Para o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, a desindustrialização do país também dificultou o combate à pandemia. “O Brasil perdeu espaço e está enfrentando uma desindustrialização”
O presidente da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu Moreira, afirmou que “os recursos” destinados pelo governo Bolsonaro à Ciência “são baixos em relação às necessidades. Sem falar que alguns deles estão saindo com muito atraso”.
Segundo ele, os cientistas foram pegos “desprevenidos, porque a ciência brasileira tem sofrido cortes acentuados de recursos, e isso faz com que a gente tenha que enfrentar essa situação num quadro complicado”.
Mesmo assim, “os brasileiros podem se orgulhar do desempenho da ciência brasileira na tentativa de responder à crise que estamos enfrentando. As universidades, por exemplo, estão trabalhando com bastante empenho, mesmo tendo que de se adaptar a situações bastante precárias”, disse durante a audiência pública feita pelo Congresso Nacional.
Deputados e senadores da Comissão Mista destinada a acompanhar a situação fiscal e a execução orçamentária e financeira das medidas relacionadas ao coronavírus participaram da audiência junto aos presidentes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, o diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Américo Pacheco, e o ex-presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, em sessão virtual.
“No pós-pandemia, vamos precisar recuperar, atualizar e manter os laboratórios das universidades, além de criar novos laboratórios”, prosseguiu Ildeu.
Ildeu explicou que de R$ 452 milhões investidos pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) durante a pandemia, apenas “R$ 100 milhões foram direcionados à pesquisa para o combate à Covid-19”.
“Não há saída sem ciência e tecnologia. E para isso, é preciso continuidade, recursos, planejamento e visão para apoiar as iniciativas promissoras e de qualidade que temos no Brasil”, afirmou.
Para Ildeu Moreira, os cortes previstos pelo governo Bolsonaro para 2021, que estão na casa de 18% para o Ministério da Educação e 15% para o MCITC, deixarão a situação ainda mais difícil.
“Estamos preocupados com essas perspectivas, porque vivemos um momento em que a educação e as pesquisas científicas são cada vez mais fundamentais para nossa sociedade”.
O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, denunciou o contingenciamento de 90% da verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)
“Vamos lutar pelo fim do contingenciamento do FNDCT e por um orçamento de ciência e tecnologia para 2021 que permita realmente uma recuperação do país. É muito importante evitar cortes nesse orçamento”.
Davidovich também acredita que a resposta ao coronavírus no Brasil foi dificultada pela desindustrialização pela qual o país passou.
“O Brasil perdeu espaço e está enfrentando uma desindustrialização. Em 1983, a indústria representava cerca 35% do PIB, agora, em anos mais recentes, passou para 11%. Estamos com um nível de inovação insuficiente”.
O ex-presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, professor da Universidade de São Paulo (USP), disse que o Brasil tem tudo para avançar no desenvolvimento de pesquisa e desenvolvimento e ressaltou que nos últimos 30 anos o País avançou bastante na capacitação de cientistas.
“Mesmo com exemplos negativos de não liberação de recursos, os cientistas brasileiros têm se mostrado qualificados e empenhados no enfrentamento da covid-19. O problema é que a pesquisa brasileira nunca foi tão encurralada e tão depreciada. Mesmo assim, nossas universidades estão mostrando ter vitalidade e desenvolvendo pesquisas com esforços coletivos. A ciência salva vidas. É uma realidade difícil de ser entendida da elite política do nosso país”, criticou.
Carlos Américo Pacheco, diretor da Fapesp, citou algumas iniciativas da instituição no enfrentamento e enfatizou que o Brasil precisa encarar a ciência, tecnologia e inovação como fatores muito importantes para a soberania nacional. Ele destacou a corrida no mundo neste momento para a produção da vacina contra a covid-19.
“A gente viu uma corrida gigantesca de sequestro de ventiladores, com barreiras à exportação de equipamentos, insumos, etc. Isso é um negócio que tem que chamar a atenção dos governantes do Brasil nesses próximos anos. É uma questão de soberania. Para questões que são complicadas, como saúde pública, você não pode ser vulnerável. Existe uma cadeia de suprimentos que pode ser bruscamente interrompida por uma medida de outro país. No que diz respeito à produção de insumos e equipamentos médico-hospitalares, essa questão é crítica e precisa ser encarada com seriedade pelo Governo”, declarou.
Veja o debate na íntegra:
Fonte: Jornal da Ciência