Edna Costa é nossa colaboradora e amiga desde os tempos da ditadura, quando foi líder estudantil na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Aliás, esse é um modo muito inexato de descrever o papel de Edna desde essa época.
Pessoa dedicada ao nosso povo, pessoa do povo, enfim, ela tem um especial carinho pela sua cultura – pela cultura nacional e popular.
O artigo abaixo, sobre a visita de Bolsonaro a São José do Egito, Pernambuco, na última quinta-feira (01/10), mostra aos nossos leitores um pouco da sua grandeza, da sua disposição de luta por dias melhores para todos nós – e do envolvimento de Edna com a cultura que uma aberração como Bolsonaro é incapaz de compreender, por tanto odiá-la, por tanto odiar os valores e a moral de nosso povo (C.L.).
“Em terra de poesia/ Fascista não se cria/ Fora Bolsonaro!”
EDNA COSTA
De tantos esconderijos para onde poderia fugir, o Diabo, notório pela falta de limites e desrespeito ao povo, resolveu aparecer na clara, ensolarada e bela cidade de São José do Egito, no sertão do Pajeú, aqui em nosso Pernambuco.
Não tinha nada que fazer lá – a adutora que inaugurou, não funcionava e não funciona. Pelo menos, por enquanto. Por isso, apesar de pronta há muito, em outro governo, não fora inaugurada.
Precisou Bolsonaro, para se prestar a esse papelão.
São José do Egito é a terra da poesia – e tem o nome do pai terreno de Jesus Cristo, no momento em que ele mais foi pai: quando conduziu o filho e a esposa, Maria, para o Egito, frustrando a sanha de Herodes, o sanguinário assassino das crianças.
Herodes, que não queria competidores no trono, era, portanto, algo parecido com Bolsonaro.
Pois foi logo em São José do Egito, que tem a fama de ter a maior concentração de poetas já nascidos em alguma parte do Brasil, que Bolsonaro arribou na quinta-feira.
Foi, como já disse, para inaugurar uma adutora que não fez, nem funciona, nem vai funcionar enquanto outras obras não forem realizadas para que, por ela, as águas corram.
Em uma terra com pouca e preciosa água, a visita de Bolsonaro era já um deboche.
As mulheres e homens de São José do Egito lembraram os versos de um de seus grandes poetas, Rogaciano Leite, em “Acorda, Castro Alves!”, poema em homenagem ao centenário de seu antecessor baiano:
“Condor, que é de tuas asas
Que os astros arremessaram?
As plumas da águia soberba
Que no infinito brilharam?
Que é do teu grito altaneiro
Que atravessava o nevoeiro
Para vibrar junto a Deus?
Renasce, Fênix altiva!
Que outra senzala aflitiva
Precisa dos cantos teus!”
Não faltaram, de verdade, Castro Alves nem Rogaciano, nem Lourival, nem Jó Patriota e outros, muitos outros, poetas da Terra, para receber o Demônio em São José do Egito.
Os mortos pela pandemia de COVID-19, no Brasil, estão chegando a 150 mil. Cento e cinquenta mil brasileiros. Por responsabilidade de Bolsonaro, pois governadores e prefeitos, em geral, fizeram o possível para combater a doença.
Mas, disse ele em São José do Egito:
“Alguns políticos fecharam tudo durante a pandemia. Eu sempre falei: não tem que fechar nada, não tem que prender ninguém dentro de casa.”
Tem, portanto, que deixar a doença se espalhar e matar brasileiros, sobretudo os pobres, sobretudo os que são as pilastras do nosso país.
Para confirmar que é isso, Bolsonaro repetiu a charlatanice da cloroquina:
“Deus foi tão abençoado que nos deu a hidroxicloroquina para quem se acometer da doença. Quem não acreditou engula agora. Eu não sou médico, mas sou ousado, como o cabra da peste nordestino. Nós temos que buscar uma solução para os nossos problemas, e ela apareceu.”
Quantos brasileiros – ou quantos seres humanos, em qualquer país do mundo – a hidroxicloroquina salvou da morte?
Quantas mulheres, quantos homens foram curados da COVID-19 pela hidroxicloroquina?
Nenhum. Pode ter – e tem – quem morreu tomando hidroxicloroquina, ou por causa dela, ou porque ela não tem efeito contra o coronavírus.
Mas, curados ou salvos pela hidroxicloroquina não há ninguém.
Além disso, o que entende Bolsonaro de medicina ou de cloroquina?
Apesar disso, ele mistura Deus (logo Deus!!) e o nordestino (logo o nordestino!), que não têm culpa disso – nem nada com isso – com a cloroquina.
Confundir cabra da peste com cabra safado e jogar para Deus a culpa da própria vigarice, são pecados que garantem a punição no oitavo círculo do Inferno, lugar próprio aos diabos de miserável categoria e às almas penadas dos traidores do seu povo.
Bem falou, em seus versos, o poeta Antônio Marinho, à altura de seu bisavô, também chamado Antônio Marinho, um dos patriarcas da poesia de São José do Egito:
“Excelentíssimo genocida insano
Que a insensatez vestiu de presidente
Tira o sertão da rota do teu plano
Respeita a sede e o sangue dessa gente
Tua presença é riso de tirano
Erva daninha em volta da semente
Só a cegueira do teu gado humano
Come capim tirado do sol quente
Que teu veneno engasgue e te revele
Que tuas mãos sujas de Marielle
Não contaminem nossa terra honrada
Hoje o teu nome brilha, em falsa glória
Mas mofará, no lixo da história
Que te aguarda ao fim dessa jornada
Em terra de poesia
Fascista não se cria
Fora Bolsonaro!”
Antônio Marinho (bisneto) é, também, neto de Lourival Batista, o Louro do Pajeú, poeta e cantador que marcou toda uma geração – como disse Manuel Bandeira, outro poeta pernambucano -, irmão de Dimas e Otacílio Batista, parceiro de Pinto do Monteiro.
Todos, poetas de São José do Egito, terra em que, segundo as autoridades literárias que a estudaram, nasceram 70% dos poetas nordestinos, porque, dizem, “algum dos primeiros poetas que por aqui chegaram, enterrou uma viola nas margens do Rio Pajeú e daí a cultura se proliferou com seus repentistas. Até hoje dizem que quem bebe das águas do Pajeú adquire um pouquinho da cultura local”.
Não foi, portanto, uma surpresa, que a cidade, durante o pouco tempo que Bolsonaro esteve lá, na quinta-feira, fosse percorrida por um carro de som que colocava no ar os poemas dos poetas de São José do Egito.
Do grande Ciro Filó, poeta também da cidade:
“No cume da minha serra
Onde o repente surgiu
A arte se insurgiu
Contra o ódio que encerra
Os nutrientes da guerra
Com toda a sua agonia
Vazaremos com alegria
Sem sombras no coração
E ao maldito capitão
A gente grita: ELE NÃO
NA TERRA DA POESIA
Em São José não queremos
Genocida ensandecido
Destruidor dos pilares
De um país já combalido
Assassino da Natura
Inimigo da cultura
Inquisidor ressentido
Nosso Pajeú querido
Não aceita ditador
Somos da terra onde as almas
Transformam espinho em flor
Não queremos egoísmo
Nem falso patriotismo
Suma daqui, matador.”
Bolsonaro reuniu um grupo de puxa-sacos – que não conseguiram nem assistir sentados o discurso do sujeito – para inaugurar uma adutora que não construiu. Uma adutora que estava pronta desde o governo Dilma, mas nunca fora inaugurada porque não funciona, e não vai funcionar, pois depende do canal de Sertânia, que está desativado.
A cidade, portanto, continua com o mesmo fornecimento de água de antes da inauguração promovida por Bolsonaro.
Quanto a este, exibiu aquela falta de escrúpulo, de caráter, que parece, de tão total, lhe dar uma cor de débil mental. Por exemplo, em São José do Egito, jurou ser o maior democrata do Brasil, talvez do mundo:
“Eu, como presidente da República, como chefe supremo das Forças Armadas, nunca abrirei mão de que meu povo tenha a liberdade e que tenha a democracia. Pra quem dizia que [eu] ia fazer o contrário, estão decepcionados.”
Em seguida, encerrou o discurso com o lema dos integralistas da década de 30, com o lema dos nazi-fascistas que, no Brasil, apoiavam Hitler e Mussolini: “Deus, Pátria e Família”.
Não é uma lição sobre o que Bolsonaro entende por democracia?
“Democracia”, para ele, é o credo integralista, o credo nazi-fascista.
E não é à toa que 150 mil pessoas do povo brasileiro estejam enterradas em nosso solo, apenas por conta da epidemia de COVID-19.
Bem falou outro de seus poetas, na quinta-feira, em São José do Egito:
“Onde a Poesia Impera
Não pode haver Falsidade
São José tua Cidade,
Irá ficar com Sequela.
Bolsonaro Degenera
Toda e qualquer Alegria.
O Seu Facismo Irradia
Todo Mal nessa Nação,
A Gente Grita: ELE NÃO!
NA TERRA DA POESIA.”
Foi tanta poesia percorrendo a cidade, com Bolsonaro escorraçado – ou sendo escorraçado pela força da poesia -, que a alguns versos escapou aos ouvintes o nome do autor. É o caso dos que acabamos de transcrever. Talvez porque toda a poesia verdadeira, desde um tempo de que quase já se perdeu a memória, tende a ser uma propriedade do povo.
Quando a força do povo é traduzida, é expressa, é condensada em poesia, torna-se irresistível.
Foi o que aconteceu no sertão do Pajeú, na quinta-feira: Bolsonaro ficou pouco tempo, com as ruas lavadas pelos versos dos poetas da Terra da Poesia.
São José do Egito fica na fronteira de Pernambuco com a Paraíba – acrescento, para aqueles que não conhecem a cidade. Talvez por isso – ou, mais provavelmente, porque o sentimento é o mesmo – a poeta Dione Barreto, nascida na Paraíba, enviou-nos, também, os seus versos:
VAI DE RETRO BOLSONARO!
DIONE BARRETO
(Em homenagem a Louro do Pajeú e a todos os poetas, meus amigos queridos.)
Valei-me Deus que agonia
Esta invasão de terreno
Me chamarei filomeno
D’hoje em d’ante, dia e noite
Que essa heresia é um açoite
De São José ao Egito
Pois que esse novo de antigo
Destrói a teogonia
Nos cordéis da lusofonia
Ponho a palavra no chão
Hoje o meu sim vira não
Quem gosta de gente ruim
Saia de junto de mim
Para salvar sua pele
Que gente assim não me rele
Junto de mim, tenho guia
Aos mortos que vi e via
Minh’alma pede clemência
Se tombar com essa indecência
No meio da noite escura
Vou produzir bosta dura
Pro resto da eternidade
Mas vou poupar a cidade
Do horror, da patifaria
Em terra de poesia
Bolsonaro não se cria.
Linda reportagem sobre a visita do Bolsonaro a São José do Egito/PE, eu também sou do sertão e fequei muito feliz com a reação de resistência contra o fascismo, esse elemento por diversas vezes atacou o povo nordestino chamando-nos de paraíba insinuando que os nordestinos são fracos e sem inteligência já declarou que parte deveria comer capim e para virar um nordestino basta crescer a cabeça só que estes ataques foram destilados por um autoritário e desequilibrado portanto não nos abala, agora esse mesmo indivíduo vem dizendo que virou um cabra da peste, não virou, você é apenas a peste e está mais inclinado para ser um cabra pilantra, disse ainda que dos governadores do nordeste o pior era o do Maranhão demostrou que descohece o nordeste totalmente. A verdade acima de tudo e a Constituição acima de todos.