A recepção a Bolsonaro, pelo ex-vice-governador de São Paulo, Márcio França, durante a reinauguração da ponte de Barreiros, em São Vicente, no último dia sete, causou constrangimento no PDT e no partido de França, o PSB (v. HP 09/08/2020, Inaugurações perigosas).
Ambos os partidos têm posição definida contra o bolsonarismo e pela defesa da democracia.
Sem citar nomes, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, escreveu nas redes sociais de que participa:
“O PDT não irá tolerar pré-candidato vinculado ao bolsonarismo. Se houver algum caso, terá sua pré-candidatura suspensa. Estaremos atentos se houver qualquer denúncia.”
Márcio França é pré-candidato a prefeito de São Paulo.
Na última sexta-feira (07/08), Márcio França escrevera, em seu Twitter, acima de uma foto com Bolsonaro, na inauguração da ponte em São Vicente:
“Nesse momento, me encontrando com o Presidente Jair Messias Bolsonaro. Através das boas relações, diálogo e união é que podemos ajudar o povo. Vamos achar maneiras para que a ajuda humanitária chegue aos que necessitam. #DiálogoComJair #AjudaHumanitária #UniãoDeEsforços”
A reação do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi (“O PDT não irá tolerar pré-candidato vinculado ao bolsonarismo. Se houver algum caso, terá sua pré-candidatura suspensa”), estabelece um limite claro para alianças nas próximas eleições, especialmente em São Paulo.
Mas não somente.
Lupi, com sua mensagem, também distinguiu a política do PDT daquela do PT, que fechou aliança com Bolsonaro – através do próprio Flávio Bolsonaro – para apoiar o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner Carneiro, o Waguinho (MDB), candidato à reeleição.
Esta aliança com Bolsonaro foi defendida pelo presidente estadual do PT fluminense e membro da Executiva Nacional do partido, Washington Quaquá, segundo o qual, “só é contra [a aliança do PT com o bolsonarismo em Belford Roxo] quem adora teorizar a Baixada tomando chope em Ipanema”.
Logo, pode-se concluir que, fora da Zona Sul do Rio, todo mundo deve ser a favor de acumpliciar-se com Bolsonaro e família…
Mas o dirigente petista deve estar errado.
Além de Lupi, presidente nacional do PDT, dirigentes nacionais do PSB manifestaram-se contra a aproximação, em São Paulo, com Bolsonaro. O chefe do bolsonarismo no Estado é outro filho de Jair Bolsonaro – Eduardo Bolsonaro.
Um dos dirigentes do PSB que falaram à imprensa, considerou “ingenuidade” a aproximação de Márcio França com Bolsonaro – a esperança de que o eleitorado de direita rejeitaria Doria e o prefeito da capital, Bruno Covas, ambos do PSDB, para apoiar Márcio França, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), parece a esse dirigente algo fantástica.
Com efeito. Mais fantástica, ainda, parece ser a ideia de que Bolsonaro possa colocar a máquina federal a serviço da candidatura de Márcio França em São Paulo.
Outro dirigente do PSB lembrou que o partido já decidiu nacionalmente, desde 2018, através de seu órgão máximo, a Convenção Nacional, que está excluído – e vedado aos membros do PSB – qualquer apoio a Bolsonaro.
Tanto assim, continuou o mesmo dirigente, que o PSB expulsou o prefeito de Chapecó exatamente por essa razão.
“Márcio França não pode servir a dois senhores”, declarou o deputado Orlando Silva, pré-candidato do PCdoB a prefeito de São Paulo. “Ele está, como dizia Brizola, costeando o alambrado. Se tem um tema de convergência no campo democrático é a crítica ao Bolsonaro”.
Alguns pré-candidatos do PDT a vereador em São Paulo, afirmaram que iriam tirar o nome de Márcio França do seu material de pré-campanha, se este insistisse na aproximação com Bolsonaro.
Um deles declarou:
“Se ele não quiser atacar o presidente, tudo bem. Mas não precisa ficar alisando o Bolsonaro. Não adianta nada a gente se opor ao Bolsonaro e aí vai o Márcio França e faz isso.”
Outro integrante do PDT afirmou que, se Márcio França continuar acenando para Bolsonaro, defenderá que seu partido apoie a candidatura de Orlando Silva (PCdoB): “Somos uma chapa de esquerda, então não dá para a gente conviver minimamente com o bolsonarismo”.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que Márcio França avisou a ele do encontro com Bolsonaro. Segundo Siqueira, esse encontro nada teve a ver com qualquer aproximação com o bolsonarismo: “Isso é completamente improcedente. Ele estava junto com a comunidade libanesa e queria tratar de uma questão humanística. Não tem nada mais do que isso e nem poderia ter. Não há nenhuma identidade que possa nos aproximar [de Bolsonaro]”.
Márcio França, após o dia do encontro com Bolsonaro – e de sua mensagem no Twitter, que depois foi retirada da rede -, disse que recebeu convite de Bolsonaro, para participar da reinauguração da ponte em São Vicente, através do celular de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e apoiador do atual ocupante do Palácio do Planalto.
França teria aceitado o convite porque está organizando uma campanha de solidariedade ao Líbano – a esposa de Márcio França, assim como Paulo Skaf, é descendente de libaneses – e Bolsonaro prometeu um avião para transportar donativos a Beirute.
Entretanto, o relacionamento de Márcio França com Bolsonaro é bem anterior ao último dia quatro, quando ocorreram as explosões no porto da capital libanesa.
Como dissemos em matéria anterior, em janeiro, Bolsonaro já fora visitado pelo filho de Márcio França, o deputado estadual Caio França (PSB) e pelo prefeito de São Vicente, Pedro Gouvêa (MDB), também presente à reinauguração da ponte de Barreiros. A visita de Bolsonaro a São Vicente, segundo foi dito durante o ato, foi articulada pela deputada federal Rosana Vale, do mesmo partido de França.
Apenas há algumas semanas, no mês passado, Márcio França declarou ao jornal “O Globo” que “não tem dúvidas” de que os eleitores de Bolsonaro podem escolhê-lo como candidato a prefeito de São Paulo.
C.L.
Matéria relacionada:
As matérias de Carlos Lopes sobre aproximação da candidatura Márcio França com o bolsonarismo primam pela lucidez .
São muito oportunas e contribuem bastante para reflexão da questão.