“Determinadas lives, realizadas por milícias digitais ou pretensos jornalistas”, são usadas para lavar dinheiro, denunciou o ministro do STF
O ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre as fake news no Supremo Tribunal Federal (STF), denunciou que alguns sites investigados estão fazendo uma intensa lavagem de dinheiro.
Eles “vêm realizando há alguns anos uma enorme lavagem de dinheiro”, principalmente por meio de cursos, lives e sites de crowdfunding, disse o ministro, em entrevista à jornalista Natuza Nery, da GloboNews, em evento no congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
“Eu não tenho nenhuma dúvida de que as milícias digitais estão sendo usadas para uma grande lavagem de dinheiro”, destacou Moraes. “Determinadas lives, realizadas por milícias digitais ou pretensos jornalistas”, são usadas para lavar dinheiro. “Hoje, muitos milicianos digitais se autoidentificam como jornalistas para evitar qualquer responsabilidade —aí vai ver, e de jornalista não tem nada, está lavando dinheiro e monetizando”, acrescentou.
ORLANDO SILVA
O ministro do STF afirmou ter se reunido “duas ou três” vezes com o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que está liderando as discussões sobre o projeto de lei das fake news já aprovado no Senado e agora em tramitação na Câmara. Moraes afirmou que a investigação continua fazendo o cruzamento de dados para chegar às novas etapas e que esse mapeamento é importante para que a Justiça Eleitoral possa coibir esse mecanismo.
“As pessoas acham que é picuinha, que estamos investigando porque estão xingando o STF”, disse. “Não é isso, nós investigamos o que realmente está organizado financeiramente para tentar desestruturar os Poderes da República.” Ele disse que o uso de robôs para disseminar notícias falsas e campanhas de difamação, agora que entrou em evidência, está sendo substituído por equipes de pessoas contratadas para divulgar desinformação.
Moraes descreveu como são feitas doações durante lives, sempre no mesmo valor, no limite para escapar de fiscalização. “Se faz essa lavagem e acaba limpando esse dinheiro, que pode retornar via doações, inclusive eleitorais”.
Alexandre de Moraes defendeu que as grandes plataformas de internet precisam ser responsabilizadas pelo conteúdo veiculam. Esta é também a opinião do deputado Orlando Silva.
A ausência de um mecanismo para identificar e punir quem financia fake news é uma das falhas do projeto de lei aprovado pelo Senado e que agora será votado na Câmara, avalia o deputado Orlando Silva (PC do B-SP).
O parlamentar defende mudanças nos dispositivos que permitiriam coleta de dados de usuários para evitar o que chamou de “big brother”.
“O foco deveria ser buscar quem financia as estruturas que disseminam em escala industrial a desinformação. Isso existe ou não existe? A questão é essa. Se existe, tem de ser desmontado”, diz Orlando.