O governo Bolsonaro anunciou apoio na terça-feira (10) ao programa dos EUA contra a China, o “Clean Network” (“rede limpa”), lançado por Donald Trump. Com isso o Brasil está aderindo à guerra tecnológica declarada por Trump contra a China.
O critério de “rede limpa” inventado pelo governo americano que, de forma ridícula, tenta criminalizar o Partido Comunista da China, é a forma, à la senador Joseph McCarthy, que a Casa Branca encontrou para proteger suas empresas arcaicas que perderam a corrida tecnológica
Querem impor um acordo no qual os países signatários se submetem a banir de suas redes de telecomunicações o sistema de quinta geração (5G) da Huawei e quaisquer outras tecnologias de origem chinesa, como aplicativos de celulares, por exemplo. Garantindo, assim, o monopólio dos dispositivos 5G e demais tecnologia dos EUA nestes países.
“O Brasil apoia os princípios contidos na proposta do Clean Network feita pelos Estados Unidos, inclusive na Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), destinados a promover no contexto do 5G e outras novas tecnologias um ambiente seguro, transparente e compatível com os valores democráticos e liberdades fundamentais”, declarou o embaixador do Brasil, Pedro Miguel da Costa e Silva, em cerimônia no Itamaraty, em que também esteve presente o secretário de Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado dos EUA, Keith Krach.
O projeto de Donald Trump contra as tecnologias de comunicação chinesa, e que tenta impor a outros países, tem cinco linhas de atuação:
“Operadoras limpas” – com o argumento de garantir “padrões de confiança digital” e “garantia da segurança nacional”, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, quer que as operadoras qualificadas como “não confiáveis” da República Popular da China sejam desconectadas das redes de telecomunicações dos EUA.
“Lojas limpas” – institui uma política de caça às bruxas aos aplicativos chineses. De acordo com o governo norte-americano, os aplicativos do governo chinês ameaçam a privacidade, proliferam vírus e espalham propaganda e desinformação para os estadunidenses.
“Aplicativos limpos” – busca bloquear nas lojas de aplicativos (como o Google Play, por exemplo) a possibilidade de que fabricantes de smartphones chineses “não confiáveis” pré-instalem – ou disponibilizem para download – suas tecnologias (como o App chinês TikTok).
“Nuvem limpa” – propõe ações que buscam evitar que as informações pessoais mais confidenciais dos cidadãos dos EUA e a propriedade intelectual de empresas americanas sejam armazenadas e processadas em sistemas baseados em nuvem acessíveis aos adversários estrangeiros por meio de empresas como Alibaba, Baidu e Tencent.
“Cabos Limpos” – tem como objetivo garantir que os cabos submarinos que conectam os EUA à Internet global não sejam subvertidos para coleta de inteligência pela China em hiperescala.
O leilão das frequências do 5G no Brasil está previsto para 2021. A questão de qual é a melhor tecnologia 5G para o interesse público nunca importou para Bolsonaro, que desde que chegou à presidência do País trabalha para atender aos interesses de Donald Trump.
“Nós sabemos o nosso lugar na geopolítica e sabemos que temos que priorizar a questão de segurança”, disse o ministro Paulo Guedes para a delegação norte-americana chefiada pelo conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Robert O’Brien, presente no evento de outubro.
Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, enviou a Bolsonaro um parecer definitivo do Itamaraty sobre o tema. Segundo a Folha S. Paulo, que teve acesso ao documento, Araújo recomendou o banimento completo da Huawei, sem apresentar qualquer prova contra o sistema 5G da empresa, como roubo de dados pelo próprio fabricante ou facilidade de ataques de hackers, por exemplo.
No documento ainda, Ernesto Araújo defendeu que o Brasil não sofreria nenhum tipo de sanção comercial porque a China possui como maiores fornecedores de matérias-primas e alimentos os EUA, o Brasil e a Austrália. Para Ernesto Araújo, se os três se juntassem em apoio a Donald Trump, os chineses não teriam saída e continuariam importando desses países.
No mês passado, Bolsonaro deixou claro o seu servilismo aos interesses do presidente norte-americano, ao assinar protocolos de intenções de Comércio e Cooperação Econômica (ATEC, na sigla em inglês) entre os dois países, no qual o governo brasileiro se subordinou a contrair empréstimos da agência de crédito oficial do governo dos EUA (banco EximBank), para financiar a importação de tecnologia e equipamento de comunicação norte-americano.
Um bom negócio para os EUA, que além de garantir um monopólio, ganharia no fornecimento de equipamentos 5G que são, em média, 30% mais caros, e também na agiotagem do financiamento desses mesmos equipamentos.
O subsecretário de Trump, Keith Krach, tentou se reunir com os representantes das teles no Brasil, convidando-os para uma reunião fechada para tratar de 5G, mas recebeu uma negativa por parte dos empresários, segundo o site Teletime. “As operadoras declinaram com três argumentos: haveria dificuldade de mobilização dos executivos por conta da pandemia; esse é um assunto que está sendo tratado entre as empresas e o governo brasileiro e em fóruns públicos; e as empresas têm obrigações de transparência”, diz a reportagem sobre a negativa ao convite.