“A gente não vai interferir em nada“, disse Bolsonaro
Como vem ocorrendo com o arroz, que o preço disparou em plena pandemia, com o desemprego aumentando e a renda apertada, Bolsonaro declarou que não vai fazer nada com o aumento do preço do óleo de soja.
Segundo o IBGE, a inflação oficial (IPCA) disparou em setembro puxada pela alta dos alimentos e da gasolina, esse último, por sinal, teve mais um aumento nas refinarias anunciado pelo governo no sábado (11), a terceira alta nas últimas três semanas.
No caso dos alimentos, diz o IBGE: “A aceleração no grupo Alimentação e bebidas (2,28%) ocorreu especialmente em função dos alimentos para consumo no domicílio, cujos preços subiram 2,89% frente a agosto. Entre as maiores variações, estão o óleo de soja (27,54%) e o arroz (17,98%), que acumulam no ano altas de 51,30% e 40,69%, respectivamente. Em conjunto, os dois itens contribuíram com 0,16 p.p. no IPCA de setembro“.
E o que diz Bolsonaro? O “pessoal do campo está feliz” com o maior volume de exportações para a China. “Semana que vem, com a Tereza Cristina [ministra da Agricultura], vamos conversar sobre soja no Brasil. A gente não vai regular, a gente não vai interferir em nada, querer dar uma carteirada, exigir, tabelar, isso não existe, é livre mercado”, declarou nas redes sociais no sábado (11).
“A questão da soja, vou conversar com a Tereza Cristina, ela está acertando um encontro com os grandes produtores de soja no Brasil, para a gente ver como fica essa questão, para atender o mercado interno também”, acrescentou.
PREÇO RECORDE
Na segunda-feira (5), o Indicador da soja ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá (PR) – principal porto de formação do preço do grão e derivados – fechou a R$ 156,02/saca de 60 kg, recorde real dessa série histórica do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciada em março de 2006. Até então, a máxima diária real havia sido observada em 31 de agosto de 2012, quando o Indicador corrigido pela inflação foi de R$ 153,40 (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de agosto/2020).
Em termos reais, diz o Cepea, a média do Indicador na parcial deste mês está 52,44% acima da observada em outubro do ano passado.
Em um ano recorde de produção e com o aumento da demanda externa, o governo não tomou qualquer providência para suprir o mercado interno com estoques reguladores, deixando o mercado doméstico à mercê da disputa acirrada pelo que sobrou e à mercê dos valores altos da paridade de exportação que “está deixando o pessoal do campo muito feliz”.
Segundo pesquisadores do Cepea, “o ritmo acelerado de processamento e a aquecida demanda, especialmente externa, reduziram rapidamente os estoques domésticos de soja e derivados, mesmo em um ano de recorde de produção. Assim, a disputa pelo grão restante está acirrada e os valores altos da paridade de exportação, sustentados pelo dólar valorizado, alavancam as cotações domésticas”.
Indústrias esmagadoras enfrentam dificuldades nas aquisições de soja para recebimento ainda em 2020, o que tem limitado a produção de derivados e refletido em preços de farelo e óleo de soja significativamente elevados no Brasil, diz o Cepea.
Para os consumidores, que não estão nada felizes com o aumento abusivo nos preços dos alimentos e não veem nenhuma atitude da parte do governo para conter o abuso, o cenário não é nada animador.
Segundo o Cepea, o aumento nos preços pode continuar na próxima temporada 2020/21, “isso porque mais da metade da safra de soja (2020/21) já foi vendida e, agora, os sojicultores já estão cautelosos nas novas vendas, devido ao clima quente e seco, que gera incertezas quanto ao volume de soja a ser produzido”.