação de Salvatierra, a manifestação de terça-feira deixou claro que “o povo disse basta, expressando sua irritação com a decisão do adiamento”. “Esperamos que o TSE reconsidere e não rompa com a estrutura legal a partir do qual foi proposto o processo eleitoral. E também que não gere tensões desnecessárias entre as forças políticas”, acrescentou.