Depois da divulgação, no domingo (23), de um vídeo que mostra o momento em que um policial atira sete vezes contra as costas de Jacob Blake, de 29 anos, diante de três de seus filhos, a cidade norte-americana de Kenosha (sudeste de Wisconsin) foi palco da segunda noite de manifestações de revolta da população contra o racismo e a violência que permeia as tais ‘forças de segurança’.
À semelhança do que aconteceu com George Floyd – o negro de 46 anos asfixiado em 25 de maio quando um policial branco se ajoelhou por vários minutos em seu pescoço – o episódio covarde da truculenta abordagem de Blake foi filmado por uma testemunha e o vídeo foi divulgado fartamente nas redes sociais.
Centenas de manifestantes saíram mais uma vez às ruas, na segunda-feira (24), para exigir a prisão dos policiais que atiraram em Jacob, desafiando o toque de recolher noturno imposto na cidade. Dispersos várias vezes pela polícia com gases e granadas sonoras, em poucos minutos os manifestantes se reagrupavam.
Os agentes foram ao local onde Jacob estava por uma suposta denúncia de violência doméstica. Mas, no vídeo que registrou os fatos, aparece Blake caminhando lentamente, desarmado e sem opor resistência. Mesmo que tivesse cometido algum ilícito, bastava que os policiais que se aproximaram dele o detivessem. No carro que lá estava estacionado, três filhos pequenos de Blake assistiram todos os golpes e tiros. Ele tem seis filhos, com idades entre 3 e 13 anos.
Em entrevista ao jornal “Chicago Sun-Times”, o pai da vítima disse que ele está paralítico da cintura para baixo e que os médicos ainda não sabem se a lesão será permanente. “O que justificou todos aqueles tiros?”, questiona o pai que também se chama Jacob. “O que justificava fazer isso na frente dos meus netos? O que estamos fazendo”, questionou. Ele está em Charlotte, na Carolina do Norte, e espera encontrar o filho logo.
LeBron Raymone, conhecido jogador profissional de basquete, uma das estrelas do time Los Angeles Lakers, também expressou seu repúdio ao atentado. “Homens negros, mulheres negras e crianças negras… Estamos aterrorizados”, assinalou. “Se você olha o vídeo, houve vários momentos em que, se quisessem, poderiam abordar ele… Poderiam ter segurado ele. Por que sempre tem que se chegar a um ponto em que vemos armas disparando? Honestamente, estamos muito mal como comunidade”, sentenciou. Diversos membros da Associação Nacional de Basquete (National Basketball Association, em inglês), NBA, repudiaram a brutalidade contra os negros.
A União Americana pelas Liberdades civis (American Civil Liberties Union, ACLU), em documento chamado “A outra epidemia: tiroteios mortais da polícia em tempos de Covid-19”, denunciou o que aconteceu a Blake como “mais um ato nojento de brutalidade policial”.
“O fato de que uma violência policial como essa — a exemplo dos assassinatos de Breonna Taylor, George Floyd, Eric Garner e muitos outros — tenha se tornado algo comum mostra que a própria instituição policial americana está podre em sua essência e precisa ser reformada”, disse a ACLU no Twitter.
Segundo a importante entidade, até 30 de junho deste ano, 511 pessoas foram assassinadas a tiros em comparação com 484 do mesmo período em 2019. Mas, esse número certamente é maior porque não se consideram as mortes cometidas pelas forças de segurança que não foram causadas por disparos. Casos como o de Georde Floyd, por exemplo, não entram nessa lista.