
Faleceu na manhã desta sexta-feira (11), o sambista Ubirany Félix Do Nascimento. Um dos fundadores e líderes do Grupo Fundo de Quintal, ele é mais uma vítima da Covid-19 no nosso país.
Ubirany estava internado há mais de uma semana em uma clínica no Rio de Janeiro.
Aos 80 anos, Ubirany é tido como uma das maiores referências do samba brasileiro. Além de cantor e compositor, é um grande instrumentista, responsável pela criação do repique de mão, que foi adaptado do repinique das baterias de escola de samba e levado por Ubirany para as rodas de samba cariocas.
A assessoria do Grupo Fundo de Quintal confirmou o falecimento e divulgou uma nota oficial em suas redes sociais.
“O sambista estava internado no hospital por complicações decorrentes de sua contaminação por Covid-19. A assessoria informará, posteriormente, questões sobre velório e sepultamento do sambista. Pedimos respeito ao luto de amigos e familiares, que se manifestarão em momento oportuno e espontâneo”, diz a nota.
Ubirany ajudou a formar o Fundo de Quintal juntamente com Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Almir Guineto, Sereno e Bira Presidente, no começo da década de 1980, sob as bênçãos da madrinha do samba Beth Carvalho.
“Ubirany, o maior dos maiores. Inventor do repique de mão, peça fundamental em qualquer roda de samba. Um verdadeiro gentleman. Sempre sorridente, educado, doce, simpático com todos que cruzavam seu caminho. Esse vírus terrível leva embora um pedaço do subúrbio carioca. Que tristeza!”, escreveu a cantora Teresa Cristina em suas redes sociais.
“Vamos nos lembrar dele assim: sorrindo. Um dos nomes mais importantes da história do samba, Ubirany nos deixou hoje, mais uma vítima dessa horrível pandemia da Covid19. Nossos sentimentos mais profundos para o @grupofundodequintal, seus amigos, familiares e a toda a comunidade do samba que hoje está em luto”, lamentou o sambista Zeca Pagodinho.
Repique de mão
Em entrevista ao portal Samba em Rede, em 2016, Ubirany falou sobre a criação do repique de mão:
“O repique de mão surgiu a partir de uma brincadeira na casa do Sereno [também integrante do Fundo de Quintal]; nossas famílias eram muitas festivas e sempre rolava um samba. Nessa ocasião, eu estava tocando num balde – porque a gente tocava em qualquer coisa: queríamos era fazer um som mesmo. O irmão do Sereno, Edson, que era baterista, pegou um tom-tom da bateria e me deu para batucar com mão. Eu gostei e todo mundo adorou, tanto que o Edson me deu aquele instrumento e eu andava com ele por aí, levava em todo pagode. Certa vez, cheguei numa festa sem o tom-tom e me deram um repinique de escola de samba. Quando comecei a tocar, senti que ele era mais leve, mas precisava ser aprimorado. Foi um processo lento, peguei um repinique do Cacique de Ramos e tirei a pele de um dos lados para que o som não ficasse preso ou abafado. Aí surgiu a questão de machucar a mão no aro do instrumento, que resolvi rebaixar. Ainda sentia o som sem nitidez, com sobras, então passamos a colocar aquelas travas de madeira que não são nada mais do que abafadores, que ajudam a produzir um som mais limpo. Assim foi criado esse instrumento que está aí até hoje, sem que eu tivesse pensado em qualquer tipo de patente. A maior gratificação mesmo é ver todo mundo curtindo”.
“O repique de mão é um instrumento para se tocar levemente, com os dedos. Quando me contam que batem no repique, eu retruco: não bata que ele não merece! Toco da maneira que criei desde o início dos anos 1970 e não tenho um calo na mão. O segredo da repicada é a ponta do dedo”.