“Com certeza alguém mentiu, né? E não fui eu”, disse Marinho ao chegar à sede do MP
O senador Flávio Bolsonaro não compareceu à acareação marcada pelo Ministério Público do Rio para esta segunda-feira (21) com o empresário Paulo Marinho, sobre o vazamento da Operação Furna da Onça, em 2018. O filho do presidente afrontou o MP e mandou dizer que está no Amazonas.
A acareação estava marcada para as 15h. Paulo Marinho chegou por volta das 14h30 à sede do Ministério Público Federal, no Centro do Rio, e disse que não tinha nada a esconder e que quem tinha que se explicar era o senador.
A defesa de Flávio Bolsonaro já vinha dizendo, desde quando ele foi intimado, que o senador não iria comparecer porque teria a prerrogativa de marcar horário e local. O MPF entende que não, que ele tem que comparecer e só pode se ausentar se apresentar um atestado médico.
O Ministério Público Federal ainda não se posicionou sobre a ausência de Flávio Bolsonaro, mas há uma ideia de ir até o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar uma punição ao senador.
O MPF marcou a acareação porque considera que um dos dois mentiu em depoimento sobre o vazamento da operação. “Com certeza alguém mentiu, né? E não fui eu”, disse Marinho ao chegar à sede do MP.
Marinho disse que Flávio Bolsonaro o procurou no final de 2018, quando ele ainda era aliado de seu pai, dizendo que um delegado da Polícia Federal o informou sobre a operação e pediu ajuda. Neste momento, Flávio foi orientado a afastar Queiroz de seu gabinete e a filha dele do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.
Marinho contou detalhes da reunião ocorrida no dia 13 de dezembro de 2018, na casa do empresário. Ele reproduziu o que ouviu de Victor Granado sobre a dinâmica para receber informações vazadas de um delegado da PF. Disse que a primeira tentativa se deu por telefone para Miguel Ângelo Braga. Flávio, então, escolheu três pessoas que trabalharam com ele para pegar a informação com o delegado da PF: Victor Granado, amigo de Flávio; Valdenice Meliga, ex-assessora; e o próprio Miguel Ângelo Braga, seu atual chefe de gabinete.
“O Braga fala com o Flávio, o Flavio designa então que o Braga, o Victor e a Val fossem ao encontro dessa pessoa para saber do que se tratava. E aí fizeram contato e marcaram um encontro na porta da Polícia Federal. Este delegado disse aos três ou disse ao Braga: ‘Vocês, quando chegarem, me telefonem que eu vou sair de dentro da Superintendência, até para você ver que sou um policial que estou lá dentro, e lá fora a gente conversa’”, afirmou Marinho.
O empresário disse que Victor, então, conta que o delegado antecipou a Operação Furna da Onça. E vazou outra informação: que a operação não seria deflagrada no mês da eleição de 2018 para não atrapalhar Bolsonaro.
“E aí esse delegado disse a eles: ‘Essa operação vai alcançar o Queiroz e a filha dele. Estão no seu gabinete e no gabinete do seu pai. Tem movimentação bancária e financeira suspeita. E nós estamos aqui… eu estou… eu sou simpatizante do seu pai, do Bolsonaro, e vamos tentar não fazer essa operação agora entre o primeiro e o segundo turno para não criar nenhum embaraço durante a campanha’“, relatou Marinho.
“Como disse que a operação não iria acontecer para não criar nenhuma dificuldade, eventualmente, pela narrativa que a operação ia trazer, pela presença do Queiroz e da filha”, acrescentou o empresário. “Porque logo após o encontro, Queiroz e filha são demitidos, tá certo? Então, Flávio deve ter informado ao pai, e o pai, imediatamente, mandou demitir”, completou Marinho.
Em outro momento, o empresário contou que Victor Granado, amigo de Flávio, relatou que obrigou Fabrício Queiroz a passar as senhas do banco após saber que ele seria mencionado na Operação Furna da Onça.
“Aí o Victor começou o relato. Disse: ‘Olha, eu ontem estive com o Queiroz e eu obriguei o Queiroz a me repassar todas as senhas das contas bancárias dele, e eu passei essa madrugada toda entrando nas contas do Queiroz e os montantes que eu descobri, informei agora de manhã para o Flavio, são muito superiores a esses que a imprensa está noticiando. Inclusive, porque esses se referem a anos anteriores a esses que a imprensa está noticiando’”, disse Marinho.
Flávio Bolsonaro confirmou, em seu depoimento ao procurador, Eduardo Benones, que participou do encontro, na casa de Marinho, mas negou que tenha havido “qualquer tipo de conversa por parte de Vitor Granado” sobre a operação da PF.
O advogado Victor Granado Alves também, amigo de longa data de Flávio, já havia admitido que participou de uma reunião com Flávio e Paulo Marinho na residência deste nesta mesma época citada por Marinho, mas alegou que estava ali na condição de advogado e que, por isso, tinha direito ao sigilo profissional.
Victor Alves, que é ligado a Flávio Bolsonaro há muitos anos, foi convocado pelo MP-RJ a depor, mas não compareceu. Após a recusa, o MPF converteu sua condição de testemunha na de investigado. Em habeas corpus concedido no sábado (18), o desembargador argumentou que o sigilo profissional dos advogados é inviolável.
Flávio Bolsonaro não era investigado na Furna da Onça, mas foi na operação que apareceu um relatório de inteligência do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre uma movimentação financeira de R$ 7 milhões entre 2014 e 2017 de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio.
Na sexta-feira (18), o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) se manifestou a favor da acareação, após ser consultado pelo MPF, porque há um habeas corpus que impede o advogado Victor Granado de ser ouvido.