“O golpe de Estado foi para tomar de assalto o lítio, que é e continuará sendo dos bolivianos. Garantiremos que os nossos recursos naturais não irão parar nas mãos das transnacionais. Recuperaremos a Pátria, a democracia e o governo para o povo”, afirmou Luis Arce Catacora, candidato do Movimento Ao Socialismo – Instrumento Político pela Soberania dos Povos (MAS-IPSP), durante comício realizado na região que concentra o lítio boliviano, o Salar de Uyuni.
Em meio a um mar de sal, aplausos e bandeiras tricolores do MAS, o candidato sublinhou o seu compromisso com o desenvolvimento da Bolívia a partir da industrialização do estratégico mineral, “que representa a esperança econômica de sairmos da pobreza e nos constituirmos neste país digno que sempre quisermos ser”.
Com mais de dez mil quilômetros quadrados e cerca de 40% do “ouro branco” de todo o planeta, apontou Arce, abre-se uma janela de oportunidades para o lítio, cuja demanda se multiplica pela massificação do uso de carros elétricos no mundo e pela grande quantidade de dispositivos eletrônicos que usam os mais diferentes tipos de baterias.
Além disso, localizada a 3.656 metros de altitude, a encantadora região andina mobiliza todos os anos mais de 300 mil turistas, principalmente estrangeiros, ponderou o professor universitário, mas deve ter seu potencial ampliado e protegido, sem os danos ecológicos provocados pelas multinacionais aos salares da Argentina e do Chile.
“CAPITAL DO LÍTIO DO MUNDO”
“Vamos transformar a Bolívia na capital do lítio do mundo. E para isso temos um plano de industrialização não somente com baterias, mas com 41 novas indústrias derivadas do lítio, para gerar emprego e renda”, destacou Arce, frisando que “muitas propriedades do mineral servirão de insumos”.
Entre as plantas industriais – que vão gerar 130 mil empregos, 25 mil diretos e 105 mil indiretos – estão projetadas a construção de 14 voltadas exclusivamente à produção de baterias e de energia. A ideia é elevar gradualmente a produção de lítio, saltando de 15 mil toneladas em 2023 para 100 mil toneladas em 2030, gerando uma entrada de US$ 5 bilhões anuais. O montante de recursos é expressivo, uma vez que o Produto Interno Bruto (PIB) do país é de cerca de US$ 42 bilhões.
Durante os últimos anos, o governo do MAS fez investimentos de US$ 2 bilhões no Salar do Uyuni em pesquisa e desenvolvimento, energia elétrica, infraestrutura civil, na construção de duas unidades industriais (uma de cloreto de potássio e outra de carbonato de lítio para a produção nacional), e mais de 2.400 hectares de piscinas de evaporação. Avançando na “industrialização com soberania”, atualmente se tem uma capacidade de produção de 350 mil toneladas por ano de cloreto de potássio e 15 mil toneladas por ano de carbonato de lítio.
Mostrando aos manifestantes que estava levando consigo um pouco do Salar, para que tomasse posse com ele e seu vice-presidente, David Choquehuanca, Arce assegurou ser este “um compromisso com o Uyuni e com a Pátria”. “Mas precisamos estar vigilantes com o nosso voto no próximo dia 18 de outubro, pois sabemos da violência financiada pelos partidos de direita para que não haja eleições. Não vamos cair no seu jogo. Vamos votar e acompanhar a apuração”, ressaltou o líder do MAS, condenando o papel nefasto, de manipulação e desinformação dos meios de comunicação, empenhados na desnacionalização e no retrocesso.
Na avaliação do ex-ministro da Economia de Evo Morales – que garantiu o maior crescimento econômico da América Latina durante seis anos consecutivos e uma redução da pobreza em cerca de 20 pontos percentuais -, mais do que nunca “a hora é de atenção, mobilização e fiscalização”. Afinal, ponderou, o desenvolvimento sustentável esteve baseado na nacionalização do petróleo, do gás e dos recursos naturais, e o lítio virou o alvo da vez.
“VIGIAR O VOTO, ESTAR ALERTAS”
“Diferente de todos os outros partidos políticos”, denunciou Arce, a proposta do MAS mantém o lítio estatal, retomando acordos com empresas alemãs e chinesas para produção de baterias de lítio em território boliviano, com respeito à soberania nacional e o compromisso com a sustentabilidade. “Por isso vamos às urnas e permanecer mobilizados e alertas. A complacência é o nosso maior inimigo”, enfatizou.
Entre as denúncias do candidato do MAS está o fato de Elon Musk, CEO da Tesla – maior fabricante de baterias do mundo -, ter assumido abertamente que financiou a derrubada de Evo Morales em novembro do ano passado. “Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”, estampou Musk.
Ex-chanceler boliviano, líder camponês e indígena, David Choquehuanca frisou que “o golpe foi planificado, financiado e orquestrado pelos Estados Unidos” e que estará ao lado de Arce para dar sustentação a um projeto de país, “de recuperação da estabilidade, esperança e felicidade”.
Conforme o ex-ministro de Relações Exteriores, “o planeta é redondo, portanto, a economia precisa ser circular, não linear. Não estamos de acordo com essa economia de acumulação que vai contra a nossa natureza. Nós, no ‘bem viver’, propomos uma economia circular, assim como somos, uma economia de redistribuição”.
“Querem roubar nosso lítio, irmãos, e estamos aqui para defendê-lo. Por isso no dia 18 vamos às urnas defender nosso lítio, vamos defender nossa democracia, nossa educação e nossa dignidade”, concluiu Choquehuanca.
LEONARDO WEXELL SEVERO