A ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos Damares Alves agiu para impedir o aborto legal da menina de 10 anos que foi estuprada pelo próprio tio no Espirito Santo.
Damares orientou uma operação de bolsonaristas para transferir a menina de São Mateus (ES) para um hospital em Jacareí (SP) com o objetivo de acompanhar a evolução do feto e realizar o parto, apesar do risco para a vida da criança violentada, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo.
A menina, que era vítima de estupro desde os seis anos de idade, teve autorização judicial para a realização do aborto. Ela foi levada para a capital pernambucana para a interrupção da gravidez que colocava em risco a sua própria vida.
No entanto, mesmo com autorização judicial para o procedimento, a menina e seus familiares foram alvo de investidas para que o seu direito não fosse efetivado.
A ministra chegou a se reunir com integrantes do ministério e aliados políticos para coagir a equipe que seria responsável pelo procedimento do aborto no estado e oferecendo privilégios ao conselho tutelar capixaba. Segundo a reportagem da Folha, participaram da ação Alinne Duarte de Andrade Santana, coordenadora geral de proteção à criança e ao adolescente da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Wendel Benevides Matos, coordenador geral da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, e mais dois assessores.
Além disso, funcionários de Damares Alves teriam sido os responsáveis por vazar o nome da criança à blogueira Sara Giromini (mais conhecida como Sara Winter) que divulgou nas redes sociais. O ato foi uma afronta ao Estatuto da Criança para e do Adolescente, além de ter feito a família da vítima alvo de ameaças e pressão.
Nas redes sociais, a ministra negou as acusações. Segundo Damares, a “atuação ocorreu para fortalecer a rede de proteção à criança em São Mateus”.
CESÁREA
Em entrevista ao jornalista Pedro Bial na semana passada, ela defendeu que a menina de 10 anos deveria ter levado a gravidez adiante e feito uma cesárea. Em sua fala, ela não leva em conta o risco de vida que há em uma gestação de uma menina de 10 anos.
“Os médicos do Espírito Santo não queriam fazer o aborto, eles estavam dispostos a fazer uma antecipação de parto. Mais duas semanas, não era ir até o 9 mês, Bial, a criança ficar nove meses grávida, conversa com os médicos. Mais duas semanas poderia ter sido feita uma cirurgia cesárea nessa menina, tirar a criança, colocar numa encubadora, se sobreviver, sobreviveu. Se não, teve uma morte digna”, disse Damares.
Ela também criticou o médico Olímpio Moraes Filho, que realizou a interrupção da gestação na menina com autorização da Justiça em um hospital de Recife (PE).
“Eu acredito que o que estava no ventre daquela menina era uma criança com quase seis meses de idade e que poderia ter sobrevivido. Discordo do procedimento do Dr. Olímpio, mas discordo de tudo o que aconteceu em torno dessa criança”, disse Damares a Pedro Bial.
Damares também falou sobre a investigação de dois de seus assessores que são suspeitos de terem vazado a identidade e a localização do hospital onde a menina passaria pelo aborto. Ela disse que botaria a mão no fogo de que não foram eles os responsáveis.
Dezenas de militantes antiaborto foram à porta do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE) tentar impedir a interrupção da gravidez da menina.
“A nossa equipe foi à cidade com um deputado estadual e as três reuniões que fizemos lá foram com muitas pessoas juntas na delegacia, no Conselho Tutelar e na Secretaria de Ação Social. Em momento algum os profissionais disseram para os nossos técnicos o nome dessa menina”, afirmou Damares.
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