Mensagens interceptadas pela PF mostram Allan dos Santos dizendo ao ajudante de ordem da Presidência: “as forças armadas precisam entrar urgentemente”. Resposta: “opa!”
Mensagens obtidas pela Polícia Federal e utilizadas para confrontar o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, Ajudante de Ordem da Presidência e assessor do presidente Jair Bolsonaro, mostram que o blogueiro Allan dos Santos defendeu que fosse dado um golpe de Estado dizendo ao assessor que “as forças armadas precisam entrar urgentemente”.
Desde julho, Santos, que integra a milícia digital bolsonarista, reside nos EUA. Segundo ele, “por questões de segurança”.
Allan é investigado em dois inquéritos no STF: um deles apura ameaças, ofensas e fake news contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e outro investiga o financiamento de atos que pregavam golpe de Estado, volta do AI-5, fechamento do Congresso e outras instituições democráticas .
As mensagens, obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, entram em conflito com o depoimento do assessor, que afirmou “não se recordar de ter estabelecido conversas” com o Allan dos Santos. Apesar de dizer que não se recorda, ele acabou afirmando que as conversas com o blogueiro “não eram frequentes”.
Em outra conversa interceptada pela PF, de maio, uma mensagem, enviada ao ajudante de ordem da Presidência um dia depois de protestos de grupos antifascistas no país, o assessor de Bolsonaro chamou os grupos de “terroristas”.
Segundo a Polícia Federal, Allan enviou, por whatsapp, uma reportagem sobre os protestos. Após visualizar, Mauro Cesar Barbosa Cid respondeu ‘Grupos guerrilheiros/terroristas. Estamos voltando para 68, mas agora com apoio da mídia’.
Allan dos Santos replicou: ‘As FFAA (Forças Armadas) precisam ENTRAR URGENTEMENTE’, ao que o tenente-coronel respondeu com um ‘Opa!’. À PF, de acordo com o Estadão, Mauro Cid disse que o seu ‘Opa!’ era apenas uma saudação.
Em uma mensagem anterior, no dia 26 de abril, Allan dos Santos afirmou que “não via soluções por vias democráticas”, provavelmente em comentário à crise enfrentada pelo governo federal após a saída do então ministro Sérgio Moro.
O ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STM), brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, afirmou ao Estadão que, em tese, qualquer oficial que “cometa possível crime como membro da equipe palaciana deverá responder por ele frente à Justiça Federal”.
“Após o julgamento, caberá à Justiça Militar analisar as decorrências no âmbito da caserna, para específico julgamento e sanções adequadas”, disse o brigadeiro, ao comentar as trocas de mensagens entre o ajudante e ordem e o blogueiro.