Da primeira vez, no início da pandemia, ele disse: “E daí? O que você quer que eu faça?”
Jair Bolsonaro repetiu o que vem fazendo desde o início da pandemia da Covid-19. Seguir desprezando os problemas do povo. Quando da primeira vez que foi cobrado sobre as mortes pelo vírus, disse: “E daí? O que você quer que eu faça?”. Agora, com o país chegando a 100 mil mortes, ele voltou a minimizar o drama de dezenas de milhares da famílias brasileiras que perderam seus entes queridos para o coronavírus.
“Estão querendo inflar o número de mortos para amedrontar a população. Não sei com que interesse. Levar mais pânico, dizer que está matando? Mandam os médicos atestarem Covid, mesmo sem ser. Então o número sobe”, disse ele.
“O que nós podemos fazer nesta situação? Não tem remédio e não tem vacina. Lamentavelmente, as pessoas que não se isolarem, até chegar a vacina, uma vez contraído o vírus, vai ter uma chance grande de se complicar e, até mesmo, entrar em óbito”, desdenhou.
“Tem bem menos gente morrendo de outras doenças do que no ano passado. Isso vai sendo creditado para o Covid. O elemento tem três, quatro, cinco comorbidades, até doze… A gente lamenta todas as mortes, vamos chegar a 100 mil, mas vamos tocar a vida e se safar desse problema”, disse o presidente, em sua live, nesta quinta-feira (07), ao lado do ministro interino da Saúde, o general Eduardo Pazuello.
“Tocar a vida” para Bolsonaro é negar a gravidade da situação e seguir provocando aglomerações. É vetar, como ele fez, a indenização às famílias dos profissionais de saúde que ficaram inválidos ou morreram em decorrência da pandemia.
“Tocar a vida” para Bolsonaro é reter mais da metade dos recursos que a Saúde deveria investir no combate ao vírus e deixar os municípios sem insumos para os testes de diagnóstico e leitos para tratar seus doentes. É impedir, por falta de testes e de equipamentos, os municípios de rastrear os contatos de infectados e garantir a interrupção da transmissão do Covid-19.
“Tocar a vida” para o presidente é largar a administração do país, deixando o país sem ministro da Saúde efetivo há mais de dois meses, em plena pandemia.
“O que nós podemos fazer nesta situação? Não tem remédio e não tem vacina”
Mas, não é só isso. Bolsonaro vetou a lei aprovada pelo Congresso que prorroga até o final de 2021 a isenção da folha salarial de 17 setores da economia que mais empregam mão de obra. Isso vai agravar o desemprego que está atingindo milhões de pessoas no país. Como disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator da matéria, “barrar a prorrogação da desoneração da folha é instituir um programa de demissão no país e agravar ainda mais a crise”.
Ele injetou dinheiro nos bancos e não garantiu que os créditos chegassem às empresas, agora veta a isenção da folha e insiste em dizer que a culpa pelo desemprego é dos governadores que tomaram medidas de proteção à população contra o coronavírus. Por ele, morria muito mais gente. Afinal, é só uma “gripezinha” de nada. E a vida segue “sendo tocada”.
Os países que agiram de forma consequente contra o vírus, como foram os casos dos países asiáticos, ente eles Coreia do Sul, Singapura e China, já estão com uma recuperação mais firme de sua economia. Os países que, como o Brasil e os Estados Unidos, não testaram em massa e não isolaram os pacientes e seus contatos, países que não protegeram os trabalhadores do setores essenciais, que tiveram que seguir trabalhando, estão com a economia em frangalhos e milhares de mortes diariamente.
No Brasil são mais de mil pessoas morrendo diariamente há mais de um mês. É como se cinco explosões iguais àquela do Líbano atingissem todos os dias o país. Mas, Bolsonaro fecha os olhos para este problema e tenta culpar os outros pelas mortes e pela crise econômica, particularmente os governadores que conseguiram, com as medidas tomadas a duras penas, reduzir a taxa de infecção pela metade.
Países como a Suécia, que seguiram o que pensa Bolsonaro e Trump, mantiveram as atividades econômicas normais durante a pandemia, agora estão com o desemprego nas alturas. O que mostra que, de nada adianta Bolsonaro fugir de sua responsabilidade e ficar culpando os outros pela crise.
Tem que aumentar os gastos públicos e defender a população do vírus. Ao invés de tomar essas medidas urgentes, ele fica, como disse o governador de São Paulo, João Doria, passeando de jet ski e de helicóptero para baixo e para cima, em campanha, enquanto o país afunda na pior crise sanitária e econômica da história.
Ainda por cima, Bolsonaro segue batendo na tecla surrada e ridícula da cloroquina. Voltou a defender, na live de quinta-feira (06), o uso desta medicação, que é usada para malária, e que não se confirmou eficaz contra a Covid-19. O mundo inteiro já virou essa página, mas Bolsonaro insiste em sua charlatanice. Inclusive baseando-se em situações de desespero da população para continuar sua “pregação” terraplanista.
Aliás, uma pregação que não tem nada de original. É pura imitação de Donald Trump. O presidente dos EUA, também adepto da cloroquina, recentemente disse que as pessoas deviam injetar desinfetante na veia para combater o vírus. Algumas pessoas seguiram seu “conselho” e foram parar no hospital intoxicados.
Agora, Bolsonaro repete a estultice de Trump, só que com água de coco. Baseando-se em histórias de que soldados que iriam morrer de desidratação na Guerra do Pacífico, usaram, no desespero da falta de soro fisiológico, a água de coco injetada, e se salvaram, ele defende o mesmo raciocínio para a Covid-19. Estimula, como fez Trump, a que a população use qualquer coisa para tratar a doença.
É por essas e por outras que ele orientou o ministro interino, general Pazuello, a receber no Ministério da Saúde o prefeito de Itajaí, que está preconizando o uso de ozônio, via retal, para o tratamento da Covid-19. Esperamos que não haja por aqui desavisados que façam o mesmo que alguns americanos fizeram com o desinfetante de Trump.
Até quando é obrigado a tomar alguma medida, como é o caso da vacina, ele resolve abraçar a proposta errada só por preconceito e submissão ideológica. Escolheu uma delas, só porque é inglesa. Até aí tudo bem, mas ele iniciou uma campanha de ataques virulentos à vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa Sinovac, só porque ela é uma empresa chinesa.
As duas vacinas estão sendo testadas no Brasil, sendo que Bolsonaro mal sabe que mesmo a vacina referida dele, da Astra Zêneca, uma multinacional inglesa, que foi desenvolvida em Oxford, será produzida também pela China, a pedido. E o pior, o governo brasileiro terá que desembolsar, com já o fez, uma quantia de R$ 1,9 bilhão para a Astra Zêneca, só pelo direito de fabricar a vacina no país, sem contar os investimentos necessários para a própria produção.
A vacina do Butantan/Sinovac não terá patente, já que o governo chinês anunciou que sua vacina será um bem público mundial, e o Brasil não terá, portanto, que desembolsar a mesma quantia para a sua fabricação no país.
Assista trechos da live