IGP-M usado no reajuste ficou bem acima da inflação oficial de 3,14% medida pelo IPCA
Em um momento de desemprego em massa e redução de salários, a variação em disparada do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) – usado como referência para contratos de aluguéis – virou pauta de cobrança para que o setor público regule oficialmente o reajuste.
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que faz o cálculo do índice, de janeiro a novembro a “inflação do aluguel” chegou a 21,97% de aumento, enquanto, em 12 meses, a variação acumulada é de 24,52%.
Segundo a FGV, usar o IGP-M com referência para reajustes é uma mera convenção – já que o índice oficial de inflação do país é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e acumula alta de 4,22% nos últimos 12 meses, muito abaixo do IGP-M.
A composição dos índices explica a diferença: enquanto o IGP-M é calculado com base nos preços de produtos de referência para o mercado e sofre influência da oscilação do dólar, o IPCA é calculado com base na cesta do consumidor.
O IGP-M é composto por uma média dos Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Com isso, considera a variação de preços de bens de produção, como matérias-primas, commodities, materiais de construção, entre outros.
“Toda vez que o dólar varia frente ao real, o IPA, que representa 60% do IGP-M, capta o impacto das variações. Ele mede os preços de produtos agropecuários e industriais, como as commodities, que são sensíveis à variação cambial. Então, se o preço do trigo ou minério de ferro sobe, influenciado pela alta do dólar, a tendência é o IGP-M acompanhar a alta”, explica André Braz, economista e coordenador dos índices de preços da FGV/IBRE.
“O IGP-M não foi criado com o objetivo de parametrizar os contratos de aluguel, mas, sim, para passar uma visão geral sobre o ambiente econômico, baseando-se nos setores de maior peso no PIB”, completa o economista.
Por mais que negociações entre inquilinos e proprietários durante a pandemia tenham garantido acordos de reajustes mais razoáveis que o IGP-M – como relata a FGV e algumas associações de comerciantes, cresce a necessidade de que exista uma regulação sobre os índices de reajuste que leve em consideração as condições de vida da população.
“Nesse momento, está muito difícil para a maioria dos inquilinos pagar um reajuste dessa magnitude, porque os salários não estão sendo reajustados pelo IGP”, aponta Braz. “Muitas famílias foram surpreendidas pelo desemprego e estão com sua capacidade de pagamento reduzida”.