Michel Temer é o presidente mais rejeitado do planeta, diz o grupo Eurasia, especializado em análise de risco para investidores. Perde para Nicolás Maduro e para o presidente da África do Sul, que recentemente renunciou ao cargo. Isso não impediu, porém, que em entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Lula atribua a Temer a designação de “corajoso” e de “vítima de golpe”.
A entrevista de Lula é uma demonstração da esquizofrenia que caracteriza a cabeça de nossos “líderes” políticos. De todas as respostas dadas, a que mais surpreende é exatamente a afirmação de que Temer, tendo sofrido uma tentativa de golpe, “resolveu enfrentar” e “desmascarou” o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e o empresário Joesley Batista. Como num passe de mágica, de golpista, Temer virou vítima de golpe. E, ao que tudo indica, era/é inocente, tendo sido apenas vítima de falácias!
As declarações do ex-presidente são um aceno aos que, como ele e seu partido, estão acuados por denúncias e condenações. Querendo romper o isolamento e trazer para sua defesa, além de Renan Calheiros, todos os que se veem envolvidos nas malhas da Lava Jato, Lula voltou a atacar a Operação – que, para ele, está a serviço dos Estados Unidos (sic).
Encalacrados até o último fio de cabelo, políticos de todos os matizes, cada qual a seu modo, buscam tábuas de salvação. Os roubos e as propinas reveladas pela Lava Jato não são problema. Problema é a Operação em si mesma, responsável por desnudar os métodos torpes de financiamento eleitoral e de assalto aos cofres públicos que caracterizam o sistema político-eleitoral corrompido.
A lei da colaboração premiada e a lei da ficha limpa, ambas aprovadas nos governos do PT (em 2013 e 2010, respectivamente), passam a ser consideradas indesejáveis. A pompa e a circunstância que caracterizaram a aprovação dessas leis foram substituídas hipocritamente por discursos que vão desde críticas veladas até a defesa de sua pura e simples revogação. Como se vê, a degeneração política e moral de uns e de outros responde pela cumplicidade dos métodos e dos discursos.
*Diretor da Faculdade de Direito da UnB