Milhares de estudantes, pais e professores de escolas secundaristas de Buenos Aires se manifestaram na sexta-feira, 22, pela segunda semana consecutiva, desde o Ministério de Educação nacional até a Secretaria do setor da capital, para exigir do governo que pare a implementação da reforma chamada ‘Secundarista do Futuro’. O projeto de Mauricio Macri que já está sendo imposto em Buenos Aires ainda é conhecido só em traços gerais, e a comunidade da educação quer ver o plano, debatê-lo e colocar suas opiniões.
Na faixa que encabeçava a marcha havia duas consignas: “Não ao ‘Secundarista do Futuro’” e “Aparição com Vida de Santiago Maldonado”, esta última em referência ao jovem desaparecido durante uma manifestação dos índios mapuches na Patagônia no dia 1 de agosto. O governo, desconhecendo a oposição da maioria da sociedade, mantém a postura de implementar as mudanças já em março de 2018 e os estudantes exigem poder discutir as medidas.
A reforma que começa a ser aplicada pelo governo da Cidade de Buenos Aires estabelece que, no último ano do curso, os estudantes deverão trabalhar para empresas a metade de seu tempo escolar sem pagamento nenhum, justificando o absurdo como sendo “práticas profissionalizantes”. Dessa maneira, a reforma determinará uma redução das horas de trabalho dos docentes e, em conseqüência, de seu salário.
Pelo conhecimento genérico que há da reforma, se sabe que acabarão as matérias independentes, elas estarão integradas dentro de “áreas de conhecimento”; se substituirão as notas numéricas de 1 a 10 por um sistema de créditos; não haverá mais repetência completa de ano (se recuperarão conteúdos), serão cobradas taxas nas escolas públicas.
O documento que o Ministério publicou depois de reunião com os alunos, a primeira manifestação oficial sobre o projeto, foi qualificado pelos estudantes como “uma vergonha”. “É uma vergonha que tenham apresentado informação oficial só um mês depois de haver começado o conflito. A reunião da quarta-feira, 20, foi igualmente vergonhosa, foi um show político. O que apresentaram não é um projeto; não sabemos ainda qual é o projeto e não sabemos se eles sabem qual é. O intuito é satisfazer o setor privado, as empresas. Não pode ser que se busque aplicar uma reforma em março e estando no final de setembro não saibamos qual é o projeto”, disse em entrevista ao jornal PáginaI12 Martín Pont Vergés, do Colégio Nacional Buenos Aires. A porta-voz do Centro de Estudantes da Escola de Belas Artes Manuel Belgrano, Antonella Giuso, assinalou que tudo o que dizem são generalidades, “sobre os colégios técnicos e artísticos então nem se fala nada. Nada sobre os docentes, nada sobre questões pedagógicas, nada sobre as matérias, nada sobre horários. Nada”.
Em assembléias, os estudantes estão marcando outras mobilizações com o apoio de representantes das centrais sindicais docentes Adimos (Associação do Magistério e Ensino Superior) e UTE (União de Trabalhadores da Educação).
SUSANA SANTOS