Segundo ministro das Minas e Energia, situação só deve se normalizar em 10 dias
O estado do Amapá vive um blecaute em 14 de seus 16 municípios desde a noite de terça-feira (3). O apagão foi ocasionado por um incêndio em uma subestação de energia em Macapá que afetou serviços de saúde, estações de tratamento de água e a comunicação.
Nas palavras do senador amapaense Randolfe Rodrigues, a “situação é de caos”.
A população busca estocar água potável e há filas em postos de combustíveis e desabastecimento nos supermercados.
O governador do Amapá, Waldez Goez, decretou situação de emergência no estado e anunciou a criação de um gabinete de crise para buscar uma solução. Em nota, o governo afirmou que está direcionando energia elétrica para abastecer hospitais e estações de tratamento de água por meio de geradores. A administração estadual colocou em curso um plano de policiamento ostensivo para atuar durante a noite para coibir possíveis crimes.
CENÁRIO DE GUERRA
À Rádio CBN, a única que se mantém na ativa no estado com o uso de geradores, o senador Randolfe Rodrigues (Rede), que está na capital Macapá, relatou que a situação na capital é de caos e o cenário similar ao de uma guerra.
“São três dias de caos, é um cenário de guerra que eu observo aqui no eu estado”, descreveu.
Segundo ele, sem o reestabelecimento de energia ainda nesta sexta-feira (6), poderá haver uma crise alimentar no estado. “Internet não existe no estado. Ontem o sistema de abastecimento de água da capital e de 14 dos 16 municípios também colapsou”, relatou Randolfe em entrevista. “Comerciantes no geral estão tendo enormes prejuízos. Produtos perecíveis já estragaram.”
O senador relata ainda que o calor está impedindo as pessoas de dormirem na capital. “Macapá é uma cidade muito quente e úmida e ainda estamos no âmbito do calor amazônico, então, a noite é muito quente. As pessoas têm que dormir muitas das vezes em frente as suas casas.”
Randolfe informou que a previsão do ministério de Minas e Energia era de que na última quinta-feira, 5, a energia voltaria parcialmente até cerca de 19h, mas não aconteceu.
Ainda assim, quando a energia for reestabelecida, será de 60% ou 70% da capacidade elétrica. “Depois, terão mais 15 dias de racionamento”, explicou. Ao todo, 14 cidades sofrem com o apagão. O Amapá tem 800 mil habitantes e 96% deles estão sendo afetados pela crise energética.
“Gêneros de primeira necessidade começam a faltar, como água e combustível, levando caos aos municípios. A situação é tão grave que os principais hospitais do estado, como o Hospital das Clínicas (HC) e o de Emergências (HE) operam desde a madrugada de quarta-feira à base de geradores”, relatou, em vídeo divulgado por sua assessoria de imprensa.
INCÊNDIO
De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), houve desligamento automático das linhas de transmissão Laranjal/Macapá e das usinas hidrelétricas Coaracy Nunes e Ferreira Gomes após um incêndio em um transformador que pertence à subestação de Macapá. O transformador danificado precisará ser trocado.
Praticamente todo o estado ficou sem energia porque essa é a única subestação de energia do Amapá. Com a unidade fora de operação, as 14 cidades abastecidas por ela ficam sem receber eletricidade. As duas cidades que permanecem com energia são atendidas por sistemas próprios e isolados da rede geral.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, informou nesta sexta-feira (06), que o governo federal espera que o problema seja solucionado num prazo de 10 dias.
“Em até 10 dias nós pretendemos restabelecer 100% da energia no Amapá”, afirmou o ministro, depois de uma reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
O ministro, que esteve em Macapá na quinta-feira, retornou a Brasília. Segundo moradores da região, ele não teria dormido na cidade devido à falta de condições.
Será necessário realizar o tratamento do óleo do transformador que foi menos danificado e, portanto, está sendo consertado para fornecer até 70% da carga necessária para atender o estado.
O fornecimento de 100% da energia só será retomado em 15 dias, quando um segundo transformador chegará ao estado. A segurança do sistema elétrico, porém, só estará estabelecida em 30 dias, quando um terceiro transformador for instalado.
APURAÇÃO
O senador Randolfe apresentou uma representação ao Ministério Público Federal e ao Ministério Público do Amapá para que sejam apuradas as causas da interrupção do fornecimento de energia e as condutas de agentes públicos diante da situação.
Segundo ele, a ação protocolada nesta sexta-feira, tem como objetivos:
1) Que os Governos municipais, estadual e federal garantam o abastecimento de água da população com carros pipas;
2) Seja garantido também o fornecimento de cestas básicas e medicamentos por parte dos Governos;
3) Instauração de inquérito por parte da Polícia Federal para investigar as responsabilidades da empresa ISOLUX, do Operador Nacional do Sistema e a provável omissão da Agência Nacional de Energia Elétrca-ANEEL;
4) Apurada as responsabilidades que os responsáveis sejam condenados a ressarcir os danos materiais e morais de cada amapaense que foi atingido pelo caos.
TERCEIRIZAÇÃO
O senador denunciou ainda a negligência da Isolux, empresa espanhola que é responsável pelos geradores de energia e não possui um plano de emergência no caso da falha dos geradores.
“Não tenho dúvida de que teve uma gravíssima negligência por parte da empresa espanhola, que é responsável pela estação, terceirizada das centrais elétricas do norte do Brasil, e houve uma grave omissão da agência nacional de energia elétrica, que deveria fiscalizar isso”, disse Randolfe.