Estavam também no jantar Kassio Nunes Marques, indicado do Planalto para o STF, e Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Dez pizzas foram encomendadas
A mais alta Corte brasileira decide questões da maior importância para a vida das pessoas e do país. Ela é a guardiã da Constituição. Deve zelar pelo seu cumprimento.
Qualquer um que chegue a ocupar uma de suas cadeiras deve comprovar, no Senado, ter notório saber jurídico e reputação ilibada. Certo? Para o povo brasileiro, sim, mas para Bolsonaro, nada disso interessa. Seu critério para o cargo é alguém “leal às nossas causas” e que tome “cerveja ou tubaína comigo no fim de semana”.
Foi isso o que ele disse aos seus seguidores em uma live na última quinta-feira (01). Antes, ele chegou a incluir a condição de ser “terrivelmente evangélico” para a pessoa ser indicada, mas, para ira de seus apoiadores, o presidente mudou seu discurso e passou a adotar “critérios” mais “pragmáticos” para a indicação ao STF.
Diante das críticas ferozes de sua base eleitoral à indicação de Kassio Nunes Marques para substituir Celso de Mello, Jair Bolsonaro abriu o jogo em sua live que foi ao ar na quinta-feira (01): “Kassio Nunes já tomou muita tubaína comigo. (…) A questão de amizade é importante, né?” “O convívio da gente é fundamental”, argumentou.
O convescote de sábado (03) à noite, ocorrido na casa do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), em que Bolsonaro aparece dando um abraço efusivo no ex-presidente da Corte, foi outro episódio que enfureceu mais ainda os já desconfiados bolsonaristas.
Eles ainda acreditavam cegamente no discurso anticorrupção do “mito”. Não perceberam que, desde que entrou no Planalto, Bolsonaro não fez outra coisa a não ser perseguir quem realmente combate a corrupção. Ele desmontou o Coaf, interveio na Receita Federal, mudou a direção da Polícia Federal e, por fim, se atracou com o ministro Sérgio Moro, figura símbolo do combate à corrupção.
Seus fieis seguidores não perceberam que o que realmente está acima de tudo e de todos, para Bolsonaro, não é uma figura divina, mas sim a blindagem da família e dos aliados. E que, para viabilizar esse intento, o presidente não descansou enquanto não completou o desmonte das instituições de combate à corrupção. As últimas instituições atacadas por ele, agora, são as forças-tarefas da Lava Jato.
Elas estão sendo literalmente desmontadas nos últimos dias. E para este objetivo, Bolsonaro passou a contar com o prestimoso apoio do procurador-geral da República, Augusto Aras, não por acaso nomeado por ele por fora da lista dos procuradores. Esta cruzada “anti-Lava Jato” tem recebido também aplausos de alguns setores que foram, ou estão sendo, investigados pela operação.
Toffoli explicou neste domingo (04) que Jair Bolsonaro foi jantar na casa dele na noite deste sábado (3) por “amizade”. “Eu tenho uma boa relação com o presidente. Não sou amigo íntimo, mas ele veio aqui porque se sente bem”, afirmou o ex-presidente da Corte. A felicidade dos dois ao se encontrarem e se abraçarem foi, realmente, impressionante.
Ao ficarem enfurecidos com o abraço apertado de Bolsonaro em Toffoli, os “bolsonaristas de raiz” esqueceram que foi o então presidente do STF quem paralisou as investigações do “zero um” por seis meses. O afago do presidente em Toffoli nada mais foi do que um agradecimento especial.
Dias Toffoli e Gilmar Mendes, aliás, já vêm há algum tempo atuando em parceria com o Planalto e a PGR para esvaziar a Lava Jato e colocar um freio no combate à corrupção. As decisões de Mendes na segunda turma (sem a presença de Celso de Mello) que o digam. Vários inquéritos da Lava Jato foram revisados.
Estava presente também no jantar Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Apesar de todos eles afirmarem que só foram na casa de Toffoli para assistir uma partida de futebol, o cardápio do jantar, para o qual o presidente levou seu indicado para o STF a tiracolo, estava recheado de interesses.
Desde inquéritos palacianos e de familiares tramitando na alta Corte, passando por suspensões de processos da Lava Jato, análise de prisão após segunda instância, e até reeleições proibidas pela Constituição. Tudo isso em meio ao jogo do Palmeiras contra o Ceará.
O jantar, além de tudo, marcou também um forte desrespeito ao decano, Celso de Mello, que ainda não deixou o cargo, e ao novo presidente do STF, Luiz Fux, que substituiu Toffoli.
A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), já jogou uma ducha de água fria na “pressa” de Bolsonaro. Ela informou que a sabatina de Kassio Nunes Marques deverá ocorrer somente após o dia 13 de outubro, data da aposentadoria do ministro Celso de Mello. Segundo a senadora, a medida é uma manifestação de respeito do Senado ao decano da Corte.