
Os investigadores descobriram que, entre maio de 2018 e abril de 2019, a igreja movimentou de forma “atípica” R$ 5,9 bilhões. Achados foram feitos no inquérito sobre o “QG” das propinas na Prefeitura
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) afirma ter encontrado indícios de “bilionárias movimentações atípicas” da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) durante as operações que investigam corrupção na Prefeitura da capital. Relatório de Inteligência financeira do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), anexado à investigação, cita que, entre maio de 2018 e abril de 2019, a igreja movimentou de forma “atípica” R$ 5,9 bilhões.
Os investigadores afirmaram ser “verossímil concluir” que a entidade religiosa está sendo “utilizada como instrumento para lavagem de dinheiro fruto da endêmica corrupção instalada na alta cúpula da administração municipal” do Rio. O prefeito Marcelo Crivella é bispo licenciado da Universal e está no centro das investigações. As buscas começaram em março deste ano e investiga o ‘QG da Propina’ na Prefeitura do Rio.
Outro material de posse do MP-RJ são as mensagens do aparelho de celular apreendido, em março, com Rafael Alves, o operador de Crivella, durante a primeira fase da operação.

Apesar de não ter cargo público no Município, Rafael Alves teria enorme influência no governo – e evidências obtidas pelo MP-RJ revelam que ele era o cobrador e arrecadador de propina de fornecedores, possivelmente com aval e em aliança com Crivella. Foi para ele que o prefeito ligou às 7:30h da manhã no dia em a polícia estava em sua casa. Para surpresa do prefeito, quem atendeu a ligação foi um delegado da polícia. Assim que percebeu, que o comparsa estava sendo preso, Crivella desligou abruptamente o telefone.

No começo de 2018, Rafael Alves enviou várias mensagens a interlocutores demonstrando “frustração com os espaços ocupados por ele no governo” – e dizendo que seria capaz de revelar às autoridades “todos os esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro que ocorrem no governo”, com a “direta participação de Marcelo Crivella, sua família e a igreja, em expressa alusão à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd)”.
Em uma mensagem enviada no 19 de janeiro, diz o MPE-RJ, Rafael Alves escreve: “Nego destrói um político. Eu mexo com uma igreja.” Depois, ele prossegue, segundo os investigadores: “só não quero que mexa com meu irmão ou seja meu espaço”. Por fim, Rafael Alves afirma: “Fazendo isso eu destruo ele igreja. etc.” O irmão de Rafael, Marcelo Alves, chegou a ocupar a presidência da RioTur – e vinha sofrendo com um processo de desgaste com outros aliados de Crivella, até ser exonerado em março deste ano, após a primeira fase da operação.
Para o MP-RJ, Rafael indica que, “caso venha a romper com Marcelo Crivella e sua organização criminosa”, os efeitos danosos serão grandes pois “envolve dinheiro – e muito – e informações fortes.” O procurador aponta que “Rafael Alves deixa claro que tem ciência e controla diversas atividades criminosas do governo, sob a direta liderança de Marcelo Crivella”.
O celular de Rafael é considerado uma peça chave na investigação pelos promotores. Mas não foi fácil chegar no aparelho. Em março, em uma busca contra Rafael Alves, ele entregou um celular vazio para as autoridades. Desconfiados, eles encontraram outro telefone escondido em roupas. Outros dois estavam no carro da mulher do operador, Shanna Garcia, filha do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, assassinado em 2004.
Em nota, a Igreja Universal do Reino de Deus classificou de imoral o que chamou de vazamento de informações por autoridades sem que a parte envolvida saiba da investigação. Diz ainda que toda sua movimentação financeira é “completamente lícita” e declarada aos órgãos competentes. A igreja também afirma que, sobre o prefeito Marcelo Crivella, “qualquer bispo ou pastor que decide ingressar na carreira política licencia-se de suas funções na igreja, passando a se ocupar exclusivamente da atividade pública”.