No momento em que o Brasil ultrapassa os cem mil mortos na atual epidemia de COVID-19, Bolsonaro, em publicação no Twitter (ver abaixo), disse que o Brasil, nesta pandemia, “tem um dos menores índices de óbitos por milhão entre as grandes nações”.
A afirmação é completamente mentirosa – e é, por si só, um retrato do caráter desse elemento que ocupa, no momento, o Palácio do Planalto.
O Brasil tem, hoje, a quinta mortalidade por COVID-19 do mundo: 48,4 mortes por 100 mil habitantes (v. PAINEL CONASS, 10/08/2020).
No mundo, a mortalidade somente é maior na Inglaterra (70,1 mortes/100 mil habitantes), Peru (66,5 mortes/100 mil habitantes), Chile (54,1 mortes/100 mil habitantes) e Estados Unidos (49,9 mil mortes/100 mil habitantes) – v. The Johns Hopkins Coronavirus Resource Center (CRC), Mortality Analyses.
Com mortalidade inferior ao Brasil, pela COVID-19, estão 211 países.
O resultado é dado em mortos/100 mil habitantes, exatamente, para evitar que as diferenças de população impeçam a comparação entre o número de mortos – a mortalidade – nos vários países do mundo.
Essa mortalidade aberrante é um resultado da ação de Bolsonaro – talvez as duas demissões de ministros da Saúde (os médicos Mandetta e Teich) e o fato da pasta continuar sem titular, em meio a uma pandemia, com um oficial-paraquedista como bedel dos funcionários, e com ignorantes em saúde pública ocupando os principais cargos de confiança, seja suficiente para definir a responsabilidade criminal de Bolsonaro por mais de 100 mil mortes.
Em sua publicação, Bolsonaro fala em “óbitos por milhão” e em “grandes nações” – portanto, nos países mais populosos do mundo.
Vejamos, então, os 15 países de maior população no mundo, ordenados por mortalidade causada pela epidemia de COVID-19:
1) EUA: 49,9 mortes/100 mil habitantes;
2) Brasil: 48,4 mortes/100 mil habitantes;
3) México: 42 mortes/100 mil habitantes;
4) Rússia: 10,4 mortes/100 mil habitantes;
5) Egito: 5,1 mortes/100 mil habitantes;
6) Índia: 3,4 mortes/100 mil habitantes;
7) Paquistão: 2,8 mortes/100 mil habitantes;
8) Indonésia: 2,2 mortes/100 mil habitantes;
9) Filipinas: 2,2 mortes/100 mil habitantes;
10) Bangladesh: 2,1 mortes/100 mil habitantes;
11) Japão: 0,8 mortes/100 mil habitantes;
12) Nigéria: 0,5 mortes/100 mil habitantes;
13) Etiópia: 0,4 mortes/100 mil habitantes;
14) China: 0,3 mortes/100 mil habitantes;
15) Vietnã: 0,02 mortes/100 mil habitantes.
Pois, entre as “grandes nações”, o Brasil é o segundo país com maior mortalidade.
O primeiro é os EUA, do padrinho de Bolsonaro, Donald Trump.
Países muito mais populosos que o Brasil, como a China e a Índia, têm uma mortalidade (número de mortos por 100 mil habitantes) muito inferior à do Brasil.
Aliás, com exceção dos EUA, todos os países do mundo com maior população que o Brasil (China, Índia, EUA, Indonésia e Paquistão) têm mortalidade por COVID-19 inferior à que nos assola.
Bolsonaro é um mentiroso – e um mentiroso sem escrúpulos.
É, além disso, covarde – não assume sua própria política, que é a de que “todo mundo morre”, contanto que quem morra sejam os outros, isto é, o povo. Não foi isso o que ele defendeu desde o início da epidemia – e repetiu há poucos dias (v. HP 07/08/2020, Bolsonaro faz pouco dos 100 mil mortos no país e diz que vai “tocar a vida e se safar”)?
O resto da publicação, também, é mentiroso.
a) “Quase 3 milhões de vidas salvas ou em recuperação”.
Bolsonaro não salvou vida alguma. Pelo contrário.
Mas existem, certamente, os que, graças aos esforços dos profissionais de saúde, dos governadores e dos prefeitos, escaparam da morte, entre os que ficaram doentes.
Porém, mesmo que atribuíssemos todas as recuperações da COVID-19 a um milagre (que Deus nos perdoe!) de Bolsonaro, ainda assim, os números que ele exibiu seriam mentirosos.
Três milhões é o número total de casos de COVID-19 no Brasil (3.057.470 na última segunda-feira, 10/08) até agora. Destes, houve, até agora, 2.390.830 pacientes que já foram considerados recuperados (cf. JHU/CRC, COVID-19 Dashboard).
Bolsonaro, portanto, inflacionou o número de recuperados em mais de 600 mil.
Pode parecer uma curiosidade, mas revela a falta de respeito aos brasileiros, que é entranhada em Bolsonaro, doentiamente.
b) “Sempre um dos países que mais recupera infectados”
A maior parte dos infectados – mais de 80% – nem sequer desenvolve a doença, isto é, a COVID-19.
Não necessitam, portanto, de qualquer recuperação.
Por isso, a frase de Bolsonaro é um mero engana-trouxa.
Mas, depois de mais de 100 mil mortes, é preciso ser muito trouxa para ser enganado por esse indivíduo.
c) “Sempre com índice de recuperação acima dos 95%”
Quem escreveu essa falsificação para Bolsonaro, simplesmente subtraiu a taxa de letalidade (a percentagem de doentes que morrem pela COVID-19, que variou de um pouco menos de 5% para, atualmente, um pouco mais de 3%) do total de doentes (considerado, aqui, como 100%).
Para ser mais exato: subtraiu de 100 os pontos percentuais que correspondem aos doentes que morrem.
O resto, para esses falsários, é índice de recuperação. Graças, é claro, ao governo Bolsonaro…
Seu grande sucesso, portanto, é que ele não conseguiu matar todos os doentes.
E se gaba desse sucesso, em um país que tem, repetimos, a quinta maior mortalidade do mundo pela COVID-19 – e a segunda maior mortalidade entre os países de maior população.
C.L.
Este é o pior desgoverno pós redemocratização do país por que é apoiado por muitas pessoas más incompetentes e inoperantes em todos os setores é uma lástima ou seja é um desgoverno B.O bom pra otário.