“O governo estava buscando apoio no Senado às custas da verba da Covid, ao melhor estilo ‘toma-lá-dá-cá’. Isso aconteceu no final de maio. No começo de julho já pagaram esses recursos, foi para onde os senadores quisessem”, disse
O senador Major Olimpio (PSL-SP) afirmou que Jair Bolsonaro é responsável por um esquema de distribuição de verbas entre senadores que “facilita corrupção”, como no caso do vice-líder do governo, Chico Rodrigues (DEM-RR), que tentou esconder dinheiro entre as nádegas ao ser flagrado em operação da Polícia Federal.
Segundo Olimpio, o governo Bolsonaro distribuiu emendas parlamentares entre senadores para ganhar apoio na Casa. Os senadores deveriam apenas dizer que o dinheiro era para combater a Covid-19.
“Aí alguém diz que pode mandar para onde quiser, em um ano eleitoral, sem processo licitatório convencional, facilita muito. Pegar verba destinada ao combate do coronavírus e fazer uso político-partidário para mim é criminoso”, comentou Olimpio em entrevista ao UOL.
“O governo me ofereceu, como ofereceu para muitos senadores, R$ 30 milhões de verba da Covid-19. O governo dizia que eu deveria colocar apenas a destinação: Covid-19”
“O responsável por essa distribuição de recursos tem nome, sobrenome e endereço: Jair Messias Bolsonaro, Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes”, denunciou Major Olimpio.
“Não adianta tentar falar ‘ai, eu tirei o senador de vice-líder’, ‘ai, eu nunca soube disso’. Quem cria um sistema perigoso dessa forma está sujeito a ter desfechos infelizes dessa natureza. É um sistema que facilita a corrupção”, apontou.
“É uma porta aberta e o presidente tem responsabilidade nisso. Quem propôs isso foi o governo. Não foram os senadores correr atrás do governo, foi o governo que correu atrás dos senadores. É a operação me engana que eu gosto”, prosseguiu.
“O governo estava buscando apoio no Senado às custas da verba da Covid, ao melhor estilo ‘toma-lá-dá-cá’. Isso aconteceu no final de maio. No começo de julho já pagaram esses recursos, foi para onde os senadores quisessem”, disse.
EMENDA SEM CRITÉRIOS
“O governo me ofereceu, como ofereceu para muitos senadores, R$ 30 milhões de verba da Covid-19. O governo dizia que eu deveria colocar apenas a destinação: Covid-19”, relatou o senador.
“É uma porta aberta e o presidente tem responsabilidade nisso. Quem propôs isso foi o governo. Não foram os senadores correr atrás do governo, foi o governo que correu atrás dos senadores. É a operação me engana que eu gosto”, prosseguiu.
“Eu falei: mas não tem aqueles critérios técnicos do Ministério da Saúde, relativos a número de óbitos, número de leitos de UTI, número de contaminados? Responderam: ‘Não, senador, pra onde o sr. quiser mandar o dinheiro será enviado em 30 dias’”, explicou Major Olimpio.
“Eu perguntei: isso é para todos os senadores? Responderam: ‘Claro que não’. Eu disse que não aceitaria. Esperei dar o trigésimo dia e comecei a denunciar”, continuou.
“Lógico que isso é um facilitador da corrupção. Imagina só: ofereceram R$ 30 milhões a fundo perdido, num momento de pandemia, sem precisar fazer processo licitatório formal”, afirmou.
“Então, teve município que quase não teve caso de Covid e recebeu R$ 6 milhões em emendas. Isso tudo está em processo de apuração. Foi um caminho aberto perigosamente para a destinação de R$ 30 milhões sem seguir requisitos do Ministério da Saúde e sim para ser mandado para onde o senador quisesse. Esse dinheiro representa o dobro da verba que tem cada senador em um ano”, relatou.
“Lógico que isso é um facilitador da corrupção. Imagina só: ofereceram R$ 30 milhões a fundo perdido, num momento de pandemia, sem precisar fazer processo licitatório formal”
Major Olimpio, que apoiou Bolsonaro em sua eleição em 2018, rompeu com o governo por conta das sucessivas denúncias de corrupção e da briga de Jair com os dirigentes do PSL.
Em agosto, quando Jair Bolsonaro declarou que pensava em voltar para o partido, depois do fracasso na criação do Aliança pelo Brasil, Major Olimpio se posicionou contra. “Se a maioria tiver vergonha na cara, não aceita! Se o PSL quiser mesmo lutar contra a corrupção, não é com Bolsonaro”, disse.