
Os trabalhadores dos Correios aprovaram greve por tempo indeterminado em diversos estados após assembleia virtual realizada na noite desta segunda-feira, 17.
A categoria denuncia que a empresa cortou uma série de direitos, afetando diretamente a renda dos funcionários da empresa, que durante a pandemia do coronavírus mantiveram a prestação dos serviços de entregas de mercadorias, considerados essenciais no período.
Os cortes foram feitos após a suspensão do Acordo Coletivo de Trabalho, conquistado em 2019 e aprovado com dois anos de vigência. Após uma liminar conseguida no Supremo Tribunal Federal (STF), o acordo foi reduzido para um ano, sendo encerrado no último dia 31 de julho. Desde então, diversas cláusulas do acordo foram cortadas da noite para o dia.
Durante a votação, lideranças das entidades denunciaram os efeitos que os ataques da empresa estão causando aos trabalhadores e suas famílias.
“Essa greve é contra os ataques que estamos sofrendo. Contra a retirada do alimento da nossa mesa, que já ocorreu na última sexta-feira, quando recebemos 4 tickets-alimentação a menos”, afirmou um dos dirigentes da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect).
“Estão tirando da mesa dos trabalhadores R$ 200. Não precisa falar que o arroz e o feijão só fazem aumentar e eles vêm atacar o alimento da nossa família. Mas, mais do que isso, atacam a renda, os salários dos trabalhadores. Cortaram os 70% das férias. Há companheiros que estão recebendo R$ 39 reais de ticket. Companheiros que trabalham à noite, que são castigados com metas, recebendo 20% do adicional noturno, enquanto no nosso acordo coletivo era 60% o adicional”, afirmou.
“Ficou claro que o que a empresa quer é acabar com nosso acordo coletivo. Querem manter o mínimo previsto na CLT, a não ser que amanhã também queiram acabar com a CLT e nos fazer trabalhar por um prato de comida”, ressaltou outro dirigente.
A vigência do acordo por dois anos chegou a ser julgada e aprovada em dissídio coletivo pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Mesmo assim, a empresa recorreu ao STF. Além da redução do acordo vigente, a diretoria dos Correios pede a suspensão da divisão do convênio médico em que os trabalhadores pagariam 30% do valor, enquanto os Correios custeariam 70%. Com isso, a empresa passou a aplicar a fórmula 50/50.
De acordo com nota da Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect), “a expectativa é que a greve ganhe força a cada dia com a adesão dos trabalhadores em todo país, seja da área operacional, tratamento ou administrativo, tendo em vista a postura agressiva da direção da empresa, que quer a retirada e redução de direitos e benefícios de toda a categoria, conquistados através de muita luta”.
“Nossa greve é contra a retirada de direitos e benefícios, pela manutenção dos empregos, pela preservação dos direitos já conquistados pela categoria e ratificada pela decisão do TST no julgamento em 2019”. “Nossa pauta não é por aumento salarial e sim pelo cumprimento da sentença normativa do TST”, afirma a Federação.
A decisão sobre a vigência do acordo e a definição sobre o plano de saúde estão em julgamento no STF desde sexta-feira, 14, e deverá ocorrer até o próximo dia 21.
A categoria recebeu o apoio da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), que prestou “solidariedade às entidades sindicais de base em total e irrestrito apoio a essa importante jornada de lutas em defesa da vida, dos direitos e do patrimônio do povo brasileiro”, disse o presidente da Central, Adilson Araújo.
Em São Paulo, a categoria marcou uma carreata para o próximo dia 19 de agosto com saída do estacionamento do estádio municipal do Pacaembu. Ficou definida ainda uma nova assembleia para o dia 22 de agosto, um dia após o término do julgamento sobre o acordo coletivo no STF.
De acordo com a Findect, a greve foi decretada nos seguintes locais: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Bauru, Brasília, Campinas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Juiz de Fora, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Santa Maria, Santos, São Paulo, Sergipe, São José do Rio Preto, URA – Uberaba e Vale do Paraíba.