“Com uma tempestade potencialmente catastrófica, ventos extremos e inundações”, o furacão Laura alcançou as costas dos Estados Unidos, nesta quinta-feira. “Extremamente perigoso”, deixando ao menos quatro mortos e obrigando a evacuação de mais de 600 mil pessoas.
De acordo com especialistas, a tragédia que atingiu as costas da Luisiana e do Texas deixou danos de cerca de US$ 100 bilhões aos Estados, principalmente devido a inundações que poderiam ter sido evitadas com construções pontuais.
Além disso, investimentos públicos em prevenção de calamidades deste tipo – denunciaram – foram vetados por Trump ao Padrão Federal de Gerenciamento de Risco de Inundação (Federal Flood Risk Management Standard) – dez dias antes da chegada do Laura.
“Vamos reconstruir coisas que não deveriam ser reconstruídas e … de maneiras menos seguras e protegidas do que deveriam ser”, reagiu Eli Lehrer, presidente do R Street Institute. Para Lehrer, a decisão de Trump representou “o maior retrocesso já feito na política de gerenciamento de enchentes”.
Na mesma linha, Shana Udvard, especialista em preparação para o clima da Union of Concerned Scientists, alertou que foi um “grave erro” o republicano ter ignorado estudos que apontam que “para cada dólar gasto na mitigação de desastres, o governo economiza quatro dólares em ajuda pós-desastre”.
Agora, somente no Texas, frisou Shana, terão de ser reconstruídas cerca de 600 vilas e cidades, sem ter sido levado em consideração a crescente ocorrência e severidade devastadoras tempestades. Avaliações técnicas, reiterou, já deixaram claro que é preciso levar em conta obras que se antecipem ao combate às enchentes com uma previsão de variação no nível das águas de 30 centímetros a até um metro.
“Isso não apenas teria protegido as pessoas e propriedades de futuras enchentes, mas também pretendia reduzir a quantidade de ajuda em desastres que gastamos na recuperação”, esclareceu Joel Scata, advogado do Conselho de Defesa de Recursos Naturais, recordando os enormes recursos utilizados para socorrer as vítimas do furacão Katrina, em 2005, e do furacão Sandy, em 2012.
Buscando um distanciamento de Trump, vários legisladores republicanos denunciaram a medida do candidato à reeleição, como o deputado Carlos Cúrbelo, da Flórida.
Para Curbelo, “esta ordem executiva é irresponsável e fará com que o dinheiro do contribuinte seja desperdiçado em projetos que podem não ser construídos com a condição de suportar as enchentes que já estamos vendo e sabemos que só vão piorar”.
CICLÔNICA TEMPESTADE
Segundo o Centro Nacional de Furacões (NHC), o ciclone atingiu a categoria quatro – o máximo é cinco – com previsão de ventos de mais de 240 quilômetros por hora no Golfo do México antes de chegar à terra firme, quando baixou para a categoria dois. Com um “rápido debilitamento” ao longo do dia, apontou o NHC, a força dos ventos caiu para 195 quilômetros por hora, transformando-se em tormenta tropical, mas ainda com grande potencial devastador.
O centro alertou para uma “onda ciclônica de tempestade” nas costas do Texas e da Louisiana, com ventos intensos, e que as enchentes vistas em algumas áreas levarão “vários dias” para retroceder. “As inundações generalizadas ao longo de riachos, áreas urbanas e rodovias continuarão em seções de Louisiana, Mississippi e Arkansas”, destacou o NHC.
O governador de Luisiana, John Bel Edwards, lamentou que entre as quatro mortes registradas até a tarde desta quinta-feira está a de uma menina de 14 anos, atingida pela queda de uma árvore. “Me preocupa que encontremos mais vítimas mortais. Espero e rezo para que não”, declarou Edwards, em meio aos trabalhos de resgate.
IRRESPONSÁVEL
Informado da situação, Trump disse que iria à região somente no final de semana, que já estava preparado para adiar o seu discurso na Convenção Nacional Republicana, mas teve “um pouco mais de sorte”, pois o “grande e poderoso furacão passou rapidamente”.
Na verdade, Trump não queria responder questionamentos e nem tem a menor ideia de como combater problemas desta índole, como já deixou explícito anteriormente. Durante uma reunião sobre furacões no ano passado, Trump perguntou sobre a possibilidade de interromper a sua formação no oceano lançando uma bomba nuclear no olho da tempestade, informou o site de notícias Axios. Na época, uma fonte anônima disse que os participantes deixaram a reunião questionando “o que fazemos com isso?”. A nota da Axios explicou que não foi a primeira vez que o presidente fez uma sugestão semelhante, citando um memorando do Escritório de Segurança Nacional (NSC) de 2017, em que Trump teria consultado um alto funcionário se poderiam bombardear furacões para impedir que tocassem terra.