Ministro Edson Fachin, vice-presidente do TSE, atendeu pedido da ex-ministra Marina Silva, da Rede, atacada nas eleições de 2018
O vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, intimou o Facebook a dar informações sobre os responsáveis por sete perfis usados para difamar a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, antes das eleições de 2018, quando ela saiu candidata à Presidência da República.
A decisão foi tomada no dia 3.
A ação, impetrada por Marina Silva e o partido Rede Sustentabilidade, argumenta que páginas bolsonaristas nas redes sociais fizeram propaganda eleitoral antecipada difamando a então candidata.
As publicações difamaram e divulgaram notícias falsas sobre a ex-ministra Marina Silva.
De acordo com uma matéria do jornal El Pais, um grupo de pesquisadores em Tecnologias da Comunicação e Política (TCP) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) monitoraram desde maio de 2018 grupos de WhatsApp em apoio a candidatos presidenciais. Inseridos em 90 grupos, os 14 pesquisadores estudaram o comportamento dos usuários para descobrir como as pessoas se organizam para viralizar conteúdos eleitorais no WhatsApp.
Os pesquisadores monitoraram 28 grupos autodenominados “conservadores” ou “pró- militares” e 24 grupos de apoio ao PSL e Bolsonaro. Entraram também em 18 grupos de apoio ao PT ou a Haddad, 4 de apoio ao PSDB ou Geraldo Alckmin, 4 de apoio a Marina Silva, 2 de apoio a Ciro Gomes e 1 de apoio a Henrique Meirelles. Além disso, acompanharam 9 grupos para discussões de política geral ou suprapartidária.
A coordenadora Alessandra Aldé afirmou, na época, que existe uma ordem para o caos cibernético. “As notícias falsas têm caminhos específicos. Esses fluxos não são aleatórios e existe uma técnica específica para fazer com que a informação falsa viralize. E isso é muito importante”. O estudo descobriu que a cada 30 mensagens, pelo menos uma foi enviada do exterior.
“A notícia entra em um grupo e nesse grupo tem contato com 250 e poucas pessoas. Dessas 250 e poucas, algumas voluntariamente pegam e replicam isso em outros grupos. Não só como vítimas que compartilharam uma vez e não compartilham mais. Compartilham isso de uma forma sistemática”, explicou João Guilherme, que coordenou o núcleo de análise de dados do grupo.
Ainda conforme El Pais, nos cinco meses de monitoramento, os pesquisadores perceberam que grupos pró-Bolsonaro tinham um alcance mais vasto e uma organização maior na disseminação de notícias falsas em comparação com os demais.
Um dos maiores exemplos disso se deu no primeiro turno da eleição presidencial, com um boato de que havia uma fraude eleitoral em curso.
O grupo de pesquisa da Uerj seguiu uma mensagem específica: “TSE informa: 7,2 milhões de votos anulados pelas urnas! A diferença de votos que levaria à vitória de Bolsonaro no primeiro turno foi de menos de 2 milhões”. Segundo os pesquisadores, o boato apareceu 202 vezes em 41 dos 90 grupos. Destes 41 grupos, 37 estão no conjunto de apoio a Bolsonaro, grupos de direita e pró-militar e 4 de política em geral.
“O que a gente percebe é que o campo do Bolsonaro está muito mais organizado para fazer isso do que os outros candidatos. Então eles anteciparam essas estratégias e já começaram a construir esses grupos”, disse Alessandra.
“Chamou atenção da gente também essa falta de compromisso de quem difunde essas notícias como verdade. Porque não se trata de fatos, não tem uma objetividade, é desqualificação, geralmente moral, e associações que são muito impróprias, inadequadas. É uma campanha muito mentirosa. Realmente o nível de notícias falsas é muito maior na campanha de Bolsonaro do que em qualquer outra campanha. Isso é visível. E a gente está em dezena de grupos”.
Para Alessandra, quem alimenta essa rede de desinformação são produtores profissionais de conteúdo. “Existe uma produção profissional de memes, de várias coisas bem-feitas esteticamente. São lançadas para números de celulares em vários locais diferentes. O celular mostra, por exemplo, a região da pessoa, porque tem o prefixo. Você pode achar associações entre bancos de dados, celulares e CEP e usar isso para direcionar a sua propaganda atingindo os grupos e circulando dentro de grupos específicos. Então existe uma técnica”.
Segundo o pesquisador João Guilherme Bastos dos Santos, os membros orquestram inclusive ataques coletivos. “Por exemplo, antes do primeiro turno saiu a notícia de um instituto de pesquisa específico que desagradou eles. Aí, algumas pessoas desses grupos identificam o estatístico responsável, pegam o Facebook da pessoa e jogam no grupo do WhatsApp. As pessoas usam isso para chegar até essa pessoa e ameaçar”, diz.
João Guilherme conta que viu também grupos de apoio a Marina Silva e Ciro Gomes serem atacados por apoiadores do Bolsonaro que se infiltraram, entravam fingindo ser simpatizantes e lá dentro começavam a atacar. Em um caso, esses infiltrados chegaram a virar administradores de um grupo pró-Marina para depois deletar o grupo.