Padilha e Moreira já estão arrolados
Odebrecht deu 10 milhões em troca de favores nos aeroportos privatizados ainda no governo Dilma
A procuradora geral da República, Raquel Dodge, requereu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que Temer seja incluído na investigação da propina de R$ 10 milhões, da Odebrecht para a cúpula do PMDB, em 2014.
Em uma entrevista radiofônica na quarta-feira, perguntado sobre o pedido da procuradora, Temer disse que “não vou tolerar que minha atuação seja ligada à corrupção. As denúncias são pífias”.
Por que será que Temer está cada vez mais parecido com Lula? Ou, se o leitor preferir, por que será que Lula está cada vez mais parecido com Temer? (A ordem dos corruptos não altera o roubo – nem o cinismo.)
Não existe nenhuma “atuação” de Temer que não seja “ligada” à corrupção. Para ser preciso, não existe nada na vida política de Temer que não seja corrupto. Todo mundo sabe disso, há muito. A quantidade de casos (JBS, Rodrimar, Odebrecht, etc., etc.) em que foi descoberta sua mão de gato, quer dizer, gatuno, é, até agora, uma pequena amostra.
Isso é de tal forma verdadeiro que, ao escrever (ou ler) sobre um caso específico – esse a que a procuradora geral aludiu agora, por exemplo – sempre fica a sensação de que se está omitindo muitos outros casos criminais de Temer. O que não deixa de ser verdade, mas seria preciso uma enciclopédia da roubalheira para falar de todos – e nós somos apenas um jornal.
No entanto, Temer acha que pode, assim como Lula, desrespeitar a inteligência das pessoas, com proclamações de honestidade…
ODEBRECHT
Em sua solicitação, a procuradora argumentou que o dispositivo constitucional que veda que o presidente da República, no exercício do cargo, seja responsabilizado por coisas que não aconteceram durante seu mandato, não impede que ele seja investigado.
Disse Raquel Dodge, “o Presidente pode ser investigado por atos estranhos ao exercício de suas funções, mas não poderá ser responsabilizado em ação penal enquanto durar seu mandato”.
No caso da propina da Odebrecht, no governo Dilma, Temer era vice-presidente da República.
“A investigação criminal deve ser o mais próxima possível do tempo da suposta prática criminosa, sob pena de perecimento das provas”, escreveu a procuradora. “Há inúmeros exemplos de situações indesejáveis que podem ser causadas pelo decurso do tempo, como o esquecimento dos fatos pelas testemunhas, o descarte de registros, a eliminação de filmagens, entre outros”.
A propina de R$ 10 milhões para Temer, Cunha, Padilha, Moreira Franco e outras figuras era um pagamento pela ação de Eliseu Padilha e Moreira Franco na Secretaria de Aviação Civil, onde, em conluio com Temer e Cunha, entregaram o aeroporto do Galeão a um “consórcio” formado por uma empresa de Singapura e pela Odebrecht.
Cláudio Melo Filho, diretor de relações institucionais da Odebrecht (ou seja, chefe do departamento de lobby), relatou ao Ministério Público Federal que “estive com Michel Temer em um jantar no Jaburu, oportunidade em que ele solicitou a Marcelo Odebrecht pagamento ao PMDB”.
Cláudio Melo Filho acrescenta que “o jantar ocorreu possivelmente no dia 28 de maio de 2014, para o qual fui no carro da empresa (Toyota Corolla cinza – Placas dos carros da empresa: JIZ 0228, PAZ 4158 e PAZ 4159), conduzido [pelo motorista] por Carlos Eduardo. Há chamada telefônica destinada ao celular de Eliseu Padilha, às 20h16min no dia de realização do jantar.
“Chegamos no Palácio do Jaburu e fomos recebidos por Eliseu Padilha. (…) ficamos conversando amenidades em uma sala à direita de quem entra na residência pela entrada principal. (…) Após a chegada de Michel Temer, sentamos na varanda em cadeiras de couro preto, com estrutura de alumínio.
“No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o Vice-Presidente da República como Presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10.000.000,00.
“Do total de R$ 10 milhões prometido por Marcelo Odebrecht em atendimento ao pedido de Michel Temer, Eliseu Padilha ficou responsável por receber e alocar R$ 4.000.000,00. Compreendi que os outros R$ 6.000.000,00, por decisão de Marcelo Odebrecht, seriam alocados para o Sr. Paulo Skaff.
“Na parte que me foi designada, pedi a José Filho [José Carvalho Filho: executivo da Odebrecht que atuava como auxiliar de Cláudio Melo Filho] que mantivesse contatos com Eliseu Padilha para alinhamento da forma de pagamento.
“Além disso, mantive contatos telefônicos com Eliseu Padilha para tratar do assunto.
“Segundo me foi informado por Eliseu Padilha, sei que parte do pagamento foi destinada ao ex-deputado Eduardo Cunha.
“Reforça este entendimento o fato de Eduardo Cunha, à época do repasse financeiro, ter telefonado diretamente a José Filho e, segundo este me relatou à época, reclamou, de forma rude, pois não havia confirmação do pagamento pela área de operações estruturadas [o departamento de propina da Odebrecht]. O valor aproximado foi de R$ 1,0 milhão.
“Após José Filho me relatar o ocorrido, transmiti a reclamação de Eduardo Cunha a Hilberto Silva [chefe da área de operações estruturadas da Odebrecht]. Da mesma forma, procurei Eduardo Cunha para acalmá-lo (…).
“Esses pagamentos foram realizados via Eliseu Padilha, preposto de Temer, sendo que um dos endereços de entrega foi o escritório de advocacia do Sr. José Yunes, hoje Assessor Especial da Presidência da República”.
José Yunes, posteriormente, revelou que o operador Lúcio Funaro entregou um pacote em seu escritório em São Paulo, a pedido de Eliseu Padilha. Funaro, depois de, inicialmente, negar a entrega, acabou por confirmá-la – e disse que Yunes sabia que no pacote estava R$ 1 milhão.
Marcelo Odebrecht, em seu depoimento ao ministro Herman Benjamin, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), confirmou o relato de Cláudio Melo Filho:
“… o Cláudio [Melo Filho] me veio com essa história de uma doação para o grupo do Temer – que o Temer teria que apoiar alguns candidatos, tá? – da ordem de dez milhões. (…) aí Cláudio marcou esse jantar, estavam eu, o Cláudio Melo, o Temer e Eliseu Padilha. (…) já no final do jantar, e aí eu, Cláudio e Padilha firmamos: “Oh, tá bom, então. Vai ser doado dez, conforme você já acertou com o Cláudio, Padilha; e, desses dez, seis milhões eu vou direcionar para a campanha do Paulo, que ele me pediu, e vocês ficam com quatro para direcionar para os candidatos que vocês quiserem” (v. vídeo).
CARLOS LOPES