Bolsonaro disse estar torcendo pela reeleição de Trump
O protocolo de “boas intenções” de Comércio e Cooperação Econômica (ATEC, na sigla em inglês), assinado entre o Brasil e EUA, é um servilismo de Bolsonaro aos interesses do presidente norte-americano, Donald Trump. O pacote de cooperação, “ambicioso e moderno”, como afirma o governo Bolsonaro, não é um acordo que traga benefícios comerciais aos brasileiros, é simplesmente para banir a tecnologia da empresa chinesa Huawei Technologies do País, com o fim de conceder o monopólio dos dispositivos 5G aos EUA.
Em cerimônia no Palácio do Itamaraty, na terça-feira (20), a delegação norte-americana chefiada pelo conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Robert O’Brien, assinou mais um memorando de entendimento (ao todo foram 4 até agora) com o governo. O documento foi assinado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pela presidente do Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (EximBank), Kimberly Reed.
O memorando de entendimento permite ao Brasil contratar empréstimos junto ao EximBank para financiar iniciativas de exportação e importação na área de energia nuclear, gás e óleo, infraestrutura, logística e mineração, área de telecomunicações, incluindo a implantação das redes de internet móvel de tecnologia de 5G. O valor global estimado é de US$ 1 bilhão. Ou seja, o governo americano põe à disposição do Brasil dinheiro para importar equipamentos de suas empresas.
O ministro Paulo Guedes deixou claro sua subserviência aos americanos ao dizer que, apesar dos interesses comerciais do Brasil o obrigarem a ter boas relações com todos os países, “nós sabemos o nosso lugar na geopolítica e sabemos que temos que priorizar a questão de segurança”, disse ele. Ou seja, Guedes discursou para jurar obediência ao governo americano.
Presente no evento, Bolsonaro seguiu na mesma direção e afirmou torcer pela reeleição de Donald Trump.
“Desde o primeiro contato com o senhor presidente Donald Trump, nasceu entre nós um sentimento de cooperação de buscar o bem para seus países. De apagarmos o que tínhamos de não feito corretamente por quem nos antecedeu no tocante à devida representação que os nossos países se merecem”.
“Eu quero agradecer ao presidente Trump por estar na vanguarda da nossa entrada na OCDE. Acordos vários assinamos, memorandos, como quatro neste exato momento, e dizer que cada vez mais Brasil e EUA retoma aquela amizade que nasceu em 1922, com toda a certeza”.
“Espero, se essa for a vontade de Deus, comparecer à posse do presidente brevemente reeleito nos EUA. Não preciso esconder isso, é do coração, não interfiro, mas do coração e pelo respeito que tenho ao povo americano e pelo trabalho e pela consideração que Donald Trump teve conosco, é que me manifesto dessa maneira neste momento”.
“Quero agradecer a delegação, prezado embaixador, e dizer da felicidade que tive no dia de hoje em recebê-lo. Até o mês de dezembro, se Deus quiser”, concluiu Bolsonaro.
Ao ceder à pressão dos EUA contra o sistema 5G da Huawei, Bolsonaro colocou os interesses comerciais do Estado brasileiro mais uma vez em último plano. A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil. Esses interesses comerciais americanos têm estado na prioridade do governo Trump.
O exemplo dos prejuízos que esse tipo de relação submissa traz ao Brasil foi a sobretaxa do alumínio brasileiro pelo governo americano, que subiu no último dia 13 de outubro, de 15% para 145%. Segundo representantes do setor, a decisão dos EUA vai inviabilizar exportações de chapas do metal e causar prejuízo de US$ 90 milhões por ano.
As empresas de telecomunicação brasileira trabalham há 22 anos com os equipamentos e tecnologias da Huawei Technologies. “No setor de telecomunicações Huawei tem algo entre 40% e 50% de participação. Para outras indústrias, também é o prestador principal. Para os pequenos provedores de internet [ISP], temos mais de 40% de mercado”, explicou o executivo da Huawei no Brasil, Sun Baocheng, em entrevista concedida para a Folha de S. Paulo.
Baocheng afirma que, sem a Huawei, além de elevar os custos da atual tecnologia que as teles usam hoje, a evolução da tecnologia de quinta geração demoraria até quatro anos para ser iniciada, porque as empresas teriam de trocar todos os equipamentos que não conversam com o 5G dos concorrentes.
“O primeiro é que vai demorar a transformação digital do Brasil. O segundo é que vai aumentar os custos dos operadores e o terceiro é que os custos dos operadores vão ser transferidos para os consumidores. Os brasileiros vão pagar um preço mais alto pelos serviços [de 5G]. Acho que qualquer tipo de banimento contra a Huawei só vai trazer impactos negativos e nenhum ponto positivo”, declarou Sun Baocheng.
Em um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert C. O’Brien, fez terrorismo contra a tecnologia 5G da Huawei, sob o argumento de que ela representaria um risco de segurança aos países. No entanto, O’Brien não apresentou provas das suas acusações.
Além disto, cabe aqui questionar, por que a tecnologia norte-americana seria melhor para proteger informações e dados de outras nações? Não são eles que admitem ter sofrido interferências de hackers na sua disputa eleitoral de 2016? Também não são eles que realizaram espionagens em celulares de chefes de Estado, como ocorreu no caso da chanceler alemã, Angela Merkel, por exemplo?
Os EUA “têm realizado escutas cibernéticas e vigilância”, lembrou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, ao rebater as acusações de O’Brien.
“Acho que a razão pela qual os EUA suprimem a HW Huawei é que, caso outros países usem equipamentos HW, os EUA não poderão mais tocar em outras pessoas através de backdoors”, escreveu Zhao Lijian na conta oficial da embaixada chinesa no Twitter.
Backdoors é uma porta de acesso ao sistema ou redes infectados, que foi criada a partir de um programa instalado que não foi autorizado pelo proprietário, e que permite o acesso ao computador por pessoas não autorizadas. A Huawei já anunciou diversas vezes que gostaria de assinar um acordo de “proibição de backdoors” com os países em que atua.