Na tarde da última quinta-feira, data em que se comemorou o 71º aniversário de fundação da República Popular da China, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP) realizou a live: “A China no Mundo de Hoje e de Amanhã”.
A live, comandada pelo presidente da UMES, Lucas Chen, contou com a participação de lideranças políticas, economistas e intelectuais que puderam expressar diferentes experiências sobre o papel da China nos tempos atuais.
Lucas Chen considerou que o Brasil vive “um período repleto de desinformação” e que é necessário aumentar os conhecimentos sobre a China, sobre o “combativo povo chinês e sua a tradição de luta por uma sociedade diferente e nova”.
“Em especial neste período de pandemia, em que a China vem apresentando o caminho para a solução de problemas com relação ao coronavírus: a própria disseminação do vírus, como isolar e combater esta infeliz doença que estamos enfrentando”, ressaltou o dirigente estudantil, que possui ascendência chinesa.
Durante toda a live, os debatedores apresentaram diferentes aspectos do país asiático. Desde as experiências culturais e de vivência com o povo chinês, ao desenvolvimento tecnológico e econômico. A exemplar atuação da China no contexto da pandemia de coronavírus e as ações de solidariedade com os demais povos para o combate ao coronavírus também foram destacados pelos palestrantes.
“A pandemia da Covid mostrou a força que esse país tem. Sem a China colaborando com o mundo inteiro, a tragédia seria muito maior. Eu acredito que a nova Rota da Seda, que é um espetáculo de construção e de parcerias que a China realiza neste momento no mundo inteiro, deve servir de observação de interesse para nós do Brasil”, destacou o deputado federal e candidato à Prefeitura de São Paulo, Orlando Silva (PCdoB), em sua intervenção no evento.
Além de Orlando, participaram do debate: Rosanita Campos, presidente da Fundação Cláudio Campos; Nilson Araújo de Souza, economista, presidente do Sindicato dos Escritores de São Paulo e autor do artigo “A questão nacional na Revolução Chinesa”; a pesquisadora Esther Majerowicz, professora do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Walter Sorrentino, secretário de Relações Internacionais e vice-presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Rosanita Campos, Walter Sorrentino e Nilson Araújo destacaram ainda o papel do Estado chinês, liderado pelo Partido Comunista da China, no desenvolvimento econômico e social do país. Em suas intervenções, eles apontaram como o país socialista cresce com base no desenvolvimento do povo e não a serviço dos rentistas e do capitalismo.
A professora Esther Majerowicz abordou, de forma detalhada, como o desenvolvimento tecnológico chinês ocupa cada vez mais espaço na economia mundial. Segundo ela, as atuais contradições entre os Estados Unidos e a China são diferentes daquelas ocorridas com a União Soviética no decorrer da Guerra Fria, pois a China possui uma relação de dependência maior dos EUA que a URSS.
Ao término do debate foi apresentado o filme “O Oriente É Vermelho”, ópera revolucionária, dirigida por Wang Ping, em 1965, que narra os principais momentos da luta que desemboca na fundação da República Popular da China em 1 de outubro de 1949.
Veja a live:
Publicamos abaixo as intervenções dos participantes do debate:
Orlando Silva, deputado federal e candidato à Prefeitura de São Paulo (PCdoB)
Eu conheci a China em 1995. Eu era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e fui até lá a convite da Federação Nacional da Juventude da China. Foi uma viagem incrível, conhecemos Pequim, Xangai, Nandim. Conhecemos museus, centro culturais, fábricas, grandes obras que estavam sendo realizadas, universidades. Convivemos um pouco com a população e eu me encantei com aquela experiência incrível. Com a nação, o povo, a cultura absolutamente incrível.
E foi muito interessante que um dado momento eu perguntei a um dirigente político que nos acompanhou durante toda a viagem: Afinal, o que nós estávamos fazendo naquela viagem, naquele país? Éramos tão jovens, eu e mais dois líderes brasileiros que estavam lá.
Eles disseram: A China tem um problema estratégico, que é a segurança alimentar. O Brasil é o nosso parceiro estratégico, queremos contato com jovens líderes do Brasil.
Eu fiquei muito orgulhoso, quem era eu para poder ser uma referência para um país tão importante quanto a China. Mas, era apenas parte de uma estratégia que eles têm, de cooperação internacional, uma visão que vai muito além do curto prazo, que é uma marca da tradição e da cultura chinesa.
Hoje, sob o mando do socialismo, eles estruturaram um projeto nacional de desenvolvimento. Eles trabalham para que quando completar o primeiro século pós revolução chinesa, eles criem as condições para elevar a nação ao patamar superior de desenvolvimento. Hoje eles lutam para que haja condições dignas para seu povo.
A China é a principal potência do mundo, a China tem horizonte, e isso ficou muito claro quando voltei lá, anos depois, como Ministro do Esporte para acompanhar a preparação e a realização dos Jogos Olímpicos.
Ali a fase já era outra, ali já era a China se colocando diante do mundo com toda sua força, sua potência. Mostrando pro mundo a sua grande capacidade.
A pandemia da Covid mostrou a força que esse país tem. Sem a China colaborando com o mundo inteiro, a tragédia seria muito maior. Eu acredito que a nova Rota da Seda, que é um espetáculo de construção e de parcerias que a China realiza neste momento no mundo inteiro, deve servir de observação de interesse para nós do Brasil.
O Brasil precisa estruturar parcerias com a China. Parar com provocações baratas como a que faz o presidente da República e observar as oportunidades que uma aliança Brasil-China pode oferecer ao mundo.
Eu estudei um pouco o “Império do Meio”, como eles próprios se identificam, e eu estou convencido de que isso serve para ser sim estratégico para a construção que o Brasil precisa fazer no próximo século. A China é um lugar incrível, espero que todos possam um dia conhecer.
Rosanita Campos, presidente da Fundação Cláudio Campos
“Eu gostaria de agradecer seu convite e dizer que estou feliz. A fala do Orlando me contemplou ao dizer que nossos representantes públicos compreendam a importância de manter as relações com o governo chinês. Acho que foi muito importante o governo de São Paulo manter relação por meio da compra da vacina, com a possibilidade de adquirir esse know-how para a produção aqui no Brasil.
Importante enfatizar o papel que a China tem no combate ao coronavírus. O lugar onde a pandemia começou, mas que, seriamente e com toda a responsabilidade ela teve a coragem de enfrentar os problemas para proteger inicialmente o seu povo. A China conseguiu desenvolver um combate com rastreamento para impedir a disseminação. Enfim, fazendo o controle epidemiológico da epidemia. Ao contrário do que nós vivemos aqui no Brasil.
Quero cumprimentar os representantes chineses por terem favorecido tudo isso. Mas, sobretudo, quero cumprimentar o povo chinês e o governo da China pelo 71º aniversário da Fundação da República Popular da China.
Falo isso com muito carinho porque conheço a China de norte a sul, de leste a oeste. Fui à China 11 vezes e em pelo menos quatro dessas viagens foram por 30 a 40 dias, conheci a realidade chinesa de perto, acompanhei diferentes momentos do país em um espaço de 25 anos.
É impressionante a pressão que o imperialismo americano faz contra a população chinesa. A China está se tornando a principal potência mundial.
O país tem uma união, uma liderança e uma solidariedade incrível, mantendo sua cultura, suas artes, sendo um povo muito acolhedor, esforçado, simples, sem qualquer arrogância ou prepotência.
Eu queria falar uma coisa para vocês, a gente se pergunta, se a economia da China vai mudar, se vai virar capitalista ou não. Eu considero que a China é socialista e vai continuar assim, se tudo correr bem.
Tenho um amigo estudante universitário brasileiro na China, que manda para mim discussões no ambiente universitário. Ele me enviou um artigo sobre a importância do debate ideológico dentro da China, usando como exemplo o que aconteceu na União Soviética, em que seu líder, o Stalin, foi atacado e o que aconteceu depois disso, acabando com o socialismo no país e a Rússia passou a ser capitalista.
E ele afirma que isso precisa ser observado na China.
Ele diz o seguinte: “Se você quer destruir um país, ataque primeiro sua história. Para derrubar um regime é necessário primeiro negar sua história, seus líderes e desmobilizá-la. A forma mais fácil de fazer isso é demonizando o líder de um país.
E foi muito importante ele falar isso com relação ao Mao Tse Tung e de todas as conquistas do socialismo na China para poder seguir em frente.
Obrigado a UMES pelo debate e viva a China!
Nilson Araújo de Souza, economista e presidente do Sindicato dos Escritores de São Paulo
Minhas saudações a todos que acompanham a live, nesse momento importante em que a República Popular da China comemora 71 anos.
A China tem um passado histórico e tem um presente muito importante. Está em curso uma mudança geopolítica, do poder mundial, que tem como a China o principal protagonista.
Ao mesmo tempo em que a economia dos Estados unidos está em declínio, a economia chinesa está em ascensão. Em algum momento essa situação vai alterar o balanço de poder no mundo.
Em 1990, os Estados Unidos detinham 20% da economia mundial.
20% do PIB mundial era o PIB dos Estados Unidos e a China produzia apenas 4% do Produto Interno Bruto do mundo.
Se formos medir, de acordo com o FMI e Banco Mundial, o que eles chamam de paridade de poder de compra, que é o critério de medir o PIB de um país mostrando o poder de compra dentro do próprio país e não uma mera conversão do PIB, como por exemplo, de real para dólar. Se usarmos esse critério, a China ultrapassou os Estados Unidos em 2013 e 2014.
Atualmente, considerando o PIB do ano passado, ela estaria com um PIB de 27 trilhões de dólares. Enquanto os EUA, com um PIB de 21 trilhões de dólares.
A China já ultrapassou e está bem na frente.
Mas por que isso?
Por que a China passou de 4% do PIB em 1990 para 20% atualmente e os Estados Unidos, que tinha 20% está agora com 15%?
A China vem crescendo de maneira acelerada nas ultimas quatro décadas. De 1980 a 2012, o PIB da China cresceu em média, 8,5% ao ano. Mesmo após a crise que se iniciou em 2007, quando desacelerou um pouco, a China segue com crescimento acelerado. Enquanto isso, os Estados Unidos, seguem estancados, com um crescimento médio de 2% ao ano, pouco acima do crescimento da população. O que tem preponderado nos Estados Unidos é a estagnação.
A China, em 1980, tinha um crescimento menor que o do Brasil. Nos 50 anos anteriores (1930 a 1950), o Brasil era um dos países que mais cresceu no mundo, saindo de 37º para 7º país do mundo em 1980. Tínhamos uma economia maior que a da China.
De lá para cá, o Brasil estagnou, parou de crescer e a China ocupou o espaço que o Brasil vinha ocupando de ser o país que mais cresce no mundo.
O Estado chinês, que é liderado pelo Partido Comunista da China, tem como tarefa central desenvolver as forças produtivas e colocar essa capacidade produtiva em benefício do povo.
A China foi devastada durante séculos. Em 1820, a China era a maior economia do planeta, mas foi devastada por invasores como a Inglaterra e depois pelo Japão. Passando em seguida por uma guerra civil.
Quando fez a Revolução, em 1949, a China precisou se reconstruir.
Até algum tempo atrás, os salários eram mais baixos, mas esses salários foram crescendo. Novecentos milhões de pessoas foram tiradas da miséria pelo desenvolvimento chinês.
Os salários vêm crescendo mais que a produtividade do trabalho. A renda está sendo cada vez mais distribuída, mostrando que o compromisso com o desenvolvimento das forças produtivas e também em beneficiar o povo trabalhador são os elementos centrais do ponto de vista da economia chinesa.
É isso que faz a economia crescer.
Os Estados Unidos também intervém na economia. Mas de que forma? A intervenção é para favorecer os rentistas, favorecer a oligarquia financeira e não para beneficiar seu próprio povo. E assim se mantém estagnada.
Alguém pode dizer: “Mas isso ocorre porque a China começou a implantar o mercado”.
Ora, se fosse o mercado, por que o restante da economia mundial, que é de mercado, não cresce? Por que o mercado só ajuda a crescer na China?
Por mais que a China tenha introduzido mecanismos mercantis, não é o mercado que faz a economia crescer de forma acelerada. O que faz isso é a ação do Estado.
A ação do Estado chinês, que planeja a economia, que define os setores estratégicos, que define o caminho a longo prazo. E faz isso porque defende os interesses dos trabalhadores. Por mais que o mercado tenha um papel auxiliar, é basicamente o Estado, dirigido pelo Partido Comunista, que lidera esse crescimento.
Tem o debate se a China é ou não capitalista. Capitalista não é, se fosse, estaria na enrascada que o mundo capitalista está hoje. Apesar do peso crescente que o mercado tem na economia, a China segue como um país socialista.
No momento atual, a China montou uma estrutura em que o Estado tem um papel preponderante na economia.
Para concluir, esse peso da China vai redefinir a geopolítica do mundo. Vai mudar a estrutura de poder, declinando o centro hegemônico do capitalismo mundial, os Estados Unidos, com a ascensão da principal economia socialista do mundo que é a China.
Walter Sorrentino, secretário de Relações Internacionais e vice-presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
Olá amigos e amigas, saúdo a todos vocês e suas congratulações que se prestam hoje ao governo, ao Partido Comunista Chinês, pelo 71 anos da revolução popular. Foi a Revolução que promoveu o renascimento da nação chinesa e sua independência total.
A China se transformou com impressionante progresso para o seu povo, e o incrível desenvolvimento econômico alcançado. Já é a primeira economia mundial por poder paritário de compra. Isso apoiou também as democratizações nas relações internacionais.
O enfrentamento da pandemia da Covid-19 é uma das coisas impressionantes que acompanhei nesses meses. A China deu lições de diligência, de responsabilidade, compromisso no enfrentamento dela.
Hoje, já está a mais de 40 dias sem novas mortes. Assombrou o mundo. Foi o país que mais prontamente se recuperou economicamente em todo o mundo, já no segundo trimestre deste ano.
Impressionou também, por sua solidariedade aos povos, disponibilizando apoio e pesquisas sobre a vacina.
Em minhas visitas à China, achei incrível como ainda hoje se erguem grandes metrópoles inteligentes a partir de um verdadeiro pântano, recuperado.
É o caso dessa região de Shenzhen a mais desenvolvida desde a reforma e abertura, uma região que é vizinha à Macau e Hong Kong. Aliás, tem uma ponte de 55 km interligando essas três.
Ali na província de Shandong estará a cidade mais inteligente do planeta, tudo planejado. Com novas fontes de energia limpa, 100% de carros elétricos, saneamento 100%, totalmente informatizada, quanto ao espaço urbano e às políticas públicas. Nunca vi nada igual, não se parece com nada que já exista em outras partes do mundo.
Devo falar também da região noroeste do país, ao sudoeste da Mongólia.
Diariamente nós vemos na mídia ocidental, a coordenação, a suposta perseguição étnica na China.
Mas veja, a China tem dezenas de etnias e uma das políticas de governo é dar direitos e desenvolver essas regiões. É o que eu vi em Urumqi, num frio de -12º, que é a capital dessa região onde habitam um povo de antiga cultura, de extração muçulmana, com seus tempos livres, cheios de orgulho, suas expressões artísticas marcantes, a que pude assistir.
A cidade de Urumqi foi transformada no maior ramo regional que se constituiu naquela região, porque ali se faz a iniciativa de um cinturão, uma rota. Urumqi é um ponto de interligação, de infraestrutura logística, por onde escoam as economias para toda a Ásia central, bem como a Rússia que está ao norte.
Junto com isso, participei de muitos eventos políticos, teóricos e acadêmicos, geralmente são em Pequim ou Xangai.
É inacreditável o quanto os chineses estão avançados na formação de uma inteligência que pesquisa a fundo o marxismo e a nova luta pelo socialismo. Domina a ponta tecnológica, não só com o 5G que se disputa, como também o mais avançado computador quântico do planeta.
O domínio da tecnologia espacial aliás, lembro a vocês, o maior convênio político do Brasil neste momento é com a China, exatamente na construção de satélites, na Base de Alcântara, no norte do país.
Nem é preciso dizer que, além disso, a China dá de comer, atende a saúde e a educação, a moradia, e da dignidade a 1,6 bilhões de seres humanos.
O que não é tão claro na visão ocidental, que faz Guerra Fria com a China, é o grande espírito de abertura do país, sua relação com o exterior. Isso se vê no próprio povo, pelo menos nas grandes cidades onde eu pude constatar.
O povo é de maioria da etnia Han, e é todo ao contrário dos preconceitos passado e presentes. Há uma autêntica vontade de conviver com o exterior, é um povo ameno, cheio de cultura científica e cívica, muito empreendedor.
Ele tem justo orgulho daquilo em que a China se transformou. Se expressa também essa tendência na orientação estratégica do governo, que é uma orientação de abertura para compartilhar benefícios comuns do desenvolvimento das nações rumo a um destino comum da humanidade.
Isso é demonstrado em iniciativas dirigidas aos partidos políticos democráticos de todo o mundo. Seminários, conferências e estive em vários deles. Foram muito importantes no caso da América Latina e Caribe, para qual se criou um centro específico de relações com a China. Um enorme espaço foi construído para sediar as iniciativas governamentais ou partidárias dos interesses que essas duas regiões têm em comum.
Estive num encontro que tinha mais de 70 partidos da comunidade dos estados latino-americanos e caribenhos, de todas as extrações, liberais, democratas até a esquerda.
Como disse, é infinito o que se poderia dizer e, em rápidas palavras, não caberia tudo.
Mas resta o essencial: dizer sobre a existência de um governo que age pelo bem comum, um governo comunista. O que mais me impressiona é a grande capacidade de elaborar suas orientações estratégicas e planejar sua execução de forma diligente. Ou seja, a China sabe o que quer, e sabe o que e como fazer para chegar aos seus objetivos. No centro disso tudo está a direção segura do Partido Comunista da China.
De onde vem essa capacidade?
O Partido Comunista da China recolheu a essência de 5 mil anos de cultura histórica. Aprendeu com os impasses da primeira experiência socialista da União Soviética e teve menos medo de ousar do que ficar na defensiva da defesa do socialismo.
Uma dessas lições foi expressa por Xi Jinping, presidente chinês, num recente encontro com seu parceiro estratégico, da Rússia, o presidente Putin.
Xi Jinping disse:
“O partido comunista soviético tinha 200 mil membros quando tomou o poder em 1917. Tinha 2 milhões de membros quando derrotou Hitler na grande guerra pátria, e tinha 20 milhões de membros quando renunciou ao poder. Por que razão fez isso? Ele responde: Porque os ideais e as crenças não estavam mais lá”.
Termino dizendo que a China demonstra abertamente que há sim alternativas ao atual estado de coisas. Ou seja, nós vivemos em um situação que se diz que o socialismo fracassou.
Fracassou? Não.
O novo sistema, ao contrário, está se reformulando corajosamente em suas bases teóricas e abrindo um novo ciclo histórico de transição ao socialismo. Sendo amplamente vitorioso no plano interno e mundial sobre o papel da China.
Há sim outros caminhos contra o neoliberalismo senil, o tacão do capital financeirizado que leva o mundo a contradições insanáveis, concentrações de capital e riqueza. Uma palperização das maiorias sociais. Leva a crises e desigualdades no desenvolvimento das nações.
Enfim, há alternativa sim a um sistema que veda as imensas massas sociais à apropriação dos efeitos dos grandes avanços tecnológicos da nossa época. Ao contrário. Esse sistema pressiona essas massas sociais a se tornarem uma imensa massa de desvalidos que nem sequer terão o direito a serem explorados mediante a um salário. Imaginem.
Esse é um mundo de crises. Crise do liberalismo, da globalização imperialista, um mundo de guerras e de agressões de todo o tipo. A isso só podemos responder com o socialismo.
Uma grande nação como o Brasil, território, PIB e população, tem potencial e vontade para ter a mesma ousadia da China para abrir seus caminhos para o florescimento da Pátria Livre a serviço do povo e do socialismo.
Quando homenageamos os 71 anos da Revolução Chinesa, não o fazemos como se fosse um modelo, mas sim, um estímulo a pensarmos com nossas próprias cabeças por esse socialismo com a cara e o jeito do Brasil.
Esther Majerowicz, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Boa tarde a todos e todas, meu nome é Esther Majerowicz eu sou professora do departamento de economia da UFRN. Em primeiro lugar queria agradecer o convite da UMES. Sempre bom estar com o movimento estudantil, especialmente o movimento secundarista, que na conjuntura que a gente vive me parece que tem um papel muito importante a cumprir.
Hoje estou aqui para discutir um pouco com vocês o papel da China e o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação e o papel da China nessas tecnologias e a disputa internacional ao redor delas.
Acho que pra gente entender a centralidade que o partido-estado atribuiu ao desenvolvimento da indústria de tecnologias da informação e comunicação.
Os avanços que a China teve, o sucesso que ela logrou nessas tecnologias e produtos, mas também o atraso que nós vemos em determinados setores, a gente precisa pra isso, entender qual a centralidade, o papel dessas tecnologias, dessas indústrias de hoje na economia internacional, na geopolítica.
Acho que já está claro pra gente o quanto esses produtos e essas tecnologias transformaram a nossa sociabilidade. A forma com que a gente interage no nosso trabalho, a própria forma do nosso trabalho, os processos de plataformalização, uberização, da nossa sociabilidade em geral.
Essas tecnologias, na medida em que se difundem, elas geram um grande crescimento da produção e um grande crescimento do consumo. Portanto esse setor do TIC [tecnologias da informação e comunicação] um setor que teve mais dinamismo na economia mundial nas últimas décadas.
É importante para os grandes capitais e para os países estarem localizados nesses setores que são de alto valor agregado, de grande dinamismo e de grande crescimento.
Não é a toa que hoje as principais empresas do mundo são empresas de tecnologia, em termos de capitalização do mercado. São as Big-Tec.
Em segundo lugar, não tem só o aspecto econômico, a gente vai ver que essas tecnologias viabilizaram mudanças no próprio paradigma de guerra e de como uma guerra é feita.
A guerra com grandes exércitos lutando em trincheiras como a primeira e a segunda guerra mundial, dá lugar ao paradigma de guerras locais e condições de formatização, cujo marco foi a guerra do Golfo em 1991.
Os EUA mostram que o desenvolvimento tecnológico pode levar a supremacia militar, e uma série de transformações nos sistemas de armamentos de defesa, que passam agora principalmente a depender de munição de precisão ou mísseis teleguiados.
Tudo isso só acontece porque você tem módulos eletrônicos que garantem esses cálculos, a precisão, atirar a distância, tudo isso depende das tecnologias da informação e comunicação.
Portanto são tecnologias de uso dual, isso é: civil e militar. Importantes para indústria de defesa com poderio bélico convencional e não convencional. Na medida também que se abrem novas esferas de guerra como a cyber-guerra e a guerra eletrônica.
Para os países essa é uma indústria estratégica do ponto de vista do dinamismo econômico e do ponto de vista do poderio militar.
A medida que esses bens, computadores, smartphones, tablets, vão sendo difundidos entre a população mundial. A medida que a internet também vai se difundindo, portanto o sistema de telecomunicação vai ganhando capilaridade. Essa infraestrutura digital também se difunde ao redor do mundo, também vão sendo criados sistemas de monitoramento a partir desses dispositivos.
Da parte dos grandes capitais das grandes empresas, acho que também já ficou evidente para gente, pelo comportamento das Big-Tech, a questão da privacidade dos dados, como também pelos estados, basta ver as revelações do Snowden e as operações de vigilância internacional que a NSA tinha ao redor do mundo, incluindo o Brasil, países aliados, contra massas de populações estrangeiras.
Vemos três vetores pelo menos, que essas tecnologias são importantes: Concorrência econômica; Concorrência militar; e pros sistemas internacionais e domésticos de vigilância. Em um cenário aonde a precarização do trabalho vai aumentando. Seja no Brasil nos EUA ou na China, um cenário onde as desigualdades ao redor do mundo tendem a explodir.
Portanto, o controle sobre elas aparece como central para os países que querem ter alguma soberania, e principalmente os países que estão na ponta da disputa econômica e geopolítica internacional. As grande potências.
Então a China ela percebe a centralidade dessas tecnologias e da prioridade através de distintas rodadas de política industrial e começa a ser muito bem sucedida nos produtos finais dessa indústria de TI. Seja os produtos para os consumidores finais, smartphones e tablets, como também os equipamentos de telecomunicação que são já inseridos nas estruturas digitais dos países.
Esse sucesso da China nesses produtos finais da indústria de TI, todavia não é acompanhado pelo mesmo desenvolvimento nas partes e componentes que são necessárias para produção desses produtos e na maquinaria necessária para produzir as partes e componentes.
Como a gente sabe um computador, um celular tem diversos componentes como processador, memória, chip de radiofrequência, tudo isso depende dos semicondutores, dos chips. O processo de digitalização que começa agora a se aprofundar ainda mais e sai só da esfera do consumo e vai tocar a produção industrial, seja pelo ‘Made in China 2025’ ou seja pelo nome de ‘Indústria 4.0’ na Alemanha, é cada vez mais incorporado aos nossos domicílios, equipamentos e eletrodomésticos que agora carregam sensores, carregam chips que conectam na internet, então a gente também está em um momento de aprofundamento da digitalização.
É neste cenário a China adquiriu primazia em sub-setores como nos aparelhos de 5G, ou que agora ultrapasse a Samsung e a Apple para se tornar a principal do mundo na venda de smartphones com a Huawei, que são dados agora do segundo trimestre de 2020.
A China tem esse sucesso em cima desses produtos finais que estão no nosso dia-a-dia, ainda depende muito desses componentes, desses chips, dessas peças, desses semicondutores e das máquinas que os produzem para fazer os produtos finais. E é aqui que ela depende fundamentalmente de produtos e tecnologias americanos.
E aí a gente vê como os EUA tentam agora controlar o fornecimento dessas peças e maquinarias, não só das próprias empresas americanas, mas também das empresas de outros países que usam tecnologia americana para produzir suas peças, seus chips. Como por exemplo, a Samsung usa máquinas dos EUA e agora ela não pode mais vender para a Huawei.
Começa a ter um controle, porque essa indústria é estratégica em todas essas dimensões que os países controlam sua difusão, o fornecimento dessas peças para a China, que começava a caminhar e atingir excelência em diversos subsetores dos produtos finais.
É óbvio que a China também tem política para desenvolver essas peças e componentes e desenvolver o maquinário. Mas são tecnologias muito controladas, muito difíceis, não se replicam do dia para a noite, não se absorvem de uma hora para outra, e elas são historicamente supervisionadas, a exportação delas, a transferência tecnológica passa pelas políticas estatais. E ai pelas políticas do estado americano, mas também dos rivais ou dos seus aliados.
É possível entender como que um país quando entra atrasado na economia mundial, pode ter um desenvolvimento que é desbalanceado. Em uma ponta ele ultrapassa os EUA como no 5G, mas ainda assim depende dele.
A situação atual também não tem nada a ver com a situação da Guerra Fria.
Na Guerra Fria, as economias dos EUA e da União Soviética são, de certa forma, descoladas. Agora existe um imbricamento entre as economias chinesa e americana.
Da mesma forma que a China depende das partes e componentes, maquinaria e tecnologia americana, as empresas americanas que vendem essas partes e componentes e essas máquinas estão fazendo uma grande de uma chiadeira lá dentro, porque elas precisam do mercado chinês. São contradições que não existiam no período anterior.
Por que então que o 5G adquire toda essa centralidade na disputa internacional?
Em primeiro lugar a gente vive um momento de aprofundamento da digitalização, seja na malha urbana, na malha produtiva, seja na esfera doméstica. O 5G se propõe a ser uma infraestrutura de telecomunicações pela primeira vez pensada para dar suporte para todas essas aplicações.
O 5G não seria só o aumento da velocidade da conexão que a gente recebe, mas também, se plenamente desenvolvido e implementado, ele possibilitaria que o sistema de telecomunicações desse suporte a uma massa muito maior de dispositivos de baixa potência e baixo custo. Ou seja, sensores, chips que vão estar incrustados na malha urbana, na infra-estrutura produtiva e na nossa casa.
Essa corrida de quem coloca o 5G antes é muito importante se desenvolvido plenamente para dar suporte a essa massa crescente da digitalização.
O 5G possibilitaria também que a conexão seja ultra-confiável, assim a chance de ter intermitências seria muita baixa. Possibilitaria também que operações que a gente chama de missões críticas, isso é, que se dar uma falha na conexão você pode complementar a vida, como por exemplo uma cirurgia remota, ou veículos auto-guiados, o 5G daria suporte a esse tipo de aplicação pois teria uma conexão ultra-confiável.
Essa corrida pelo 5G é uma corrida por abertura de outros mercados, outras aplicações. Essa difusão da digitalização ainda não está colocada. Quem fizer isso primeiro vai ter uma vantagem sobre os outros mercados.
À medida que os processos de digitalização se aprofundam e a infraestrutura urbana e a malha produtiva vão sendo acopladas ao sistema de telecomunicação, ele passa a ser um sistema de sistemas.
Se um país derrubar o sistema de telecomunicações do outro, ele pode estar derrubando o sistema de energia, o sistema de transporte. Eventualmente pode provocar o caos urbano.
O sistema de telecomunicação passa a estar no centro dos cálculos militares e passa a ter um papel muito maior no ponto de vista da defesa nacional.
Para nós é importante que o Brasil possua sua tecnologia própria, sua indústria. Porque sem essa tecnologia sob o nosso controle, é bem possível que elas sejam instrumentalizadas por outros países.
Para isso precisamos ter investimento em Educação e em Ciência. Não fazer isso agora é abrir um fosso ainda maior entre nós e os países que estão na ponta do mundo.