Acostumado no convívio com as milícias, o presidente acha que pode calar juízes, delegados, procuradores, parlamentares, controlar a PF e decretar impunemente o fim dos órgãos de combate à corrupção.
Nesta quarta-feira (07), Jair Bolsonaro anunciou que sua “missão” estava cumprida. “Tenho orgulho e satisfação em dizer à imprensa que eu não quero acabar com a Lava Jato, eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”, disse ele.
Realmente, Bolsonaro já vem há algum tempo se acumpliciando com figuras como Dias Toffoli e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e com Augusto Aras, indicado por ele para a procuradoria-geral da República (PGR), para detonar as investigações da Lava Jato.
Desde que foi selado esse sinistro pacto, as forças-tarefas de combate à corrupção nos estados vêm sendo atacadas de todos os lados e os procuradores passaram a sofrer o “pão que o diabo amassou”.
Bolsonaro acha que pode mentir sobre esse assunto. Que pode inventar que a Lava Jato não é mais necessária porque ele decretou que não existe corrupção em seu governo. A corrupção deve ter acabado assim como acabou também, na ótica de Bolsonaro, a pandemia do coronavírus. Aliás, na opinião dele, ela nem existiu, apesar dos quase 150 mil brasileiros mortos pela Covid-19.
Acostumado ao convívio com as milícias, o presidente acha que pode calar juízes, delegados, procuradores, parlamentares, controlar a PF e decretar o fim das instituições de combate à corrupção.
Os ataques de Bolsonaro aos procuradores das forças-tarefas da Lava Jato não são fatos isolados. Eles se somam a outras medidas de perseguição que vinham sendo tomadas pelo governo.
O presidente acha, por exemplo, que perseguindo o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, e ameaçando a promotora Patrícia do Couto Villela, do Ministério Público do Rio, que investigam o esquema criminoso de seu filho, o “zero um”, que hoje é senador, e de seu comparsa Fabrício Queiroz, tudo vai cair no esquecimento.
Ele pensa também que escondendo Queiroz e calando-se sobre o que motivou os depósitos de 21 cheques, no valor total de R$ 89 mil, feitos pelo assessor, na conta de sua mulher, Michelle Bolsonaro, tudo desaparece. Que ninguém mais vai perguntar sobre esse assunto.
A declaração de Bolsonaro sobre o fim da Lava Jato só confirma que todo o discurso pseudomoralista de combate à corrupção e outras promessas feitas por ele na campanha eleitoral, era enganação, era um estelionato eleitoral.
Para se eleger em 2018, Jair Bolsonaro se fingiu de “messias”, que teria a “sagrada missão” de combater a roubalheira no país. Até uma encenação de ser batizado nas águas do Rio Jordão pelo pastor Everaldo, outro falsário como ele, que hoje está atrás das grades, preso por roubo e lavagem de dinheiro, ele montou para enganar os eleitores, principalmente os cristãos.
Foi com esse discurso cínico que ele se apresentou na eleição. Assim que assumiu o governo, ele iniciou imediatamente a sua cruzada, não contra a corrupção, mas sim contra todos os investigadores e órgãos que combatem a corrupção.
Sua “missão” não era acabar com a roubalheira, mas escondê-la. Para isso, o seu plano era o controle dos órgãos de repressão e combate à corrupção.
Seu primeiro movimento, assim que assumiu o governo, foi intervir na Receita Federal. Ela estava investigando muito. Estava incomodando seus filhos e aliados.
Perseguiu e esvaziou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de inteligência financeira que divulgou um relatório revelando que seu filho, Flávio, lavou milhões desviados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ele perseguiu o órgão até jogá-lo no terceiro escalão do Banco Central.
Para concretizar os seus planos, Bolsonaro iniciou também uma guerra contra o ministro da Justiça, Sérgio Moro, figura emblemática no combate à corrupção. Moro fora cooptado por ele para dar um verniz de seriedade a sua administração. A convivência entre os dois durou pouco.
A meta de Bolsonaro era aparelhar a Polícia Federal e Moro era um obstáculo a esses intentos. O ex-juiz acabou deixando o governo.
Em seu twitter, o ex-ministro Moro avaliou nesta quinta-feira (08) o anúncio de Bolsonaro sobre a Lava Jato. “As tentativas de acabar com a Lava Jato representam a volta da corrupção. É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?”, indagou.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues, também ironizou as declarações do presidente: “A atuação de Bolsonaro, de fato, desmantelou os mecanismos de combate à corrupção no país. Aos moldes da ditadura, diz não existir corrupção quando interfere na realização de investigações. Seria piada se não fosse uma afronta ao nosso Estado Democrático!”, disse o senador.
A fala de Bolsonaro na famosa reunião ministerial de 22 de abril, mostrou que ele agia compulsivamente para “proteger a família e amigos” que estavam sendo investigados por corrupção.
“É putaria o tempo todo para me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa, oficialmente, e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha”, disse Bolsonaro, na ocasião.
A trajetória de Bolsonaro na Câmara dos Deputados foi marcada por “rachadinhas”, fraudes e também por elogios à ditadura e aos torturadores. Não se podia esperar outra coisa dele na Presidência, a não ser essas mesmas práticas, só que amplificadas.
Ele passou boa parte dos seus 27 anos de mandato fazendo todo tipo de falcatruas e dando pequenos golpes contra os cofres públicos, como fraudar cota de combustível, contratar funcionários fantasmas, desviar parte de seus salários, etc. É esse mesmo corrupto compulsivo que anuncia que fechou a Lava Jato porque “não existe mais corrupção” em seu governo.
Assista abaixo ao vídeo com o anúncio de que Bolsonaro acabou com a Lava Jato