A economia brasileira apresentou alta de 7,7% no terceiro trimestre de 2020, na comparação com o trimestre anterior, quando o Produto Interno Bruto (PIB) desabou 9,7%, divulgou nesta quinta-feira (3) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado do PIB, que é a soma de todas as riquezas produzidas no País, no terceiro trimestre não foi suficiente para recuperar as perdas do primeiro semestre provocada pela pandemia da Covid-19, numa situação em que a economia já vinha estagnada. Na comparação com igual período de 2019, o PIB registrou queda de 3,9%, e no acumulado do ano até o terceiro trimestre de 2020, o PIB caiu 5,0% em relação a igual período de 2019, frustrando as expectativas do ministro da Economia, Paulo Guedes, que paulatinamente tem afirmado que a economia está se recuperando em “V” (rapidamente).
“Não foi suficiente para recuperar as perdas do segundo trimestre, o que mostra fraqueza latente da economia brasileira, mesmo com todo o impulso fiscal, via basicamente auxílio emergencial e outras medidas de proteção do emprego. O cenário que se desenha é de uma economia que deve fechar o ano de 2020 com uma queda de pelo menos 5% do PIB”, declarou o economista José Luis Oreiro.
Para o economista José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o “resultado veio abaixo do esperado”. “A mediana das projeções indicava um aumento do PIB no 3º trimestre próximos dos 9% e veio abaixo de 8%. Isto não foi suficiente para recuperar as perdas do segundo trimestre, o que mostra fraqueza latente da economia brasileira, mesmo com todo o impulso fiscal, via basicamente auxílio emergencial e outras medidas de proteção do emprego. O cenário que se desenha é de uma economia que deve fechar o ano de 2020 com uma queda de pelo menos 5% do PIB”, disse o economista a Hora do Povo.
O resultado do terceiro trimestre deste ano veio alto por conta da base de comparação muito baixa, aponta o IBGE, que destaca que o crescimento visto no terceiro trimestre está 4,1% abaixo do pico verificado no quarto trimestre de 2019, antes dos impactos da pandemia, e 7,3% distante do pico da série, no primeiro trimestre de 2014.
“Crescemos sobre uma base muito baixa, quando estávamos no auge da pandemia, o segundo trimestre. Houve uma recuperação no terceiro, contra o segundo trimestre, mas se olharmos a taxa interanual, a queda é de 3,9% e no acumulado do ano ainda estamos caindo, tanto a Indústria quanto os Serviços. A Agropecuária é a única que está crescendo no ano, muito puxada pela soja, que é a nossa maior lavoura”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Como consequência da flexibilização de medidas de distanciamento social e estímulos econômicos de combate à pandemia, que foram aprovados pelo Congresso Nacional e executadas pelo governo, de forma lerda, a Indústria cresceu 14,8% e os Serviços subiram 6,3%, no terceiro trimestre. Neste período, Agropecuária caiu 0,5%. No entanto, se observado os números do acumulado deste ano, a Agropecuária cresceu 2,4%, enquanto a Indústria recuou 5,1 e os Serviços tiveram queda de 5,3%.
A despesa de consumo das famílias apresentou alta de 7,6% no terceiro trimestre frente ao trimestre imediatamente anterior, no entanto, quando se compara com o mesmo período de 2019, constata-se que o consumo das famílias caiu pelo terceiro trimestre seguido, recuo de 6,0%, apontou o IBGE.
A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2020 foi de 16,2% do PIB contra 16,3% no mesmo período do ano anterior. De abril a junho, os investimentos tiveram um tombo de 16,5%. No acumulado do ano, o indicador recuou em 5,5%.
Na avaliação de diversos economista e representantes da indústria, o investimento público tem que ser retomado com força para a economia voltar a crescer. Nesta semana, a Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib) comentou que “a contração do investimento público continua sendo um dos maiores entraves para a recuperação do país” e que “não dá para o setor privado resolver sozinho” os gargalos da infraestrutura no País , principalmente nos setores de transportes, logística e saneamento, e a entidade sugeriu ainda que “serão necessários ao menos R$ 284,4 bilhões de investimentos por ano (4,3% do PIB), nos próximos dez anos”. “Por aqui, o setor público continua com papel preponderante em modais de transporte, mobilidade urbana e saneamento básico”, destacou a Abdib.
No entanto, o governo Bolsonaro tem a posição de que o Estado não tem importância na economia. Para o ministro Paulo Guedes, que inventou até um tal de PIB privado para tirar qualquer responsabilidade do papel do Estado sobre o desenvolvimento econômico do país, o Estado é o meio de transferir as riquezas do povo para seus parceiros do mercado financeiro e demais especuladores estrangeiros, através da sua agenda econômica de cortes de gastos públicos, arrocho salarial, desnacionalização da indústria e privatizações de estatais.
ANTONIO ROSA