
O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, homem negro espancado e morto por seguranças, um deles policial militar temporário, no estacionamento de um supermercado Carrefour, da zona norte Porto Alegre, na quinta-feira, 19, foi lamentada por autoridades e personalidades como mais um exemplo de violência racial que há no Brasil.
A candidata à Prefeitura de Porto Alegre Manuela D’Avila (PCdoB) se manifestou em sua conta no Twitter. “Estava no debate da Band e na saída soube do assassinato de um homem negro pela abordagem violenta dos seguranças do estacionamento do Carrefour. Sei que já há pedido de investigação sendo feito por parlamentares e pela bancada antirracista recém eleita. Mas as imagens dizem muito”, disse.
“O racismo que estrutura as relações de nossa sociedade precisa ser enfrentado de frente. As mulheres e homens brancos precisam assumir a sua responsabilidade na luta antirracista. Quantos Betos? Qual pessoa branca você viu ser vítima dessa violência?”, questionou Manuela.
O oponente de Manuela no segundo turno, Sebastião Melo (MDB), também repudiou o caso no início da madrugada desta sexta. “Acabo de saber da morte de um homem negro por seguranças do Carrefour da zona norte aqui de Porto Alegre. Um absurdo! As cenas são chocantes. Justamente no dia Nacional de luta contra o racismo. Medidas rigorosas devem ser tomadas imediatamente!”, escreveu Melo nas redes sociais.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), usou as redes para lamentar o episódio. “Hoje é o #DiadaConsciênciaNegra. Infelizmente, nesta data em que deveríamos celebrar políticas públicas e avanços na luta por igualdade racial, deparamos com cenas que nos deixam indignados pelo excesso de violência que levou à morte de um cidadão negro. Todas as circunstâncias em que este crime ocorreu estão sendo apuradas, e os envolvidos foram detidos. Aos familiares e amigos da vítima, o João Freitas, toda nossa solidariedade e a certeza de que a investigação será rigorosa para que haja consequência deste ato lamentável”, afirmou.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes chamou o caso de “um bárbaro homicídio”. “Escancara a obrigação de sermos implacáveis no combate ao racismo estrutural, uma das piores chagas da sociedade. Minha solidariedade à família de João Alberto.”
O também ministro do STF Gilmar Mendes também se manifestou. “O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbarie está longe de acabar. Racismo é crime!”
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) apresentou denúncia no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) contra o Carrefour, em razão da morte de João Alberto Silveira Freitas.
“Não é por acaso que, no Dia da Consciência Negra, o Brasil se choque com o assassinato brutal de uma pessoa negra, realidade cruel que reflete uma sociedade racista e um Estado que, omisso, estimula a barbárie” afirmou Contarato.
O conselho deve abrir procedimento para apurar o caso. O senador também protocolou um voto de repúdio ao Carrefour no Senado Federal.
A Ordem dos Advogados do Rio Grande do Sul (OAB/RS) relatou que a Comissão de Direitos Humanos irá acompanhar os desdobramentos do crime. “A Comissão da Igualdade Racial também estará acompanhado a evolução das investigações do lamentável episódio. A missão institucional da OAB/RS é assegurar a transparência das investigações e acompanhar as apurações e circunstâncias com a devida responsabilização dos envolvidos”, declarou o órgão.
O Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre (Sindec-POA) lamentou que mais uma vida negra tenha sido ceifada pela violência. “Manifestamos nosso apoio à família da vítima, senhor João Alberto Silveira Freitas, e reforçamos o compromisso do Sindec-POA em manter sua atuação, prezando sempre pela vida, pela segurança e pela dignidade de todos os atores que envolvem as relações nos locais de trabalho”.
A sambista Teresa Cristina questionou: “Como acordar num país e falar do dia da Consciência Negra sabendo que mais um negro foi espancado até a morte em um supermercado? Assassinos!!! Quantos mais terão que morrer, Carrefour?”.
“Queria poder dizer que é uma grande ironia um preto ser espancado até a morte bem às vésperas do dia da consciência negra, mas não. Até quando vamos ter que lutar pra sobreviver como se não fosse um direito, apesar de todos os nossos deveres? Não há o que celebrar”, postou a cantora Ludmilla.
O caso também ganhou repercussão internacional, em que foi destacado ter ocorrido na véspera do Dia da Consciência Negra.
O jornal Washington Post publicou uma notícia da agência Associated Press, com o título “Morte na véspera do Dia da Consciência Negra no Brasil desperta indignação”. A notícia também repercutiu em outros veículos internacionais, como o portal ABC News, Yahoo! UK e outros.
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