A Justiça de São Paulo decretou uma nova penhora nas contas bancárias do pastor Valdemiro Santiago. Esta é a segunda vez neste ano que o fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus tem os bens bancários penhorados por ordem da Justiça, em razão de dívidas de aluguéis não pagos pela instituição religiosa.
A igreja neopentecostal alega ter sofrido uma queda enorme na arrecadação dos dízimos dos fiéis na pandemia do coronavírus.
Na decisão, que ainda cabe recurso, foram penhorados R$ 17,5 mil das contas de Valdemiro, com objetivo de quitar um débito de quatro meses de aluguel de um apartamento utilizado por um pastor da igreja e sua família em Pereira Barreto, no interior paulista. A Igreja Mundial não contesta a dívida, mas argumenta à Justiça que o pastor não deveria responder pelo pagamento, alegando que ele não faz parte da ação e que o contrato conta com dois fiadores.
Em agosto, outros R$ 246,6 mil foram penhorados em decorrência do não pagamento do aluguel de um dos seus templos. De acordo com informações divulgadas hoje (4) pelo portal UOL, existem pelo menos 30 ações recentes de cobrança contra a igreja do apóstolo Valdemiro.
MILIONÁRIOS
Segundo a revista norte-americana Forbes, em ranking de 2013, Valdemiro Santiago figura na segunda colocação entre os cinco pastores evangélicos mais ricos do Brasil, com um patrimônio de US$ 220 milhões, ou aproximadamente R$ 440 milhões (com base no câmbio da época). Em primeiro lugar está o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, com uma fortuna estimada em US$ 950 milhões, ou cerca de R$ 1,9 bilhão.
A Igreja do “apóstolo” (como ele se autodenomina) Valdemiro Santiago também é a segunda colocada entre as quatro igrejas que concentram 20% da dívida total das igrejas com a União, e que podem ser anistiadas suas dívidas, caso a emenda-jabuti do deputado federal David Soares (DEM-SP) seja ratificada pelo Congresso Nacional, através da derrubada do veto presidencial a este dispositivo. O termo “jabuti” é uma emenda que não tem correlação alguma com o texto original.
Segundo informações publicadas na revista Piauí, com dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, entre as quatro igrejas que concentram 20% da dívida total das igrejas estão:
1 – Igreja Internacional da Graça de Deus
Pertencente ao “missionário” R.R. Soares, pai do deputado que inseriu o jabuti para isentar as igrejas no Projeto de Lei nº 1581/2020, que tratava de precatórios (dívidas da União com particulares).
Com o jabuti, R.R. Soares e sua igreja teriam perdoadas dívidas de R$ 145,3 milhões.
R.R. Soares, cunhado de Edir Macedo – dono da Igreja Universal do Reino de Deus – foi listado pela revista norte-americana “Forbes”, em 2013, como o quarto pastor evangélico mais rico do Brasil, com fortuna estimada, na época, em US$ 125 milhões.
2 – Igreja Mundial do Poder de Deus
Pertencente ao “apóstolo” Valdemiro Santiago.
Santiago e sua igreja teriam perdoadas, pelo jabuti, dívidas, com o país, de R$ 90,5 milhões.
3 – Igreja Apostólica Renascer em Cristo
De propriedade do “apóstolo” Estevam Hernandes e da bispa Sônia Hernandes.
Os Hernandes, que, em 2007 foram presos e condenados, nos EUA, por lavagem de dinheiro e falsificação de documento público, teriam perdoados, pelo jabuti, uma dívida com o fisco de R$ 33,4 milhões (sobre a prisão do casal, v. Bispos da Renascer escondiam dinheiro até em Bíblia, G1 09/01/2007).
O apóstolo e a bispa estão em quinto lugar entre os evangélicos que mais enriqueceram no Brasil, com fortuna estimada pela “Forbes” em US$ 65 milhões.
4 – Associação Vitória em Cristo
Seu dono é o pastor Silas Malafaia.
Malafaia, pelo jabuti inserido no projeto, teria perdoada uma dívida com a União de R$ 35,7 milhões.
A emenda-jabuti que perdoa as dívidas tributárias bilionárias que instituições religiosas têm com a União foi inserida pelo deputado federal David Soares quando o Congresso examinava o Projeto de Lei nº 1581/2020, que tratava de títulos precatórios, ou seja, do reconhecimento da dívida da União com cidadãos, através da emissão de um título para posterior pagamento. A emenda de Soares contou com o apoio do Palácio do Planalto e de sua base aliada nas Casas Legislativas.
Após aprovação do PL pelo Congresso e a repercussão negativa na sociedade, Bolsonaro vetou a emenda alegando que a eventual sanção poderia levar ao seu impeachment, pois o dispositivo, segundo ele, violava a Lei de Responsabilidade Fiscal. No entanto, Bolsonaro declarou que, se fosse parlamentar, votaria pela derrubada do seu próprio veto.
Ainda não há data marcada para apreciação desse veto presidencial, mas parlamentares têm afirmado que cometeram um erro, ou que foram levados ao erro, na votação que aprovou o jabuti de David Soares, e que pretendem agora votar pela anulação da emenda, isto é, votar pela manutenção do veto presidencial.