O comitê executivo do Congresso Nacional Africano (CNA), partido no poder na África do Sul, decidiu retirar ou destituir o atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, após uma reunião de 13 horas na segunda-feira (12). Inicialmente houve a notícia de que havia sido dado um prazo de 48 horas para que ele cumprisse a decisão. Nesta terça-feira (13) o Congresso Nacional Africano (CNA), confirmou que exigiu a renúncia do presidente Jacob Zuma, sem, contudo, definir uma data para o cumprimento desta decisão.
Ace Magashule, secretário-geral do CNA, confirmou que o partido requereu formalmente a renúncia de Zuma, após “discussões exaustivas”. Magashule disse que as conversas entre Zuma e membros do partido continuam em andamento. Ele afirmou que comunicou a decisão a Zuma nesta terça e que não deu a ele um prazo para responder. Disse ainda que acredita que o presidente vai acatar a decisão e que é “óbvio” que o partido quer que o vice-presidente do país, Cyril Ramaphosa, o substitua no cargo.
Desde que o vice-presidente Cyril Ramaphosa foi eleito líder do partido, em dezembro, Zuma vem enfrentando crescentes chamados dos seus correligionários para dar um fim ao seu segundo mandato que se estenderia até meados de 2019. O mandato de Zuma está sendo marcado por escândalos de corrupção. O comitê executivo do partido tem a autoridade de ordenar a demissão de Jacob Zuma como chefe de Estado sul-africano.
O partido, que venceu todas as eleições presidenciais desde o início do período democrático em 1994, elegeu Cyril Ramaphosa para substituí-lo na liderança. As regras internas do partido estabelecem que todos os membros da sigla, incluindo os cargos eleitos, devem submeter-se às decisões partidárias; no entanto, se Zuma se negar a deixar seu cargo, a única via possível seria uma moção de censura parlamentar.
Zuma responde a acusações por envolvimento em 783 casos de corrupção, ao longo de toda a sua vida pública. Além da “captura do Estado” por interesses dos monopólios e empresas privadas, o caso de corrupção que mais chocou os sul-africanos está relacionado à utilização de dinheiro público para financiar obras em uma de suas casas particulares.
A “Captura do Estado” foi o título de um relatório publicado ano passado pela promotora de justiça, Thuli Madonsela. De acordo com o documento, as benesses dadas por Zuma às empresas da família Gupta, desviaram dos cofres públicos entre 150 e 200 bilhões de rands (9 a 12 bilhões de euros).
Tudo veio a público com a divulgação das investigações envolvendo a família Zuma e os irmãos Gupta – os magnatas indianos radicados na África do Sul, Atul, Ajay e Rajesh Gupta, que angariaram vasta influência política e econômica. A associação teria tido início já em 2007, ano que Zuma assumiu o cargo. Desde então, diversas empresas ligadas aos Gupta receberam concessões e contratos públicos, sobretudo no setor de mineração. São laços tão próximos, que ambas as famílias são conhecidas como os “Zuptas” no país.
Atualização em 14-02-2018 às 11:00 h
Zuma se defende na TV estatal
Jacob Zuma, se defendeu nesta quarta-feira (14) em entrevista à TV estatal de seu país sobre as pressões de seu partido por sua renúncia. Ele disse que não fez nada de errado, que o Congresso Nacional Africano (CNA) não deu motivos que justifiquem sua saída e considerou o pedido de “injusto”.
“Não há nada que eu tenha feito errado”, afirmou. “Eu não acho que é justo, eu acho que é injusto [o pedido de renúncia]”, disse. Zuma disse que propôs ao partido renunciar em junho, com o objetivo de criar um ambiente de “estabilidade e unidade” no país, e que inicialmente o partido concordou.
Nesta quarta-feira, o CNA anunciou que, se ele não renunciar, vai apoiar uma moção de censura contra ele no parlamento – a única maneira de tirá-lo do poder caso ele se negue a cumprir a decisão de seus colegas de sigla de sair do governo. A votação foi marcada para quinta-feira (15).