O ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (DEM) foi denunciado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio), na manhã desta terça-feira (09), por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Paes é pré-candidato à prefeitura do Rio e aparece como líder nas pesquisas na corrida eleitoral de novembro. O ex-prefeito teve também sua casa visitada por agentes numa operação de cumprimento de busca e apreensão, determinada pela Justiça.
A denúncia foi oferecida pelo MP-RJ por meio do Gaecc (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção), o mesmo que investiga Flávio Bolsonaro. Ela foi aceita na Justiça Eleitoral pelo juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 204ª Zona Eleitoral. O magistrado também é o mesmo que decretou a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho mais velho do presidente e apontado como operador financeiro em um esquema de lavagem de dinheiro Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O ex-prefeito é investigado por suspeita de direcionamento na licitação de construção do Complexo Esportivo Deodoro Norte para a Olimpíada do Rio-2016. Não foram divulgados os detalhes da acusação.
Eduardo Paes é acusado de receber caixa 2 em sua campanha para prefeito do Rio de Janeiro em 2012. E Pedro Paulo é alvo da mesma acusação, mas em relação à sua campanha para deputado em 2010.
A operação desta terça-feira é consequência do depoimento de Benedicto Junior, ex-presidente da construtora Odebrecht, em acordo de colaboração premiada.
Segundo Benedito Junior relatou, a Odebrecht deu R$ 25 milhões à campanha de Paes em 2012, via caixa 2. Mas não é só isso. As investigações querem descobrir também detalhes de depósitos feitos em duas contas no exterior no valor de US$ 5,750 milhões, de acordo com o depoimento – e esse montante, de acordo com a sentença do juiz Flavio Itabaiana, não teria sido direcionado à campanha.
Além dele, outras quatro pessoas investigadas se tornaram réus com a denúncia aceita pela Justiça Eleitoral. São eles Benedicto Barbosa da Silva Junior, ex-executivo da Odebrecht; Renato Barbosa Rodrigues Pereira, marqueteiro de Paes; e Eduardo Bandeira Villela, sócio de Renato. Segundo o jornal “O Globo”, o deputado Pedro Paulo (Dem) também se converteu em réu na ação.
O MP diz que rastreou 18 entregas em dinheiro vivo a marqueteiros do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) totalizando o repasse de R$ 10,8 milhões para sua campanha de reeleição, em 2012. Os repasses, via caixa dois, foram feitos entre junho e setembro de 2012 pela Odebrecht. Segundo o MP, os valores, pagos em parcelas que variaram de R$ 50 mil a R$ 650 mil, foram recebidos por Renato Pereira e Eduardo Bandeira Vilella, sócios da agência Prole, que realizou a campanha de Paes naquele ano.
O MP apontou como provas que corroboraram as informações guias de transporte relacionadas às entregas de dinheiro em espécie feitas por funcionários da Trans-Expert em datas e locais associados aos marqueteiros de Paes. A Trans-Expert era a empresa usada pelo operador financeiro da Odebrecht, Alvaro Novis, para fazer entregas em dinheiro vivo solicitadas pela empreiteira.
Os investigadores também destacaram as planilhas com programações de pagamento associadas ao codinome “Nervosinho”, referente a Paes, no sistema de pagamentos ilícitos interno da Odebrecht. Ex-funcionários da Trans-Expert também se recordaram ter efetuado entregas no endereço da Prole Propaganda e alguns reconheceram Eduardo Vilella e Renato Pereira como destinatários dos valores.
A aceitação da denúncia pela Justiça Eleitoral não impede Paes de concorrer à Prefeitura do Rio nas eleições deste ano – a candidatura do ex-prefeito foi oficializada na semana passada. Para se tornar inelegível, uma pessoa tem que ser condenada em segunda instância. .
Em nota, a defesa do ex-prefeito afirmou que a busca em sua casa “foi uma tentativa clara de interferência do processo eleitoral”. “Às vésperas das eleições para a Prefeitura do Rio, Eduardo Paes está indignado que tenha sido alvo de uma ação de busca e apreensão numa tentativa clara de interferência do processo eleitoral — da mesma forma que ocorreu em 2018 nas eleições para o governo do estado”, disse.
“A defesa sequer teve acesso aos termos da denúncia e assim que tiver detalhes do processo irá se pronunciar”, emendou. O deputado Pedro Paulo apontou “uso político de instrumentos da Justiça para interferir na eleição”. “Não nos intimidarão. Ao ter acesso o conteúdo da denúncia, farei a minha defesa no processo”, afirmou.