Já o lucro dos bancos no primeiro semestre somou R$ 40,8 bilhões, diz BC
Um estudo do Itaú Unibanco, sobre impactos da Covid-19 em setores da economia, aponta que apenas quatro dos 14 analisados recuperaram perdas ou registraram demanda acima ou similar ao patamar anterior a Covid-19, o que contradiz a recuperação econômica em “V” do ministro da Economia, Paulo Guedes, quando a economia sai do fundo do poço na mesma intensidade em que chegou.
Entre os quatro setores apontados estão: o agronegócio, que na verdade não viu crise na pandemia, algumas áreas da construção civil, o setor de alimentos e nichos da tecnologia, como aplicativos de entrega e empresas de vendas online, por exemplo, registra o estudo, que foi divulgado pelo Estadão, na quarta-feira (14).
Já os setores que tiveram forte queda na crise, empresas ligadas ao mercado automotivo, transportes urbanos, lazer, turismo, transporte aéreo de passageiros e eventos, sinalizaram “demanda fria” (recuperação ainda lenta) no termômetro da recuperação do Itaú Unibanco.
De acordo com o estudo ainda, empresas de vestuário, eletroeletrônicos, siderurgia e transporte e logística estão com a “demanda morna” (com algum tipo de recuperação), mas estão tendo dificuldade em se reorganizar para dar conta da demanda, que se apresentou antes do esperado pelo mercado, segundo Pedro Renault, que é responsável pelo estudo.
Segundo Renault, após o consumo ter chegado ao “fundo do poço” em abril, ele voltou a dar sinais de aquecimento em maio, em boa parte beneficiado pelo auxílio emergencial de R$ 600, o que surpreendeu os empresários, que foram pegos com estoques baixos e capacidade limitada de reação. Naquele momento “operavam com 50% a 60% da capacidade do primeiro trimestre”.
Lucros dos bancos
O estudo parece que omitiu o setor que mais se beneficiou da crise sanitária, o setor financeiro. Com a liberação pelo Banco Central de mais de R$ 1,2 trilhão para o sistema financeiro, em março deste ano, “para preservar a solvência e a resiliência do sistema bancário no enfrentamento dos efeitos adversos da Covid-19 e para permitir que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) atravessasse o período agudo de estresse, sempre com baixo risco de liquidez“, o dinheiro para ajudar empresas e o pagamento dos salários durante a pandemia ficou empoçado nos bancos. Mais de 700 mil empresas fecharam as portas e o desemprego explodiu.
Segundo divulgou o Banco Central, nesta quinta-feira (15), o lucro líquido das instituições financeiras somou R$ 40,8 bilhões no primeiro semestre deste ano. O BC diz ainda que esse resultado representou uma queda de 31,9% em relação ao mesmo período de 2019, mas que a pandemia eclodiu em um momento em que a rentabilidade bancária já havia se recuperado da recessão de 2015 e de 2016, o que “permitiu a absorção de despesas com provisão em nível semelhante ao observado durante aquela recessão, sem transtornos para o sistema“.
Mesmo com a economia brasileira em recessão, ao registrar uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) de -5,9% no primeiro semestre (janeiro a junho) deste ano, os bancos Itaú Unibanco, Bradesco e o espanhol Santander, os maiores bancos privados no país, lucraram, juntos, R$ 17,9 bilhões neste mesmo período.